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Ramiro Vidal

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A república do verbo

Falsimedia contra Marinaleda

Ramiro Vidal - Publicado: Domingo, 08 Setembro 2013 11:54

Recentemente estivem a olhar em La Sexta, (a canle de televisom que se publicita como progressista e até nalgum caso como de esquerda) umha reportagem sobre Marinaleda e o fenómeno Sánchez Gordillo


O fenómeno Sánchez Gordillo consiste em que um presidente de câmara que se di comunista, leva mais de trinta anos no seu cargo. Isto a pesar de que nom tem detrás a nengum grupo mediático que o adule e lhe cante as façanhas constantemente, nem há também nengum grupo empresarial que lhe financie as campanhas. Só este detalhe cheira mal para os grandes grupos mediáticos. Porque entom qual é essa poderosa arma que mantém na presidência da cámara de Marinaleda ao Rafael Sánchez Gordillo?

É, por um acaso Sánchez Gordillo um grande comunicador? Domina a oratória e a pluma até tal ponto que tem umha abrumadora capazidade de conviçom? Tem umha imagem tam estudada que transmite umha confiança incontestável? Tem um físico especialmente atrativo e um sorriso de triunfador? Pois o senhor Sánchez Gordillo, nom tendo em termos convencionais nada disso, realmente sim possue umha capazidade de comunicar extraordinária e umha imagem nom criada em gabinete nengum, mas forjada em anos de luita do lado dos pobres, do lado da classe à que nom quer deixar de pertencer.

Entom o problema é que essa arma secreta que mantem a Sánchez Gordillo à frente do governo municipal nom tem nada de secreta; a arma é a verdade e o agir conseqüente. Nom há promessas espetaculares, nem campanhas de imagem geniais, há factos e esses factos som os que possibilitam ofenómeno Sánchez Gordillo.

A reporteira mostra os logros do modelo imperante no povo sevilhano: infantários a doze euros e casas a quinze euros. “Vamos ver como é que isto se consegue”, di a reporteira, como se a questom requerisse um fundo labor de investigaçom. Sobre tudo o das casas parece que produz muita inquietaçom, e isso que a maneira de agir é bem clara: as casas financiam-se com fundos municipais e autonômicos, a pessoa titular da casa pom quinze euros e a sua mao de obra. O resultado, casas de auto-construçom financiadas com fundos públicos, nom sujeitas a hipoteca. Singelíssimo de explicar e de entender, e ainda assim, os agudos reporteiros de La Sexta querem ver um lado corruto, escuro.Este detalhe é utilizado mais adiante para atacar o modelo, dizendo que sem a ajuda de outras administraçons, tal modelo nom seria sustentável. Frase lapidária: “sem os subsídios nom som autosuficientes” (sem os subsídios nom é autosuficiente nengumha cámara municipal)

Umha outra ideia–força do trabalho de investigaçom é a teima por saber quê parte do orçamento municipal vem dos susídios, como se receber subsídios dos orçamentos de outros níveis administrativos superiores fosse um vício, umha prática ilícita ou falta de ética ou como se fosse umha incongruência.

Supom-se que umha máxima da Constituçom Espanhola é o reparto equitativo da riqueza, para o que será necessário guardar um equilíbrio no aspeto territorial e no aspeto social. Nada terá de incongruente que parte dos orçamentos gerais do estado e da comunidade autônoma vaiam parar a Marinaleda e que Marinaleda faga uso desses cartos.

Mais um momento estelar da reportagem começa com a imagem de dúzias de vizinhos e vizinhas de Marinaleda a sair das suas casas antes da alba. Imagem …misteriosa? Deve ter muitíssimo mistério ver gente saindo da casa para ir trabalhar. Porque alí é onde iam: ao choio, nem mais nem menos, concretamente a apanhar pementos numha finca propriedade municipal. De novo umhatruculenta imagem procedente desse escuro mundo que é Marinaleda. Porque resulta que outro ato aparentemente delituoso do governo municipal deste concelho andaluz é a consecuçom pleno emprego. Pois vaia um crime de lesa humanidade esse! Por certo, nom era o desemprego a preocupaçom número um os cidadaos do estado espanhol segundo os inquéritos do CIS? Por algumha razom há de ser…

Na desventurada procura dos sabuesos de La Sexta polo ponto fraco do modelo imperante em Marinaleda, por fim conseguem encontrar umha cousa negativa de verdade…três de cada quatro estudantes da ESO abandonam os seus estudos, afirma umha professora do liceu de ensino secundário. “…e isto a quê é devido?” perguntam “pois porque como aquí tens pleno emprego e vivenda assegurada, é muito cómodo”.

Ou seja, traduzindo isto a umha análise crítica da situaçom, o que acontece é que se a ESO se estuda para aceder à Universidade, e a Universidade nas últimas décadas se fixo necessária para muitas pessoas nom já para estudar aquilo polo que sentes vocaçom, mas para competir no mercado de trabalho, em Marinaleda a Universidade nom é um horizonte tam apetecível, desde que a própria contorna te assegura um futuro e nom necessitarás ter um título universitário para que che considerem apto para o trabalho. Isto poderá ser olhado como umha eiva do sistema, mas eu pergunto-me: a Universidade educa e cultiva? Se tenho que julgar da experiência própria e alheia mais próxima, a resposta é que a Universidade como muito instrui, mas está sobradamente demostrado que a instruçom nom é cultura. Nom ter que passar polo anel para ser útil ao sistema de produçom capitalista, a mim, sinceramente, nom me parece umha eiva.

Recapitulando, e exponhendo as minhas conclusons umha a umha, rebatendo assim o argumentário pobre, ridículo e conspiranóico de La Sexta, direi:

Primeiro, que Sánchez Gordillo nom necessita campanhas desenhadas por ninguém para ganhar eleiçom tras eleiçom: simplesmente o povo o considera um dos seus e além disso sobram promesas quando há factos sobre a mesa.

Segundo, a vivenda barata e accessível é umha realidade que outros só conhecem em sonhos; nom sei quê misserável lógica é a que interpreta na maneira de conseguir isso umha espécie de uso indevido de fundos públicos, quando a carta magna espanhola reconhece a vivenda digna como um direito. Neste caso, há umha Câmara Municipal que responde por esse direito. Oxalá fosse isso mais freqüente. Eu nom conheço um caso similar no estado espanhol; nom sei se existem experiências do estilo em concelhos bascos historicamente governados pola esquerda abertzale, mas na larga experiência de concelhos galegos governados polo BNG nom há nem o intento de fazer umha cousa assim.

Terceiro, o pleno emprego é um objetivo cara onde tenhem que apontar as políticas de qualquer governo do estado, segundo di a carta magna espanhola. Quê tem de delituoso, de ilícito, de nom ético que se consiga desde o poder local?

Quarto, a impotência que geram estes logros entre os falsimédia e os politólogos e sociólogos esbirros do sistema é tam brutal e esmagadora, que o único recurso eficaz que acham para desvirtuar o modelo é o insulto. Outra frase lapidária da reportagem: “é o populismo do Século XXI”. Desfazatez e insolência a de La Sexta. O de Marinaleda nom é populismo do S. XXI; é socialismo, sem necessidade de apelidos. Vivenda para todos e todas e pleno emprego é socialismo. Populismo é financiar clubes desportivos de elite direta ou indiretamente com cartos e recursos públicos, como fai algum concelho galego. Ou organizar festas do Orgulho Gay, obliterando manifestamente o conteúdo político de tal data.

E quinto e último, Marinaleda hoje é umha rara avis no estado espanhol, mas no contexto da multicrise irreversível que vivemos provavelmente nom tardará em ser o espelho em que muitos se tenham que olhar.

Portanto eu declaro a minha simpatia por Rafael Sánchez Gordillo e polo modelo que está vigente em Marinaleda; um modelo que lhe fai sair as cores do rosto tanto a defensres do capitalismo como a essa esquerda com retórica revolucionária e prática absolutamente mimética com a dos partidos do sistema quando alcançam poder institucional. Se há na Europa um exemplo de socialismo, nom populismo, esse é Marinaleda.


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