O primeiro passo para derrocar o poder burguês é deixar de legitimar quem o exerce tam despoticamente; depois, deixar de depender deles; o terceiro, umha vez acumuladas as forças suficientes, destruí-los e, o mais importante, conseguir por todos os meios, incluída a força da ditadura do proletariado, para que a burguesia nom volte a deter o poder.
Este pensamento é a essência dumha reflexom que nunca foi tam pertinente como no momento socioeconómico e político atual, em quede as contradiçons de classe estám exacerbadas até o máximo.
Nom nos pode escapar a estas alturas que o social é o real e o aparente, e que as relaçons sociais, lidas em termos de relaçons de poder, ou seja, de luita de classes, sustentam-se nom só na expropriaçom e acumulaçom constante e permanente dos recursos materiais produzidos coletivamente em cada vez menos maos, como paralelamente na fabricaçom através dumha poderosíssima maquinaria propagandística, dumha consciência coletiva que considera que isto é assim e nom pode ser doutra maneira, que a burguesia existe para viver e enriquecer-se à custa do suor, esforço e sofrimento da classe obreira.
Até a data, salvo exceçons, as e os que tratamos de abolir o capitalismo e os seus estados pretendíamos compatibilizar práticas de luita e formas de discurso político dentro do quadro legal imposto pola própria burguesia sob o material e o económico, assim como a dominaçom ideológica da populaçom. O resultado real e contrastável é ter contribuído a fazer cada vez mais consistente e infranqueável o poder "democrático" da burguesia.
Para isso, para caminhar polo longo e definitivo vieiro da insurreiçom, nom podemos funcionar com conceitos e práticas próprias do jogo democrático burguês que nos mostrárom que nos convertem em sujeitos coletivos condenados a reproduzir os mesmos esquemas opressivos e burgueses que dizemos combater.
Os passos para devolver o poder à classe obreira e aos povos fundamentam-se em novas premissas, embora discutíveis, chaves para evitarmos que as luitas sociais sofram um retrocesso tam atroz como o que vinhemos padecendo.
O primeiro passo para derrocar o poder é deixar de legitimar que exerce a democracia burguesa e sustenta o poder. Neste sentido, torna fundamental seguir a despir os verdadeiros delinqüentes profissionais, aos responsáveis do espólio produtivo, ecológico e financeiro e a casta política que os eleva e abriga, chame-se de direita ou de esquerda.
Também é importantíssimo desmascarar e denunciar as tendências oportunistas e revisionistas que, cada certo tempo, surgem no movimento obreiro e obstaculiza o seu correto desenvolvimento.
O segundo passo é deixar de depender deles, do seu consentimento para nos organizarmos, protestar e luitar, das suas esmolas envenenadas, deixar de colaborar com as suas instituiçons e reforçar as estruturas políticas, organizativas e culturais próprias.
O terceiro, é destruí-los, despossuí-los e desprestigiá-los na medida que nos reconhecemos nas nossas capacidades de organizaçom e acumulaçom de forças e perdemos o medo a ser discriminados, excluídos ou encarcerados por sublevarmo-nos frente a eles.
Até aqui chegárom muitas revoluçons. Mas nom ao quarto passo, talvez o definitivo e, sem dúvida, o mais importante: estabelecer mecanismos bem precisos e permanentes para garantir que ninguém volte a deter o poder e os novos gestores nom voltem a perverter-se e aferrar-se a ele, traindo o povo ao se converterem em fetiches e esbirros dos de sempre, em funçom de interesses particulares ou contrários aos que se lhe encomendárom.
Telmo Varela
Prisom de Topas, Salamanca, 16 dezembro de 2012