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Juliano Medeiros

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O lugar de Randolfe Rodrigues

Juliano Medeiros - Publicado: Quarta, 04 Dezembro 2013 15:29

O 4º Congresso Nacional do PSOL aprovou, no último domingo, a pré-candidatura do senador Randolfe Rodrigues à Presidência da República nas eleições do próximo ano. É a primeira candidatura potencialmente competitiva lançada pela oposição de esquerda para a disputa de 2014. Quais os desafios de um projeto popular e socialista no próximo ano?


As últimas três eleições presidenciais foram marcadas pela polarização entre dois blocos, um liderado pelo PT, outro pelo PSDB. Essa polarização, falsa em sua essência, foi instrumental para a estabilização da hegemonia conservadora na política e na sociedade brasileira. Isso não significa, porém, que estes blocos representem exatamente o mesmo projeto. As elites brasileiras não são homogêneas e dividem-se em distintas frações. Essas frações influenciam o processo político-eleitoral de acordo com seus interesses particulares, como demonstra o financiamento das campanhas de Dilma Rousseff (financiada principalmente por empreiteiras e pelo agronegócio) e José Serra (financiado principalmente por bancos e setores da indústria). São essas divisões que permitem o surgimento de alternativas de dentro do bloco conservador, como Eduardo Campos.

No cenário que se apresenta pouco menos de um ano das eleições de 2014, existem três candidaturas principais: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Aos dois primeiros, interessa reproduzir a polarização das eleições anteriores, enquanto Campos tenta conquistar a confiança da indústria e do agronegócio, enfraquecendo as bases de apoio de ambos. Portanto, a novidade nas eleições de 2014 não vem do campo conservador: a novidade vem das ruas.

O ano de 2013 foi marcado por três fatos decisivos para o desdobramento da disputa presidencial do próximo ano. O primeiro foi a retomada de medidas privatistas e dos ajustes econômicos em favor do capital financeiro. Além de aeroportos, portos e ferrovias, o governo Dilma iniciou a entrega do petróleo do Pré-Sal à exploração privada, diminuindo ainda mais a participação do Estado em setores estratégicos da economia. Ao mesmo tempo, após seis aumentos consecutivos, a taxa de juros de 10% ao ano colocou o Brasil novamente na condição de paraíso mundial da especulação financeira. Com isso, os juros do crédito devem aumentar, endividando ainda mais as famílias brasileiras e contingenciando os indispensáveis investimentos públicos.

O segundo fato decisivo na disputa eleitoral do ano que vem é o efeito das chamadas "jornadas de junho". As manifestações que tomaram as ruas em todo o país colocaram o sistema político-eleitoral em xeque. A queda da popularidade de todos os governantes – incluindo Dilma Rousseff – é um dado inquestionável que demonstra que os eleitores estarão mais atentos, mais vigilantes e mais críticos durante as eleições de 2014. Assim, haverá um maior espaço para propostas alternativas e de esquerda, que distanciem-se da plataforma das elites e busquem representar o descontentamento das ruas.

O terceiro fato com implicações diretas sobre as eleições presidenciais do próximo ano foi a filiação de Marina Silva ao PSB para concorrer à vice-presidência na chapa de Eduardo Campos. Até a frustrada tentativa de criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, Marina era a figura pública que mais havia capitalizado o descontentamento popular contra a velha política, apesar de ter participado, até pouco tempo, da governabilidade de Lula e de não apresentar, efetivamente, nada de substancialmente novo em relação a questões centrais como a política econômica. Porém, simbolicamente Marina vinha angariando amplas simpatias dos setores médios desiludidos com os velhos partidos e cansados da falsa polarização entre PT e PSDB. Ao ingressar no PSB, um partido igual a todos os demais, Marina frustrou milhões de simpatizantes e criou um vácuo que pode ser ocupado por um projeto efetivamente de esquerda.

Estes três fatores, criaram condições favoráveis a um projeto popular, democrático e socialista para as eleições de 2014, que dialogue com o desejo de mudanças. Um projeto e uma candidatura que denunciem a paralisia da reforma agrária e busque o diálogo com o MST na perspectiva da construção de um projeto para o campo que tenha como centro a pequena agricultura e a soberania alimentar. Um projeto que se oponha ao modelo macroeconômico baseado no tripé de juros altos, superávit primário e câmbio flutuante, e apresente um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e na indústria nacionais, com distribuição de renda e justiça fiscal e tributária. Um projeto que defenda a ampliação radical dos investimentos em saúde e educação, e retome o sonho de um Brasil livre do analfabetismo. Um projeto democrático, vinculado às demandas populares e à participação da sociedade brasileira para enfrentar temas como a democratização da comunicação, os direitos indígenas e quilombolas, os diretos das mulheres sobre seu corpo e o direito dos indivíduos de amarem livremente. Um projeto que defenda o meio-ambiente da sanha destrutiva dos interesses do mercado e utilize nossas riquezas naturais de forma equilibrada e a serviço do desenvolvimento com respeito à natureza.

Enfim, um projeto que retome as reformas estruturais interditadas à força pelas elites brasileiras cinquenta anos atrás e a utopia de um Brasil mais justo e igualitário.

As três candidaturas representam mais do mesmo e não podem encarnar o desejo de mudanças e um projeto de conteúdo efetivamente transformador. A esquerda socialista, no 4º Congresso Nacional do PSOL, tem agora uma candidatura com esse perfil.

Randolfe Rodrigues, o PSOL e os demais partidos da esquerda socialista e independente, são os únicos que podem apresentar este projeto. Este é o lugar de Randolfe e do PSOL: o lugar da mudança pela esquerda e da retomada da utopia socialista.


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