"Pelo que diz minha sensibilidade para o assunto, os dois manifestantes não tinham jeito de gays. Talvez, se tivessem, eu não estaria escrevendo este artigo. Não sei.Tinham, isso sim, as características claras do jovem fascista urbano brasileiro. A voz desarticulada, o espírito do oba-oba cervejeiro, o celular na mão e a ideia pronta na cabeça."
Vejamos se entendi: O fato dos dois rapazes que escracharam o Feliciano serem heteros diminui a força ou a validade de seus atos? O colunista olhou pra cara deles e logo concluiu que são fascistas dando características... ridículas, pra afirmar seu ponto?
Então os escrachos que o Levante Popular fazia contra torturadores da Ditadura era algo fascista? Pois sim, a gênese é a mesma, o método é o mesmo.
Ele ainda se complica ao comparar a atitude legítima e política de escrachar o homofóbico, racista, ladrão, estelionatário (enfim, um bandido) que é o Feliciano com isso:
"Suponha a torcida de um time que acabou de ganhar o campeonato. Encontra, no meio da festa, uns quatro ou cinco adeptos do time derrotado. Não contente com a vitória, a torcida vencedora resolve hostilizar os perdedores. Hostiliza, xinga, cai de pancada em cima dos coitados —para lhes “dar uma lição”."
Em primeiro lugar, não há NADA de errado em um torcedor de time vitorioso provocar o torcedor do derrotado, faz parte e, aliás, é uma das coisas que torna o futebol prazeroso. Outra coisa, óbvio, é a violência. E no caso em tela, em segundo lugar, NÃO HOUVE violência alguma, tão somente provocação justa.
Claro que sequer comparar questão de direitos humanos com futebol dentro destes termos é ridículo, mas vamos em frente.
Em seu raciocínio torto ele continua:
Isso, para mim, é puro fascismo, e não depende de nenhuma orientação ideológica. Trata-se de oprimir, em grupo, o derrotado, o minoritário, o sem defesa.
Ele está errado sob qualquer perspectiva sociológica, mas, mesmo que concordemos com ele e esqueçamos do valor e peso da ideologia, ele continua... errado. E a razão é simples: Feliciano oprime o derrotado, o violentado, o minoritário, o sem defesa.
E digo "derrotado" e "sem defesa" lembrando por exemplo das travestis, violentadas todos os dias sem conseguir defesa, dos gays assassinados e torturados sem poder se defender e derrotados por este governo homofóbico do qual Feliciano não apenas faz parte, como tem trânsito e poder - junto com outros bandidos neopentecostais travestidos de pastores e deputados.
Fascista, pela definição de Marcelo Coelho é sua assumida vítima, Feliciano.
Mas ele deixa o melhor pior pro final:
Há 30 ou 40 anos, é possível que fizessem o mesmo se algum transexual estivesse a bordo. Qual o propósito de hostilizar Feliciano? Puni-lo por ser quem ele é? Em nome de que minorias você se levanta da cadeira do avião e puxa um coro para avacalhar quem quer que seja?
Sim, ele comparou um homofóbico e estelionatário com intenções claras de criminalizar LGBTs e mulheres com... a vítima! É realmente uma façanha.
Feliciano não está sendo "punido" por ser "quem ele é", está sendo "punido" por defender o que ele defende. Por defender o racismo e a homofobia. Minorias, em nome DELAS, se levantam para denunciar - ou "avacalhar, como diz o colunista - o opressor. E continuarão a fazê-lo à despeito da grita de colunistas que nunca souberam o que é ser vítima de preconceito.
Não sei se Marcelo Coelho é gay ou hétero, mas neste artigo ele sem dúvida se coloca ao lado e como um macho, branco, heterossexual de classe média. E isto diz tudo.