Ou projetos de fascismo e ameaças à democracia são as forças de repressão mexicanas e israelenses que não hesitam em, mesmo na condição de agentes do Estado, cobrir os rostos e não utilizar qualquer tipo de identificação?
Do mesmo modo, não é possível, se quisermos manter um mínimo de honestidade intelectual, usar tais adjetivos para designar manifestantes sociais que recorrem ao uso de máscaras, capuzes e bandanas para cobrir o rosto. É lastimável que uma parcela cada vez maior da sociedade brasileira, incitada pelos donos do poder, que se utilizam da grande mídia, reverbere esse discurso, que é eminentemente reacionário.
Essa qualificação, em especial em um contexto de truculência praticada por uma polícia altamente autoritária, só serve para legitimar o trabalho das forças repressivas, que mantêm, elas sim, desde a sua fundação até os dias de hoje, práticas que beiram o fascismo (e que, não poucas vezes, são verdadeiramente fascistas). Chamar os “mascarados”, os Black Blocs, de fascistas legitima a violência da polícia que agride manifestantes e jornalistas, que desapareceu com Amarildo e que matou Ricardo, que aterrorizou o Pinheirinho e que cotidianamente aterroriza as favelas e periferias brasileiras.
Poderiam os detratores do uso de máscaras argumentar que os contextos da situação mexicana, da palestina e da brasileira são muito diferentes. Trata-se de uma inverdade. No México dos Zapatistas, na Palestina ocupada ou no Rio de Janeiro de 2013, o contexto é exatamente o mesmo: a resistência contra a crescente violência perpetrada por um Estado cada vez mais autoritário. A resistência contra a barbárie institucionalizada.
Neste sentido, se um militante social optar por cobrir o rosto, seja para se prevenir contra represálias, para se proteger dos gases lançados pelas forças de repressão ou por motivos meramente simbólicos, este direito deve ser peremptoriamente defendido: em uma manifestação, usa máscara quem quiser, e mostra o rosto quem quiser. Qualquer medida que vise restringir qualquer um destes direitos não é mais que um triste ensaio de fascismo.
Por opção pessoal, não cubro o rosto nas manifestações das quais participo. Ou melhor, não cobria. Porque até quando durar a absurda proibição do uso de máscaras nos protestos no Rio de Janeiro, serei mais um mascarado nas ruas da cidade, contra a barbárie oficial. Não passarão!