Há inclusso umha comissom formada na sua cidade natal de Ferrol, para reclamar que a Real Cademia Galega lhe dedique um Dia das Letras. Evidentemente, é complicado pensar que aquela instituçom da que Carvalho fixo parte e que depois abandonou por discrepáncias de raíz (a viragem de 83) acorde render-lhe homenagem a quem é máximo referente para a que poderiamos qualificar de “rama maldita” dentro do movimento defesor da língua na Galiza: o reintegracionismo, também chamado por algumhas vozes “lusismo”, aquele que defende umha grafia que nos achega ao português-padrom partindo da base de que a nossa língua é o galego-português, e que portanto ainda respeitando particularidades morfológicas, morfosintácticas e demais, o coerente é confluír com o português.
É o caminho diametralmente oposto ao que a Real Academia Galega decideu seguir. Assim que abordar umha rehabilitaçom do Carvalho Calero desde a RAG, nom é fácil toda vez que isso implicaria fazer exercício de umha cousa da que a RAG carece: auto-crítica. Porque de Carvalho Calero, ou assomimos tudo, ou caimos na esquizofrenia. Carvalho Calero é o referente máximo do reintegracionismo, era um nacionalista galego convencido, pertencia à assa esquerda do Partido Galeguista (e isto nom o elucubro eu, dizia-o ele) nunca pactuou com o regime franquista e isto custou-lhe marginalizaçom e perseguiçom...e isso todo, nom casa com enxebrismos e culturalismos contemplativos, nem casa com discursos conciliadores ou relativistas. Parecia-nos impossível que com Xosé Luis Méndez Ferrín na presidência da RAG se puidesse dar um reconhecimento por parte da entidade a Carvalho Calero, e agora com Alonso Montero parece que a provabilidade se conta sob zero.
Carvalho Calero nom é umha cabeça inerte no jardím das estátuas. A conta pendente com Carvalho Calero nom se salda trasladando os seus restos mortais ao Panteom de Galegos Ilustres, e certo é que também nom se saldaria simplesmente dedicando-lhe um Dia das Letras. Pode que as “forças vivas” ferrolanas achem que o expediente se cobre com um monumento ou um título honorífico póstumo, por exemplo o de filho predileto da cidade. Nom é umha questom de honores, aquí do que se trata é de restituir-lhe a credibilidade ao seu pensamento, à sua obra, ao seu legado inteletual. Que nom nos furtem o direito a saber quem era, quais eram as suas diferenças com o mundo da cultura oficial, quê opinava da língua, da naçom, da política...ou que poidamos disfrutar da sua vertente artística, lendo Vieiros, ou Scórpio, ou O auto do prisioneiro.
Nom, Carvalho Calero nom é umha cabeça inerte no jardím das estátuas, Carvalho Calero está vivo nos seus estudos críticos sobre a correspondência de Castelao, nos seus tremendos poemas sobre a guerra Civil Espanhola ou nos seus artigos pondo em causa a legislaçom em matéria de língua desenvolvida na CAG (e quanta vigência tenhem esses textos, que surpreendentemente ou nom tanto, os seus vaticínios comprovamos hoje como se estám a cumprir) Há que dialogar com Carvalho Calero, falta-nos esse diálogo. A quantia de respostas a tantos interrogantes comuns a qualquer pessoa comprometida com a língua, nom deixa de surpreender. Falemos com o Carvalho...
E Carvalho Calero vive também na iniciativa d@s companheir@s da Fundaçom Artábria e outros centros sociais da Galiza, a verdadeira chama mantenhem-na eles e elas, eles e elas som @s que de verdade lhe vam devolver ao Ricardo Carvalho Calero a sua condiçom de voz inteletual notável ao serviço do povo e a naçom galega. Enquanto se avança nesta tarefa, os seus versos sonam entre acordes de Labazada, Malvares Moscoso, Avante! e outr@s artistas galeg@s.
Eu, naturalmente, com ou sem Dia das Letras dedicado ao Carvalho, continuarei estudando-o para reivindicá-lo com maior coerência e conhecimento de causa, como umha tarefa parte da minha luita para que o galego nom seja “umha língua para objetores de consciência” como ele denunciava, e ara que se entenda de umha vez por todas que o galego “ou é galego-português ou é galego-castelhano; nom há termo meio”, também em palavras de Dom Ricardo.