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Laerte Braga

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Livre expressão

Os cárceres do Maranhão

Laerte Braga - Publicado: Sexta, 10 Janeiro 2014 00:50

O caráter de república federativa do Brasil é anêmico. O constituinte de 1988 produziu uma Constituição em que a ordem natural das coisas está alterada.


Primeiro o telhado, depois as bases e as paredes da casa democrática. O que temos é um arremedo de democracia. O reencontro com esse significado de democracia e seus significantes passa por uma nova assembleia nacional constituinte, que rompa todos os laços com o regime militar que vigorou de 1964, ano do golpe que derrubou João Goulart (presidente legítimo) até 1984, ano da eleição de Tancredo Neves para a presidência.

O processo de redemocratização começou torto com a morte de Tancredo e a ascensão de José Sarney, um dos expoentes civis da ditadura. De lá para cá viemos aos trambolhões passando por Collor e Fernando Henrique, até chegarmos a Lula e a despeito dos erros e equívocos, inegáveis avanços sociais, mas nenhum deles a mexer com as estruturas carcomidas do regime militar e do capitalismo na sua versão neoliberal.

Dilma é um interregno entre o que foi e o que será. Por pior que seja e bota pior nisso, vai ser sempre menos ruim, logo, melhor que qualquer alternativa dentre os chamados grandes.

Os cárceres do Maranhão, capitania hereditária do ex-presidente José Sarney e sua família, governado por Roseana Sarney (filha), estão reeditando as formas primitivas do mundo do crime organizado. O fora da chamada lei, do chamado institucional.

Os palácios do crime organizado e institucionalizado, o crime legal, por mais estranho e paradoxal que possa parecer, estão sendo abastecidos de lagostas frescas, camarões, carne bovina de primeira qualidade e um refrigerante chamado Jesus. A governadora voltou "levemente gripada" das férias na Bahia e está em repouso.

Em qualquer estado da farsa chamada Federação o sistema carcerário está falido, é cruel e perverso, fábrica de criminosos, controlados por facções do crime organizado, muitas delas aliadas a políticos como em São Paulo, o PCC – Primeiro Comando da Capital – e o governador Geraldo Alckmin (OPUS DEI e crime legal).

É consequência do telhado torto, por onde se infiltram goteiras totalitárias e onde se exibe sem pudor a corrupção diversa daquela que conhecemos, ou além dela, em Miami, por exemplo, na falência do modelo e no pântano em que se meteram Executivo, Legislativo e Judiciário. Desde uma copa do mundo que segundo Pelé (um desastre quando abre a boca), "o turismo vai resgatar o dinheiro da corrupção", aos fios de cabelo implantados no senador Renan Calheiros, até Joaquim Barbosa, o descalabro que preside a chamada corte suprema.

Manifestações de rua são financiadas por forças de direita na tentativa de acuar o governo menos ruim, logo melhor, na esperança de vitória eleitoral. Ilusão. A organização popular no Brasil, a exceção do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – e de alguns dos pequenos partidos, se reconstrói a duras penas e exígua percepção do sentido de ser ou não rês que se nos oferece nesse momento, o da sobrevivência.

O sujeito dos cárceres do Maranhão pega a cabeça de um preso executado nas disputas internas e exibe num filme precário feito por um celular. O sujeito dos palácios se horroriza com receio que a "turba" possa chegar às terras ilegais do latifúndio, ou coma as lagostas e os camarões sem perceber que devem ser acompanhados de vinhos específicos e de boa qualidade.

Marcelo Caetano, primeiro-ministro português, herdeiro de Salazar, ao sair do palácio do governo e dirigindo-se a um general – "assuma, antes que a turba chegue até aqui". Asilou-se no Brasil onde permaneceu até sua morte.

Os cárceres do Maranhão são os cárceres do Brasil. Presos políticos no que chamam democracia.

Nisso tudo um grande abraço da mídia podre e venal, seja na percepção simples da mentira, da farsa, ou dos documentos revelados por Edward Snowden sobre a espionagem dos norte-americanos a seus próprios cidadãos e cidadãos de um mundo que consideram propriedade privada, extensão do Texas.

No Maranhão Roseana não sabe bem o que fazer. Vai esperar as decisões do pai. A "ordem" será restabelecida com o chicote de uma força policial estúpida e precária, corrupta, mas cães fiéis a seus donos, os criminosos dos palácios.

É só a ponta do iceberg de um País que não percebeu ainda que o abismo não está no mercado, nem nas palavras tontas e bem remuneradas de Míriam Leitão, nos desejos transformados em vaticínios que não acontecem, ou nas tentativas desesperadas de um Waack, o preferido de Hilary Clinton.

E nem no espetáculo do JORNAL NACIONAL, ou do FANTÁSTICO.

Mas na pobreza do BBB – Big Brother Brasil – a cafetinagem da maior rede de tevê do País e sonegadora contumaz.

Não é a "economia estúpido", como disse Clinton no debate com Bush pai, mas é o modelo, o sistema, o regime, tudo sob o manto da Nike e da águia devoradora de fígados, o capitalismo. Pouco importa que seja a Adidas, ou outra qualquer.

Cada fio de cabelo do senador Renan Calheiros, implantado no modelo beleza da sociedade do espetáculo, custa um salário mínimo.

A honestidade está trancada na vontade odiosa de Joaquim Barbosa, condenada a multa do que não tem e nem pelo que tenha feito (ao contrário)

Ou resistimos e resistir é virar a mesa com as forças populares, ou breve uniformes a moda de 1984 de George Orwell.

Como disse Pedrinho, o verdadeiro, "nosso Visconde de Sabugosa deu um nó nos cientistas e sábios americanos".


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