Virgílio e Dante descobrem que nas portas do inferno
está escrito “Deixai toda esperança atrás”.
“Deixai toda esperança atrás”, podemos ler
às portas da empresa Edgewater e nas sedes do Partido Popular.
A nossa esperança hoje está hoje reunida em Corcoesto,
Fronte ao dilema entre o ouro e a vida,
nós luitamos contra a morte
com Nela, Bráulio, Celso, Emma, Seso, Leo e toda a gente
que está a dar passos adiante
e algo está a suceder:
O imprevissível está da nossa parte.
“Os homes som porcos que comem ouro”,
dizia Napoleóm.
Mas nós somos persoas
e o 90% do nosso organismo é agua,
as fontes nascem nalgum lugar dentro de nós
e tamém levamos no nosso interior o mar
desde o manancial de Baralháns ao Monte Branco.
O Capitalismo precisa ouro e dinheiro negro,
cianuro e políticos corrutos para respirar.
Quem nom tem um fascista na familia?
Conhecemo-los demasiado bem
e sabemos o que querem
e como funcionam os seus instrumentos:
O governo aproba 300 mil euros para as associaçons PRO-MINAS,
medo,
especulaçom, propaganda, fume
máfia e sobres, muitos sobres…
“Que pasem los antidisturbios”
“Toma otra cucharadita mas de cianuro,
es por tu bien”
e aquí nom passa nada,
como em Ghana, como em Ghana,
16 mortos em Kyekyenere numha mina de ouro
o pasado mes de abril
e eu nom quero viver numha colónia.
Isto tem que cambiar.
Hoje estamos do lado das mulheres das Encrobas
que se enfrontarom com paráguas à Guardia Civil espanhola.
Tamém formamos parte hoje da irmandade coletiva
que detivo o projeto da central nuclear de Xove,
porque a terra é nossa,
de todas as persoas e de ninguém ao mesmo tempo,
e este pedaço de planeta tocou-nos defende-lo a nós.
Há pouco ganhamos
a batalha contra as fumigaçons com neurotóxicos.
Hoje a roseira de Corcoesto gavea polas nossas pernas pedindo-nos ajuda.
E um John Deere trabalhava hoje a terra em Corcoesto
com a força da esperança, a resisténcia e a rebeldia
e aqui vai um abraço a toda a gente
que sofre golpes, multas, juíços, despejos,
cárcere,
por defender os nossos direitos e a vida.
Queremos seguir arando a terra
e com a flor da pataca faremos umha bandeira.
Queremos viver em paz, mas nom nos deixam.
Já Esopo falou sobre a verdade:
“Nom há ouro bastant para pagar a liberdade”
Cada nota de prensa em defensa do cianuro
é umha ameaça de morte.
Escuitade as cargas de dinamita:
som as palavras do presidente.
A defensa do espólio é umha declaraçom de guerra
E sem justiça nunca haverá paz.
Povo de Sipakapa, Guatemala, estamos com vós!
Gente de Halkidiki, Greça, estamos com vós!
Rosia Montana, Romania, estamos com vós!
Aratiti, Uruguai, Wirikuta e Serra Norte, em México, estamos com vós!
Estamos com vós contra as Corporaçons e a cobiça.
E nesta altura do poema aparece a palavra Soberania,
Soberania para os povos invisíveis do mundo!
Petom do Lobo, Cova Crea, Picoutos, Lampreira,
os mesmos que destruem a terra
querem fazer desaparecer os vossos nomes do mapa.
Os mesmos que agridem a biosfera
atentam contra o nosso idioma.
Aqui bem sabemos que os prados, rios e arboredas,
as fontes e regatos pequenos
defendem a nossa língua
e que a nossa língua defende a nossa terra.
Que o ouro e o cianuro nom nos separem do nosso idioma
porque a língua nos protege!
“Todo o ouro do mundo
non vale o que a túa pel cerca da miña”,
escreveu Maria do Cebreiro.
Todo o ouro do mundo nom vale
a saúde das nossas filhas.
E a ciéncia e o amor estám da nossa parte.
O capital está á procura da trabe de ouro
e da trabe de alcatrám.
O neoliberalismo quer roubar-lhe à moura
o seu peite de ouro. Mas as fadas das pedras
defendem com nós um Plan de Desenvolvimento Alternativo, ecológico
e sustentável.
Porque há alternativa e a imaginaçom está com nós
e o realismo está da nossa parte.
Nom estamos indefensos. Temo-nos a nós.
Vivemos em estado permanente
de defensa própria e nom temos medo.
O verdadeiro ouro está dentro da gente
e sabemos abrir caminos
com a desbroçadora do trisquel afiado,
reunir a energía coletiva das mulheres, homes
nenos e nenas que construem um presente diferente
porque o futuro nunca chega
e agora aqui estamos a criar algo
que se pode tocar com a ponta dos dedos
e somos gente trabalhadora.
Somos gente trabalhadora.
Eles sabem distribuír mui bem a miséria
e crem que quando o ouro fala a língua cala.
Mas ningumha gaiola de ouro pode encerrar as nossas palavras:
A morte é irreversível e a mina é a nossa ruína.
Na Galiza sabemos que as pombas
podem atacar o falcom e vencer,
e tamém o sabe o falcom.
Homes e mulheres em defensa da Galiza
juntos somos poderosos:
Saúde, cultura, rebeldia, cooperaçom, independéncia, liberdade:
Ar puro sem arsénico nem cianuro!
Manifesto lido no Festival contra a Mina de Corcoesto
Carvalho, 31 de maio de 2013.