Assim, crescimento econômico, por esse prisma, é visto como o aumento da quantidade dos bens de produção. Grosso modo, é a expansão da base física da atividade produtiva, ou seja, disponibilizar mais mercadorias nas prateleiras para que o deus-mercado as absorva e “repasse-as” aos consumidores vorazes.
O que não se pode perder de vista é que o crescimento econômico só faz sentido se conseguir promover desenvolvimento social e humano, sem agressão ambiental. Por razões óbvias e conhecidas de finitude dos recursos naturais, esse propagado crescimento tem limites, embora a economia tradicional nem sempre aceite de bom grado esse apanágio.
Já o desenvolvimento econômico se refere ao acesso às chamadas possibilidades criativas, proporcionando diversas oportunidades que se abrem aos indivíduos, permitindo, com isso, que se coadunem no imperativo das condições que levam à melhoria do padrão de vida pessoal, até mesmo porque o desenvolvimento econômico se refere às pessoas, e não aos objetos e as mercadorias.
Desenvolvimento econômico implica, ademais, mudanças estruturais, culturais e institucionais, e visa indubitavelmente proporcionar bem-estar (mais qualidade). Assim, o desenvolvimento social e humano tem o crescimento econômico como meio, e a melhoria do padrão médio de vida das pessoas como fim.
Desenvolver uma economia, nesse sentido, consiste em criar e possibilitar mais qualidade às pessoas. Qualidade é sinônimo de bem-estar, de melhoria substancial. Dito de outra forma, enquanto crescimento está associado à quantidade, o desenvolvimento se associa à qualidade.
Como todo e qualquer sistema vivo que habita a natureza, o crescimento (espécie de “ser vivo” do sistema econômico) é uma condição que, mais cedo ou mais tarde tende a acontecer.
Contudo, todo e qualquer crescimento tem um determinado ponto em que precisa parar uma vez que a expansão infinita – impossível de ser alcançada - não encontra base de apoio dentro de uma biosfera finita. Por isso, o crescimento tem limites, mas, o desenvolvimento, não.
Essa é a razão precípua que deve ser enfrentada com seriedade por governos que organizam políticas econômicas que somente estimulam o crescimento, e quase sempre não conferem maior atenção ao desenvolvimento.
Um dos motivos que leva a essa distorção de finalidades reside no fato de se enxergar nas taxas de crescimento as justificativas mais plausíveis para se atenuar, por exemplo, os vexatórios índices de miséria e pobreza que marcam algumas sociedades contemporâneas. Esse é um dos equívocos ainda muito em voga nas economias modernas.
O crescimento da economia, per si, não elimina automaticamente as taxas de pobreza. Não é fazendo com que a economia cresça, gerando mais produtos/mercadorias, que se conseguirá colocar – automaticamente - um ponto final nas taxas de pobreza e miséria. Se assim fosse, o desempenho econômico alcançado pelo Brasil nos últimos 100 anos, quando o PIB de nossa economia cresceu em mais de 150%, teria sido um dos mais ilustrativos exemplos de crescimento econômico capaz de erradicar pobreza.
É fato que a economia cresceu, mas não eliminou as diferenças sociais em proporção semelhante. Caso semelhante ocorreu com a economia mundial que nos últimos 210 anos cresceu mais de 50 vezes, mas não foi capaz de chegar ao século XXI eliminando a fome de quase 1 bilhão de pessoas.
É pior ainda quando se verifica que todo esse crescimento econômico mundial ao longo do tempo mencionado se deu mediante intensa destruição e pauperização do meio ambiente. Definitivamente, quem degradou – e continua degradando - a qualidade de vida do planeta foi (e continua sendo) esse sistema econômico praticado sem limites pelas economias modernas (?) que busca expandir a qualquer custo a base produtiva.
Em decorrência de uma atividade econômica expansionista, coube ao homem-econômico destratar o meio ambiente em três grandes frentes: 1) no papel de usufruidor de recursos naturais; 2) na condição de consumidor voraz de bens e serviços e; 3) como potencial “produtor” de dejetos em forma de lixo.
Esse homo sapiens industrial, usando a expressão de Paula Brugger, soube como ninguém interferir nos planos da natureza. Nas palavras de Brugger: "A Terra tem 4,6 bilhões de anos. Durante as últimas frações de segundo geológico da história do nosso planeta, o homo sapiens industrial interferiu em ciclos naturais que levaram de milhões a bilhões de anos interagindo dinamicamente para formar as atuais condições de vida que conhecemos e às quais nos adaptamos. Tais intervenções antrópicas têm se traduzido frequentemente em problemas como extinção de espécies, mudanças climáticas, poluição, exaustão de recursos úteis ao homem e outras questões que nos são hoje bastante familiares."