A responsabilidade cabe ao imperialismo e prioritariamente ao sistema de poder dos Estados Unidos, a potência que o hegemoniza, aspirando à dominação planetária.
O foco da crise localiza-se hoje na Ucrânia.
Partidos e organizações neofascistas instalaram-se no poder em Kiev com o apoio e o aplauso de Washington e da maioria dos governos da União Europeia. Após os acontecimento da Crimeia, a campanha contra a Rússia intensificou-se, assumindo uma amplitude extraordinária. Sucessivos pacotes de sanções, aprovados pelo presidente Obama e pelos seus aliados europeus, atingiram aquele país, acusado de crimes que não cometeu e de mirabolantes projetos agressivos. São, aliás sanções inéditas que visam personalidades e empresas, tão absurdas que Putin as qualificou de «repugnantes».
Na ofensiva em curso, Obama e aliados repetem diariamente que é preciso «travar a Rússia» porque ela se prepara para invadir a Ucrânia e anexar as suas províncias do Leste, maioritariamente russófonas, que exigem uma maior autonomia. Mas não apresentam provas dessas supostas intenções.
Um gigantesco coro desinformativo, montado pelos grandes media internacionais, funciona como complemento da campanha anti russa. Cadeias de televisão, jornais e rádios do Ocidente fazem a apologia dos «governantes democratas de Kiev» e apresentam como bandoleiros e terroristas os grupos armados que não lhe reconhecem legitimidade.
Cabe lembrar que o Parlamento de Kiev exibe com despudor a sua simpatria pelo fascismo, debatendo um projeto que suprime o feriado do 9 de Maio, comemorativo do «Dia da Vitória» que assinalou o final da II Guerra Mundial após a tomada de Berlim pelo Exército Vermelho.
Neste contexto explosivo, a NATO reforçou já o seu dispositivo militar na Polónia e enviou para ali aviões de combate.
O atentado contra o presidente da Câmara Municipal de Kharkov, favorável à autonomia das províncias russofonas, inseriu-se na serie de ações terroristas promovidas por bandos de arruaceiros, armados e financiados por organizações ocidentais.
Michel Chossudovsky (odiario.info,22.04.14) revelou pormenores chocantes da intervenção militar indireta dos EUA no sudeste ucraniano. Segundo ele, uns 150 mercenários norte-americanos da empresa dita de «segurança» Greystone LTDA, com sede em Barbados, semeiam a violência no território, com o objetivo de semear o caos. Sergei Lavrov,o ministro dos Estrangeiros da Rússia, confirmou a informação.
Os governos da Polónia e das repúblicas bálticas lançam achas na fogueira, empenhados em empurrar os EUA para um choque frontal com a Rússia.
Não é de estranhar que a extrema-direita europeia acompanhe com entusiasmo o agravamento da crise. Segundo as ultimas sondagens, os partidos neofascistas da França, da Inglaterra, da Holanda, da Áustria, da Suécia, da Itália e da Bélgica serão beneficiados nas próximas eleições para o Parlamento Europeu pela atmosfera de violência que envolve a crise ucraniana. O secretário-geral cessante da NATO, cão de guarda do imperialismo, aprofundou o seu discurso bélico.
Nunca desde 1962, repito, o perigo de uma guerra, que seria uma tragédia para a Humanidade, foi tão real.
A angústia das populações russófonas do sudeste ucraniano é compreensível. Mas os seus apelos à solidariedade da Rússia não ajudam a resolver a crise. Pelo contrário.
Não creio também que seja positivo o alarmismo de prestigiados intelectuais anti-imperialistas - James Petras e Paul Craig são dois exemplos - que admitem já a iminência de uma terceira guerra mundial, com recurso eventual a armas nucleares.
Do imperialismo norte-americano pode-se sempre esperar o pior. O desenvolvimento e o desfecho da explosiva situação criada na Ucrânia são imprevisíveis. Mas a força mais poderosa capaz de impedir uma guerra apocalíptica é a luta dos povos em defesa da Paz.
Somente milhões de homens e mulheres tomando as ruas em dezenas de países para condenar a guerra podem contribuir decisivamente para conter a loucura imperialista.
Tomar consciência dessa realidade é muito difícil. Esbarra com tremendos obstáculos. Mas é uma exigência de defesa da Humanidade.
Vila Nova de Gaia, 1 de Maio de 2014.