O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos aliados de Dilma, deram ordens para que a Polícia Militar (uma anomalia no processo democrático) reprimisse da forma mais violenta possível o protesto de professores e cidadão contra o descaso com a educação.
Cabral é o governador que ano passado, bêbado, numa viagem a Paris paga pela empreiteira do contraventor Cachoeira, comprou um sapato de cinco mil dólares para sua esposa. Paes é o ex-deputado que fustigou o governo Lula na CPI do Mensalão, pois pertencia ao PSDB. As fotos de Cabral bêbado foram amplamente divulgadas no Brasil. Paes trocou de partido e virou lulista.
Armas químicas, como gás de pimenta e gás lacrimogêneo foram usadas pela PM, flagrantes foram forjados (fato publicado no jornal O GLOBO) e toda a violência possível por soldados da Polícia Militar.
A média de expulsão por dia de integrantes dessa “corporação” ultrapassa o razoável. Boa parte é ligada ao tráfico de drogas e recentemente sumiram com um pedreiro na favela da Rocinha, a maior do Rio. Dez integrantes da PM estão sendo indiciados pelo desaparecimento do pedreiro e as provas levantadas mostram sinais de tortura.
As fotos publicadas em jornais até da mídia de mercado dão uma ideia clara do que foi a ação da Polícia Militar e todo o conflito começou com a atitude de um policial infiltrado no movimento que quebrou os vidros de uma loja, dando o pretexto para o massacre.
Em qualquer democracia Polícia é uma instituição civil. No Brasil há uma divisão. Polícia Militar com estrutura hierárquica de força armada e Polícia Civil, sucateada pelos governos. Em todos os estados da Federação as polícias militares são comandadas pelos governadores, em tese, mas servem ao tráfico, aos latifundiários, banqueiros e grandes empresários e com um nível de violência que preserva a herança de 1964.
São intocáveis, gozam de privilégios em relação aos servidores públicos de um modo geral. O caráter animalesco está entranhado em cada homem ou mulher da corporação.
No processo de debate da Constituinte de 1988 chegou-se a pensar na unificação das polícias e na modificação da estrutura da Polícia Militar, um dos principais instrumentos da ditadura. O lobby foi de tal ordem que a situação permaneceu sem qualquer alteração.
Em 1983, assim que assumiu o governo do estado do Rio, Leonel Brizola determinou que a ação policial se desse estritamente dentro da lei, proibindo revistas aleatórias, invasão de casas em favelas durante a noite e exigindo que as prisões fossem feitas ou em flagrante ou por mandado judicial.
A reação da mídia de mercado foi a que Brizola teria feito um acordo com o crime organizado, quando na verdade o fez com lei. Houve inclusive princípio de rebelião no âmbito da Polícia Militar, cujo escopo é a barbárie.
Desde o processo de redemocratização do Brasil, a exceção do governo Serra em São Paulo, jamais se viu tamanha violência como na terça-feira, primeiro de outubro, contra manifestação pacífica de professores.
A luta dos trabalhadores da educação no Brasil não se volta apenas para a questão salarial, mas para as condições de trabalho. São mínimas, ou não existem.
O atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, diante do movimento de professores paulistas, chegou a declarar que o trabalho “é sacerdócio”. Receber propinas de empresas envolvidas na construção do metrô paulista não. Deve ser a política da OPUS DEI, da qual faz parte.
A democracia brasileira é um parto incompleto. A Constituição alterada em sua substância pelo governo FHC principalmente (no processo de privatizações) e agora no eufemismo terceirização e leilões do governo Dilma, o Brasil vai se esvaindo e a violência do dia primeiro de outubro é apenas a consequência da absoluta ausência de um institucional que garanta os direitos do cidadão.
O Estado está falido. Judiciário, Executivo e Legislativo não representam os brasileiros. Mas interesses de empresas, bancos e latifundiários.
Foi o que ficou claro na terça-feira, é o que fica claro no avanço de fazendeiros sobre terras indígenas e pequenas propriedades rurais, sempre apoiados pela quadrilha Polícia Militar.
1964 se repetiu e 2013 e quer queiramos ou não, antes de sermos emparedados, a saída está nas ruas.