A edição de Carta Capital de 06/07 trouxe entrevista com Daniela Arbex. A jornalista acaba de lançar o livro “Holocausto Brasileiro”, sobre o centro psiquiátrico de Barbacena (MG). A instituição é conhecida como “Colônia”, mas a autora prefere considerá-la um campo de concentração. A maioria dos pacientes daquele que foi o maior hospício do país foi internada à força:
Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental, entre eles epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas ou mesmo pessoas que questionavam o status quo e passavam a ser considerados um incômodo para a sociedade.
Nada menos que 60 mil internos morreram nas dependências da instituição. Muitos de seus cadáveres foram vendidos a faculdades de medicinas. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes tiveram esse destino. “Em uma década, a venda de cadáveres atingiu quase 600 mil reais, fora o valor faturado com o comércio de ossos e órgãos”, diz Daniela.
Mas Barbacena está muito longe de ser um caso isolado. Entre 1915 e 1932, o governo brasileiro criou os chamados “currais” no Ceará, destinados a retirantes que fugiam das secas. Durante a Segunda Guerra, alemães, italianos e japoneses também foram confinados. E o que dizer das antigas senzalas, que deram lugar aos atuais presídios?
A tão admirada harmonia social brasileira vem sendo imposta a ferro e fogo. É a paz sem voz dos campos de concentração e cemitérios. Por isso, precisamos continuar gritando por justiça e liberdade.