Na época um tema comum das conversas cotidianas foi a reação do povo japonês à catástrofe. As notícias que chegavam diziam que mesmo em meio ao caos causado pelo acidente, não havia noticias de saques, roubos, tumultos. Um "povo ordeiro, disciplinado, instruído", diziam muitos.
Passados mais de dois anos, o que ficamos sabendo sobre Fukushima não é tão animador. É o que mostra reportagem publicada em 11/11 pelo Valor. Em "Yakuza participa da limpeza de Fukushima", Antoni Slodkowski e Mari Saito revelam fatos assustadores. A Yakuza que aparece no título é uma organização mafiosa. Mas seus membros não são os únicos a cometer crimes.
Segundo a matéria:
A indústria nuclear do Japão recorre a mão de obra barata desde que suas primeiras usinas foram inauguradas nos anos 70. Por anos, a indústria valeu-se de trabalhadores itinerantes, conhecidos como "ciganos nucleares", de Sanya, na vizinhança de Tóquio, e de Kamagasaki, em Osaka, áreas conhecidas pelo grande número de homens sem-teto.
O desastre de Fukushima só piorou a situação. A matéria mostra que os trabalhos de descontaminação são feitos por uma ampla rede de empresas subcontratadas. Algumas delas ligadas ao crime organizado. Muitas utilizando trabalhadores mal pagos que são expostos ao veneno radiativo.
A solidariedade e a disciplina podem até ser características do povo japonês. Mas não são suficientes para evitar a universal capacidade do Capital para fazer dinheiro com a desgraça humana. Pior que qualquer radiação.