Chamou a minha atençom esta palavra desconhecida, e aginha peguei no dicionário. Resultou que despautério, que tem a sua origem no antropónimo de um flamengo, autor de umha gramática latina muito difundida na Europa renascentista, hoje significa -para a desgraça da sua alma- grande disparate ou tolice.
A seguir, pesquisei no dicionário de espanhol. Nom vinha. Logo deduzim, como hábil xamám, que no correspondente galego nom haveria referência algumha ao doido gramático.
Ora bem, ponhamos por caso que em vez de despautério, a palavra consultada tivesse sido trivial. Esta estaria registada tanto no dicionário de português como no de espanhol e, portanto, graças às nossas habilidades proféticas, no de galego.
Mas a pergunta que temos de nos fazer é: porque trivial é considerada umha forma legítima galega e despautério é deitado no caixote de lixo do lusismo?
Vaiamos por partes. Trivial é um eruditismo comum ao espanhol e ao português. As falas galegas, como é bem sabido, careciam de um registo culto e, portanto, trivial era umha palavra totalmente alheia a elas.
Despautério, cultismo português, inexistente no espanhol, também é, como eruditismo, alheio ao galego popular.
Entom, qual é a razom de que trivial passe a engrossar a listagem de léxico galego e nom despautério? E, ainda acrescentaria com atrevimento, porque nengum sisudo académico pensou neste eruditismo para enobrecer o padrom do galego? Nom seria mais lógico que os cultismos de que careciam as falas galegas fossem procurados no registo culto português em troca de ter de pagar a alfándega castelhana? Nom se supom que o galego fai parte do “diassistema lingüístico galego-português”? A resposta é clara. Foi formulada polo professor Carvalho Caeiro (nom Calero) há já bastantes anos: O galego ou é galego-português ou é galego-castelhano, nom há outra alternativa. Isto sim, nom é um trivial despautério mas umha inteligente conclusom reflectida com demora.