E fam renda de Camarinhas para maquilhar a sociedade burguesa como a melhor das possíveis, e em nengum dos casos vam às raízes da crise, como muito ficam nas ramagens. E isso que muitos dos contertúlios som economistas especialistas com umha dilatada carreira.
Nom vou ser eu, um simples eletricista, quem ponha em dúvida os seus conhecimentos de economia. Mas sim podo reprochar que vivem numha bolha, fora da realidade social, que nom conhecem um bairro obreiro e muito menos umha fábrica. E muitas vezes falam por falar, sem conhecimento de causa, ou para justificar o injustificável, para defender umha sociedade podre e corruta, que já nom se sustenta por muito que a esteiem, em que eles se sentem como peixe na água e, por nada do mundo, querem perder os privilégios que a própria sociedade burguesa lhes outorga, sempre e quando a defendam dessa forma apaixonada e sem nengum indício de crítica.
Todo há que dizê-lo, há brilhantes economistas, com umhas notas imelhoráveis, que estám desempregados ou trabalhando do que lhes sai. Obviamente, estes economistas nom vam aos debates televisivos, nom vaim dizer que há alternativa à sociedade capitalista. E que essa alternativa passa por umha melhor qualidade de vida para a imensa maioria do povo e que só 1% sairia prejudicado, precisamente esses 1% que hoje em dia controla ou possui 95% da economia de todo o Estado, enquanto umha boa parte da populaçom tem problemas para chegar a fim de mês.
Desde que um tem uso da razom, sempre escuitou, umha e outra vez, "isto sempre foi assim e sempre será, sempre houvo ricos e pobres", junto ao insistente soniquete que sustenta que o socialismo é umha utopia que fica muito bem sob o papel nas que na prática mostrou ser um fiasco.
Argumento que leva como anexo um inevitável discurso sobre a história recente e o desmoronamento do que umha vez foi o bloco do Leste. Porém, qualquer que tenha um pouco de ideia de economia sabe que para utopia, mas da boa, a que expujo lá por finais do século XVIII Adam Smith na sua "Riqueza das naçons".
Esse livro, um enorme trabalho que merece ser lido de princípio a fim, é tomado como o documento fundador do liberalismo económico, dogma fetiche para aquelas que há uns anos anunciárom complacentes o fim da história. Com o único inconveniente de que passam por alto algumhas das principais premissas que expujo o economista escocês quase meio século antes de que nascera Carlos Marx.
Resumindo muito, Smith partia da existência dumha liberdade absoluta de informaçom, de movimento de bens e fatores de produçom, de força de trabalho, etc. E nessas condiçons, a procura do ganho próprio levaria consigo o enriquecimento e desenvolvimento da sociedade. A famosa mao invisível. Ainda se fosse possível, esse esquema nom nos convence a quem pensamos que o motor da humanidade nom pode ser a competência e o individualismo, senom a solidariedade e o bem coletivo. Mas acontece que essas condiçons nunca se dam. E se nom, que perguntem à "força de trabalho" que na Galiza ano após ano trata de ir para o estrangeiro na procura de um trabalho para malviver, longe da Terra e dos seus.
Nunca houvo livre mercado, nom o há nem o haverá. Alguns chamam-no liberalismo como coartada ideológica, mas nunca deixou de ser o saqueio de umha minoria a respeito da maioria. Estamos rodeados de monopólios, duopólios e oligopólios, em todos os setores, sem exceçom, e uns poucos apelidos governam o planeta. Como há quinhentos anos. O economista Michael Hudsom chama-o cleptocracia, porque som ladrons quem nos governa. Utópico é pensar que vam deixar de fazê-lo.
Telmo Varela
Prisom de Topas, Salamanca, 13 de janeiro de 2013