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Marcus Eduardo de Oliveira

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Economia Social e Humana

A capacidade de reposição da Terra

Marcus Eduardo de Oliveira - Publicado: Quinta, 19 Dezembro 2013 10:31

Não estamos meramente na Terra; antes disso, somos a Terra. Não ocupamos a natureza como meros participantes; somos a própria natureza.


Todo o material de que nós somos feitos (exceto hidrogênio e parte do hélio) foram manufaturados nas estrelas que morreram antes do sistema solar se formar. Portanto, nada mais somos do que produto das estrelas. Nas sábias palavras do astrônomo Carl Sagan (1934 - 1996) somos "poeira das estrelas".

Dependemos da natureza, das terras, da água, do ar, do sol, da chuva, das abelhas (sem elas não haveria alimentos), do fitoplâncton (algas microscópicas unicelulares responsáveis por 98% do oxigênio presente na atmosfera. O oxigênio produzido por estas microalgas através da fotossíntese é o mesmo que respiramos na atmosfera, já que há troca de gases entre a água e o ar, daí a importância destas microalgas para a nossa vida).

Dependemos muito das estrelas. Isso não é prosa nem verso; é fato! São as estrelas, com sua capacidade ímpar de brilhar, que geram energia vindas de reações de fusão nuclear fundindo hidrogênio em hélio e, dessa combinação, permite-se aflorar o nitrogênio, o oxigênio, o carbono, o ferro que se localizam nos aminoácidos (unidades químicas que compõem as proteínas) e nas proteínas (que formam os músculos, os ligamentos, os tendões, as glândulas, enfim, que permitem o crescimento ósseo). Sem os aminoácidos não há formação de proteínas, e sem proteínas o nosso corpo não funciona adequadamente.

Sem isso, a vida não seria possível. Somos, por consequência, a própria natureza ainda por razões filológicas. Não por acaso, somos originários do Adão bíblico (em hebraico, Adam significa “Filho da Terra”), ainda que isso seja puramente uma metáfora.

Somos a “natureza” quando nos damos conta que, pelo aspecto filológico, as palavras homem/humano derivam de “húmus”, cujo significado é “terra fértil”.

Apenas por esse aspecto, cuidar da natureza é, antes de tudo, cuidar da vida em seu sentido mais literal possível.

Lamentavelmente, para atender as solicitações do mercado de consumo, a atividade econômica tem patrocinado a mais severa destruição das teias da natureza que conformam a capacidade de sustentação da vida.

Destruir a natureza em troca da voracidade do consumo de bens é, antes disso, destruir a própria vida em seu conjunto. O mercado, assim como toda a economia, e a nossa sobrevivência, em especial, dependem do conjunto dos recursos naturais, da natureza, do patrimônio ecológico.

A economia, enquanto atividade produtiva, é apenas um subproduto do ambiente natural, e depende dos mais variados recursos que a natureza emana. É importante salientar que nós, como todos os seres vivos, somos partes e não o todo desse ambiente natural que contempla essa riqueza chamada “vida”.

Mas, há alguns sérios problemas nessa relação – vida-economia-meio ambiente.

As demandas humanas se vinculam à capacidade da Terra, contudo, essa é a conta que não fecha. Vejamos que “(...) em 1961, precisávamos de metade da Terra para atender às demandas humanas. Em 1981, empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995, ultrapassamos em 10% sua capacidade de reposição, mas era ainda suportável”, quem diz isso é Leonardo Boff.

Nos dias atuais, tendo por base o ritmo frenético de consumo, a demanda por recursos naturais excede em 50% a capacidade de reposição da Terra. Para 2030, quando a população estiver próxima a 8,5 bilhões de pessoas, dois Planetas Terras serão necessários para esse atendimento. Como isso é impossível, o relatório Planeta Vivo, realizado a cada dois anos pela ONG internacional WWF, estima que a crise ecológica custará 4,5 trilhões de dólares por ano. Todos, sem exceção, pagaremos esse elevado preço.

Pelos modos de produção e consumo atuais, Estados Unidos e China são, de longe, os dois principais expoentes dessa usurpação sem limites dos recursos da Terra: cada um deles consome 21% dos recursos naturais do planeta.

Toda essa relação envolve, essencialmente, a manutenção da vida pelos íntimos laços que temos para com a Mãe Terra.

Nesse pormenor, é oportuno resgatarmos a argumentação do educador canadense Herbert M. McLuhan (1911-1980): “Na espaçonave Terra não há passageiros. Todos somos tripulantes”.

E pelo fato de sermos tripulantes, precisamos estar atentos aos cuidados necessários para garantir a qualidade de vida de todos.

Por isso, a economia, sendo um espaço de conhecimento das ciências humanas, não pode prescindir em ajudar na disseminação de um discurso em prol da vida, e não unicamente em favor do deus mercado como tem sido freqüente desde o surgimento da Escola Clássica (século XVIII).

Pelas lentes das ciências econômicas, discutir desenvolvimento econômico, confundindo-o com crescimento, é dos mais absurdos equívocos cometidos, pois a economia tradicional nos leva a pensar apenas em aspectos quantitativos, e não nos qualitativos.

Razão pela qual, para abastecer as prateleiras do mercado de consumo patrocina-se, sem piedade, uma brutal e severa destruição dos recursos naturais. Eis então o motivo precípuo de termos ultrapassado a capacidade de reposição da Terra.

Perceber a economia apenas pela quantidade de coisas produzidas é um erro abissal que somente tem feito provocar outro erro: a cultura do desperdício e da falta de parcimônia em matéria de regular a atividade produtiva. Isso tudo aprofunda o consumismo, essa chaga do sistema capitalista que põe as teias da vida e da Mãe Natureza em constante risco de completa e irreversível dilapidação.


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