As últimas três eleições presidenciais foram marcadas pela polarização entre dois blocos, um liderado pelo PT, outro pelo PSDB. Essa polarização, falsa em sua essência, foi instrumental para a estabilização da hegemonia conservadora na política e na sociedade brasileira. Isso não significa, porém, que estes blocos representem exatamente o mesmo projeto. As elites brasileiras não são homogêneas e dividem-se em distintas frações. Essas frações influenciam o processo político-eleitoral de acordo com seus interesses particulares, como demonstra o financiamento das campanhas de Dilma Rousseff (financiada principalmente por empreiteiras e pelo agronegócio) e José Serra (financiado principalmente por bancos e setores da indústria). São essas divisões que permitem o surgimento de alternativas de dentro do bloco conservador, como Eduardo Campos.
No cenário que se apresenta pouco menos de um ano das eleições de 2014, existem três candidaturas principais: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aos dois primeiros, interessa reproduzir a polarização das eleições anteriores, enquanto Campos tenta conquistar a confiança da indústria e do agronegócio, enfraquecendo as bases de apoio de ambos. Portanto, a novidade nas eleições de 2014 não vem do campo conservador: a novidade vem das ruas.
O ano de 2013 foi marcado por três fatos decisivos para o desdobramento da disputa presidencial do próximo ano. O primeiro foi a retomada de medidas privatistas e dos ajustes econômicos em favor do capital financeiro. Além de aeroportos, portos e ferrovias, o governo Dilma iniciou a entrega do petróleo do Pré-Sal à exploração privada, diminuindo ainda mais a participação do Estado em setores estratégicos da economia. Ao mesmo tempo, após seis aumentos consecutivos, a taxa de juros de 10% ao ano colocou o Brasil novamente na condição de paraíso mundial da especulação financeira. Com isso, os juros do crédito devem aumentar, endividando ainda mais as famílias brasileiras e contingenciando os indispensáveis investimentos públicos.
O segundo fato decisivo na disputa eleitoral do ano que vem é o efeito das chamadas "jornadas de junho". As manifestações que tomaram as ruas em todo o país colocaram o sistema político-eleitoral em xeque. A queda da popularidade de todos os governantes – incluindo Dilma Rousseff – é um dado inquestionável que demonstra que os eleitores estarão mais atentos, mais vigilantes e mais críticos durante as eleições de 2014. Assim, haverá um maior espaço para propostas alternativas e de esquerda, que distanciem-se da plataforma das elites e busquem representar o descontentamento das ruas.
O terceiro fato com implicações diretas sobre as eleições presidenciais do próximo ano foi a filiação de Marina Silva ao PSB para concorrer à vice-presidência na chapa de Eduardo Campos. Até a frustrada tentativa de criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, Marina era a figura pública que mais havia capitalizado o descontentamento popular contra a velha política, apesar de ter participado, até pouco tempo, da governabilidade de Lula e de não apresentar, efetivamente, nada de substancialmente novo em relação a questões centrais como a política econômica. Porém, simbolicamente Marina vinha angariando amplas simpatias dos setores médios desiludidos com os velhos partidos e cansados da falsa polarização entre PT e PSDB. Ao ingressar no PSB, um partido igual a todos os demais, Marina frustrou milhões de simpatizantes e criou um vácuo que pode ser ocupado por um projeto efetivamente de esquerda.
Estes três fatores, criaram condições favoráveis a um projeto popular, democrático e socialista para as eleições de 2014, que dialogue com o desejo de mudanças. Um projeto e uma candidatura que denunciem a paralisia da reforma agrária e busque o diálogo com o MST na perspectiva da construção de um projeto para o campo que tenha como centro a pequena agricultura e a soberania alimentar. Um projeto que se oponha ao modelo macroeconômico baseado no tripé de juros altos, superávit primário e câmbio flutuante, e apresente um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e na indústria nacionais, com distribuição de renda e justiça fiscal e tributária. Um projeto que defenda a ampliação radical dos investimentos em saúde e educação, e retome o sonho de um Brasil livre do analfabetismo. Um projeto democrático, vinculado às demandas populares e à participação da sociedade brasileira para enfrentar temas como a democratização da comunicação, os direitos indígenas e quilombolas, os diretos das mulheres sobre seu corpo e o direito dos indivíduos de amarem livremente. Um projeto que defenda o meio-ambiente da sanha destrutiva dos interesses do mercado e utilize nossas riquezas naturais de forma equilibrada e a serviço do desenvolvimento com respeito à natureza.
Enfim, um projeto que retome as reformas estruturais interditadas à força pelas elites brasileiras cinquenta anos atrás e a utopia de um Brasil mais justo e igualitário.
As três candidaturas representam mais do mesmo e não podem encarnar o desejo de mudanças e um projeto de conteúdo efetivamente transformador. A esquerda socialista, no 4º Congresso Nacional do PSOL, tem agora uma candidatura com esse perfil.
Randolfe Rodrigues, o PSOL e os demais partidos da esquerda socialista e independente, são os únicos que podem apresentar este projeto. Este é o lugar de Randolfe e do PSOL: o lugar da mudança pela esquerda e da retomada da utopia socialista.