No Rio de Janeiro di-se viage mas escreve-se viagem, brasilero mas escreve-se brasileiro, tô mas escreve-se estou, rapais mas escreve-se rapaz e arrois mas escreve-se arroz. Nas rádios do Brasil ouve-se libeghdadji onde grafam liberdade, poghta onde grafam porta e a preposiçom de é dji. Decerto, ninguém reclama por falar nois e escrever nós, nem por falar boua e escrever boa.
Curiosamente, na Galiza pronunciamos a maioria destas palavras direitinho, quer dizer, como som escritas em Portugal e no Brasil.
No entanto, na Galiza dizemos xogo, xanela e xeito. Na verdade, é apenas o sotaque o que nos separa de Portugal e do Brasil. Será que desta vez nom podemos fazer nós o que fam brasileiros e portugueses tantas outras vezes, ou seja, escrever diferente a como falamos?
Em São Paulo, dei com um raro caso de brasileiro que conhecia a Galiza.
—Você é do país da Xuxa —afirmou.
Eu estranhado perguntei:
— Como assim? A Xuxa é brasileira!
—Sei, mas vocês escrevem tudo com xis! —sentenciou dando umha gargalhada.
Talvez se escrevêssemos jogo, janela e jeito deixaríamos de ser o país da Xuxa para sermos (re)conhecidos no mundo como o que realmente somos: A Galiza, o berço da única língua romance falada nos cinco continentes.