Morria um camarada que destacou como militante desde os seus anos de estudante, naquele audaz ativismo estudantil de anos setenta do passado século, até a sua morte com 25 anos de idade na cidade de Ferrol. E nascia um ícone, um referente para o nacionalismo galego de classe; desde a UPG, organizaçom na qual militou, até a totalidade da esquerda independentista.
Nom vou fazer ucronia política, pôr-me a discutir onde estaria militando o camarada Reboiras nos dias de hoje, se a história decorresse de maneira diferente, se ele nom tivesse saído do refúgio, cercado por efetivos da Brigada Político Social e da Polícia Armada para cobrir a retirada a outros dous camaradas e se o intercámbio de disparos nom tivesse acabado na Rua da Terra com o valente combatente comunista abatido; seria inútil. O que sim vou fazer é defender o seu exemplo. O exemplo do amor, da humildade, da criatividade e da audácia.
Quem quiger fazer exercícios de ucronia inútil à custa da vida dos mártires da causa operária galega, é livre de o fazer, sempre que nom pretenda envolver nem embaucar quem verdadeiramete tem umha atitude revolucionária. O verdadeiramente revolucionário à hora de reivindicarmos a Moncho Reboiras é nom permitir que a sua morte e o conjunto da sua trajetória sejam inúteis.
Quero dizer com isto que Moncho Reboiras tem que ser mais do que umha simples efígie estampada em litografias, murais e outras obras gráficas, temos que extrair da sua memória as pertinentes liçons. Moncho Reboiras vem do rural galego e a emigraçom interior do meio rural ao urbano leva-o a Vigo, onde trabalha no negócio familiar, trabalha também na construçom, estuda Engenharia Industrial e depois especializa-se nos míticos Estaleiros Barreras. Do seu contato com a classe operária viguesa daqueles anos e da colisom lingüística e cultural que se produz com o deslocamento da sua paróquia natal de Imo até aquele Vigo urbano e já daquelas fortemente espanholizado, com um mundo académico e empresarial, como já podemos imaginar, afectos ao regime e hostis portanto à língua galega e a qualquer sinal de identidade do povo galego, nasce o ativista cultural e também o ativista operário. A combinaçom desses níveis avançados de consciência fai crescer um exemplar comunista.
Um comunista que se forja na sua participaçom na greve de Setembro de 72, que é cofundador do Sindicato Obreiro Galego, que é peça chave na articulaçom da Frente Cultural Galega, que desenvolve um destacável labor jornalístico na revista “O Xerme” e que participa em açons armadas, como a expropriaçom de fundos numha sucursal bancária em Escairom.
É portanto um filho do povo que a partir da pertença a esse povo toma consciência e pom o seu talento, a sua audácia, a sua consciência, as suas capacidades ao serviço da revoluçom galega. E que assumiu os riscos de desafiar a legalidade franquista ao ponto de viver na clandestinidade desde a açom armada de Escairom.
A liçom, o exemplo importante, nom é a necessidade da imolaçom como objetivo em si próprio; se chegássemos a essa conclusom, fraca aprendizagem tiraríamos da trajetória do Moncho. A liçom importante é que há que estar onde se for necessário em cada momento, por cima de temores pessoais, preferências ou interesses conformados por visons em chave estritamente pessoal, sem ter em conta o objetivo superior, que é a revoluçom. Nom sei qual frente de trabalho “lhe era mais atrativa” a Moncho Reboiras; pode que fosse um fora de série que realizasse igual de bem todas as tarefas ou pode que nom, o quid está em que ele desenvolveu as tarefas que lhe fôrom requeridas no momento em que lhe fôrom requeridas. O egoísmo e o individualismo, que nos perde muitas vezes hoje em dia, está nas antípodas dessa atitude.
A derradeira liçom e o ato que fijo dele um espelho em que nos olhamos os revolucionários e revolucionárias galegas, foi um ato que, com intençom ou sem ela, resultou de sacrifício, desde que o levou à morte. Um ato de afirmaçom revolucionária, que resultou a mais inequívoca prova de amor polos seus camaradas e de entrega à causa. Quando naquele 12 de Agosto de 75 o camarada Reboiras sai a se enfrentar com os “Cetmes” da polícia espanhola, fai-no sabendo que a morte é um risco certo e também sabe que se o capturarem vivo o seu futuro imediato será a cruel tortura e a incerteza e indefensom de se enfrentar aos tribunais do regime fascista. Evidentemente, a tua organizaçom é mais do que umhas siglas; a tua organizaçom é esse grupo humano a par do qual militas. Nem a militáncia política é um ato individual, nem é possível servir nem defender a causa sem estar disposto a defender quem milita contigo.
Som quatro décadas já com o exemplo de Reboiras a amparar o nosso agir revolucionário; devemos tirar partido da vigência desse exemplo e velar porque a memória deste camarada morto em combate esteja sempre presente.