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António Santos

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O Fantasma de João Mau-Tempo

5 razões pelas quais a CDU vai ser a grande surpresa destas autárquicas

António Santos - Publicado: Quinta, 19 Setembro 2013 12:38

As próximas autárquicas de dia 29 de Setembro são como a antecipação que precede as conferências de imprensa do Cavaco: já toda a gente sabe o que vai acontecer, mas não há nada como ouvir mesmo o velho em primeira mão.


Já toda a gente sabe, por exemplo, que o PSD sairá derrotado do embate (embora a dimensão da derrota esteja ainda por definir), que o CDS-PP desaparecerá finalmente do mapa e que a abstenção levará a taça. No entanto, destas eleições dependem riscos e possibilidades muito mais importantes que uma conferência de imprensa do Cavaco. O esgotamento do sistema bipartidário; o isolamento de Pedro Passos Coelho; a primeira resposta eleitoral de Portugal à Troika; a capacidade de afirmação da esquerda como alternativa e a demissão do Governo são apenas alguns exemplos. A única coisa que tem passado passado desapercebida a todos os comentadores e analistas é o possível resultado histórico que a CDU pode alcançar e o corolário político desse resultado.

Aqui ficam as cinco principais razões para confiar num impressionante resultado comunista.

1 – As sondagens

Ok, dou já a mão à palmatória: é verdade que muitas sondagens têm menos credibilidade que a palavra de honra de Paulo Portas. Não vale a pena alongarmo-nos sobre quem as encomenda ou como são feitas, mas também não se pode escamotear um padrão claro em todos os últimos estudos de opinião. Há meses que todas as sondagens, valendo o que valem, são unânimes em afirmar que havendo eleições legislativas, a CDU teria entre 10 e 13% dos votos. Ora, nunca na sua história a CDU teve em autárquicas um resultado inferior às legislativas. O que, tomando em conta a variância média desse padrão, poderia significar para os comunistas um histórico resultado nacional de 14 a 18%. Neste sentido, apontam também outras sondagens autárquicas, que dão aos comunistas mais de 10% no Porto, a reconquista de Évora e a vitória em Setúbal.

2 – Os outros

Vai haver sempre gente, que por mais porrada que apanhe, vai continuar a votar nos partidos do Isaltino Morais, da Fátima Felgueiras, do Valentim Loureiro, do José Sócrates e do Cavaco Silva. Mas as pessoas estão cada vez mais fartas e os cimentos do bipartidarismo podem estar a ponto de rachar.

PSD e CDS-PP parecem tão assustados com que aí vem que já nem assinam os outdoors. A Troika Nacional tornou-se tão repelente, que os próprios boys (alma e corpo destes partidos) se começam a fazer à estrada, em carreiras a solo como «independentes». Como os ratos a abandonar o naufrágio, CDS e PSD polvorizam-se em cada concelho e freguesia. E o PS, ainda abananado pela aventura com Sócrates e pelo banana que o lidera, não está em condições de sequer sonhar em capitalizar o descontentamento que qualquer leitura nacional poderia implicar.

À esquerda do PS sobra ainda o BE, que sem bases, nem ligação às autarquias, nem experiência, nem direcção, resta-lhe tentar impugnar tudo o que mexa, dos comunistas aos piropos e candidatar putos de Lisboa a freguesias de Trás-os-Montes.

3 – A coerência

Na longínqua década de 90, quando a «Ouropa» estava na moda e a moeda única arrancava aplausos do PSD ao PS passando pelo BE, houve um partido que disse «não». Na altura, chamaram-lhe «anti-europeísta» (termo que entretanto, por artes mágicas, despareceu), acusaram-no de ser reaccionário e velho do restelo. Esse partido foi o PCP. Acontece que hoje, quase todos aceitam que os receios do PCP tinham razão de ser: a UE e o Euro tornaram-nos mais pobres e menos livres; as privatizações destruíram o aparelho produtivo; as «flexibilizações» à legislação laboral destruíram os nossos direitos e o memorando da Troika provou ser mesmo um «Pacto de Agressão». Até os winners, que até há poucos anos continuavam deslumbrados com os bancos, com os centros comerciais e com o seu potencial «empreendedorismo», achando que num mundo tão moderno não havia lugar para manifestações nem greves, acabaram desempregados ou a 500€.

No meio desta alhada toda, o PCP foi como uma espécie de Cassandra, que se fartou de avisar da iminente destruição de Tróia e que ninguém quis escutar. Agora chegou o momento dos comunistas capitalizarem tantos anos a repetirem, quase sozinhos, os mesmos avisos certeiros.

De resto, a CDU, por outros erros que lhe queiram apontar, conta com um património único na política portuguesa: poder dizer de cara levantada que nunca enganou um eleitor. Aos comunistas há quem chame muita coisa, de «estalinista» para baixo, mas o que nunca ouvi ninguém chamar ao PCP foi «troca-tintas»; «corrupto» ou «mentiroso». Ao José Sá Fernandes e ao Rui Tavares, no entanto, já ouvi chamar coisas bem piores.

4 – A competência

Não é por acaso que em relação a anos anteriores a CDU apresenta mais candidaturas, abrangendo mais território e mais população. Do mesmo modo, não é por acaso que tanta gente que não é comunista e até se posiciona ideologicamente muito longe do PCP escolhe a CDU para liderar os destinos da sua terra. Podemos até ser de direita, mas não há como negar que as autarquias lideradas pela CDU são diferentes. Também não é por acaso que onde os comunistas governam, as taxas de desenvolvimento humano são mais elevadas e a qualidade de vida é melhor. A CDU pode-se orgulhar do profundo conhecimento que possui dos problemas locais e do imenso capital de experiência autárquica, que resultam de um estilo de trabalho e de uma forma de estar na política únicos no panorama nacional. Foram os comunistas que fizeram de Évora uma das cidades de Portugal com maior nível de qualidade de vida, que trouxeram a Almada a distinção de Capital Verde da Europa e que levaram a água e o saneamento e a habitação social a todo o distrito de Beja.

5 – A Luta

Desde que o governo de Pedro Passos Coelho tomou posse, o caudal de lutas populares inspissou e rejuvenesceu, intensificou-se e radicalizou-se. O número de greves (sectoriais e gerais), a grandeza das manifestações de rua e o proliferado sentimento de agravo e de revolta são a fotografia de uma paisagem política onde a CDU se sente do lado certo da história, porque ela própria é o rosto eleitoral dessa mesma luta. A CDU já anda nestas andanças há muitos anos. Esteve sempre do lado dos trabalhadores e dos sindicatos, apoiou as greves e a resistência contra o roubo aos salários e acompanhou os milhões que saíram à rua para dizer «não». É natural e previsível que muitos dos que ao longo dos últimos anos saíram à rua para dizer «Basta!» o digam também no dia 29 votando CDU.


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