O nível de desprendimento e normalidade com que apanhamos o comboio, o metro, o autocarro, a boleia para nos deslocarmos simples metros ou muitos quilómetro equivale ao desprendimento com que pensamos essa viagem. O poema de comboio pretende contrastar entre a indiferença e o olho observador; entre o banal e o particularmente estranho; entre o cansaço da obriga da viagem diária e rotineira e o desejo de viajar constantemente.
Aposto mais uma vez na divulgação, desta vez de três poemas (ou como quiserem chamar-lhes), no DL, considerando de novo que na pluralidade existem certamente mais caminhos para escolher, construir, perceber…
poema (de)comboio #17
farto das trocas de letras e números
há um fardo que cargo às costas
não o conheces
há um sol que aquece as pernas
e corro mais depressa para longe de mim
os números venceram as letras
há uma derrota constante nas vitórias dos outros
algo que nunca terias pensado antes de o ouvires
está dito. a chuva molha-te os pés
e, no entanto, corro à mesma velocidade
salvaram as letras dos números
congruências de um sistema chamuscado
tórridos grãos de café de hora a hora
morrem, anos depois
há um ciclo em toda a vida que ainda brinca com a morte
sai. quero passar. já te tinha dito isso vezes demais. não?
poema de comboio #18
porque é que não datas os poemas?
porque é que os teus não têm título.
ando a pé e de autocarro e de comboio
passei em todas as zonas apenas com um triciclo
com três rodas não chego a nenhum lado
talvez porque não saibas um deus
talvez porque não quero chegar a lado algum
poema de comboio #20
quantas vezes saímos na mesma zona
quantos regressos e partidas
?
um suspiro de alívio
um acelerar do coração
e o cansaço patente na viagem
Aproveito para relembrar que estão abertas as colaboração com a D’AEQUUM # 4, número da revista digital do grupo AEQUUM que pretende continuar a existência como repositório aberto de poesia e, agora, convidar-vos a alargar a temática à Galiza e Lusofonia. Contactem-nos através do blog http://aequum-equidade.blogspot.com