Se lhe surdiu um sorriso ou simplesmente atafegou desconhecemo-lo. Porém, sim sabemos que o lancarao levava mais de umha hora a se exprimir em galego. O público achou que ele estava a palestrar em português... e na verdade estava!
Apesar de engraçados episódios como este vivido polo influente galeguista a finais do século passado, o discurso oficial defende como verdade absoluta que galego e português som línguas diferentes.
Chega a tal o despautério que mesmo é freqüente a equiparaçom do português com línguas como o italiano, o catalám ou o espanhol, na sua relaçom com o galego.
De partida, com nengumha destas línguas o galego partilhou berço. Como pode entom receber o mesmo tratamento o português que o italiano? Que ligaçom há entre catalám e galego? De um ponto de vista estritamente lingüístico, tanto como entre francês e romeno. Quer dizer, som línguas romances. A relaçom de galego e português teria de ser a mesma ou, no mínimo, semelhante à do andaluz e castelhano, flamengo e holandês ou catalám e maiorquim, variantes da mesma língua.
Afinal, fala-se da origem comum como umha lenga-lenga sem conteúdo.
Reconhecer que galego e português som o mesmo idioma com nomes diferentes é o alicerce da recuperaçom da nossa identidade nacional. E se nom, aprendamos da Terra.
Na terra do Barbança seus habitantes baptizárom um velho penedo, disposto no meio de umha pronunciada encosta, com o prazenteiro nome de “Pedra de Folgar”. Esta penedo servia, e se calhar ainda serve, a transeútes da dura congosta para folgarem ou descansarem.
Deste verbo folgar vem a palavra galega folga que, como é evidente, significa descanso, intervalo. Assim, um dia de folga em galego popular é expressom comum para se referirem, camponeses e camponesas, marinheiros e marinheiras, a um dia em que nom se trabalha, cousa, para a sua desgraça, pouco habitual.
O ILG, um standard embaciado e artificial, assim percebido por boa parte do povo galego, nom foi fiel à fala popular, como tanto se enchem em afirmar.
Folga, no sentido de luita da classe trabalhadora, é um burdo decalque do huelga espanhol. Aqui, recorrêrom ao castelám, como decote, para desterrarem a patrimonial folga e dar-lhe um significado até entom desconhecido.
Este estupro lingüístico, que para quem conhece a história do galego-português é desagradável como um guincho, deve provocar muita graça em Portugal e no Brasil, sobretodo nestes dias em que na Galiza o sindicalismo galego anda a reclamar umha folga geral. Folga geral nas falas do povo português, brasileiro e galego sempre foi descanso para todo o mundo.
Dizer que a norma ortográfica da Real Academia Galega e a escolha normativa do léxico do Instituto da Língua Galega reflecte a fala popular é umha quimera insustentável.
Leio numha ediçom brasileira do romance 1984 de George Orwell “o total cumprimento –com folgas- das metas do Nono Plano Trienal”, e nom paro de pensar na Pedra de Folgar noiesa. Umha lufada de orgulho enche-me o peito. Até as pedras nos dam a razom!!