Estou a referir-me a O modelo lexical galego, recém saído do forno e resultado do importante trabalho realizado no seio da Comissom Lingüística da AGAL no campo da codificaçom ou padronizaçom do vocabulário galego, a partir do princípio de coordenaçom lingüística galego-luso-brasileira, como se afirma logo no preámbulo.
Acho nom estar a exagerar se afirmo que estamos diante da que vai ser obra de referência comparável às que no seu dia representárom os já históricos Estudo crítico (1983) e Prontuário ortográfico galego (1985). Duas obras, também da Comissom Lingüística da AGAL, que sentárom as bases, quase três décadas atrás, para a prática normalizadora do corpus lingüístico galego com a única perspetiva que pode garantir o futuro do nosso idioma: a que defende a sua pertença ao campo internacional lusófono.
É verdade que ainda hoje a extrema fraqueza em que subsiste o nosso idioma, juntamente com a perspetiva isoladora que o condena a ser só umha “língua autonómica” e, como tal, dependente da dominante no Estado, fai com que a proposta reintegracionista se mantenha em círculos sociais limitados. Porém, nom é menos certo que o crescimento sustentado desses círculos parece cada vez mais claro frente ao patente fracasso da filosofia isolacionista que a política lingüística oficial continua a abraçar.
Dias atrás, durante umha conversa informal com um dos “pais” da velha proposta ortográfica conhecida como “de mínimos”, soluçom de compromisso –já abandonada– a meio caminho entre o isolacionismo e o reintegracionismo, essa pessoa reconhecia que a proposta ortográfica reintegracionista devia ter sido a escolhida na altura em que o galego foi cooficializado. No entanto, ainda ressoam nos nossos ouvidos os ecos dos discursos dos filólogos que durante as últimas décadas tenhem teimado em evitar o debate ortográfico ou, no máximo, “avançar passinho a passinho”. Outros mesmo propunham, contra toda a lógica e fechando os olhos aos sensatos argumentos de Ricardo Carvalho Calero, “primeiro normalizar e depois normativizar”. Lembram-se?
Entretanto, o reintegracionismo, sob boicote institucional e contra os preconceitos alimentados pola ideologia antigalega dominante em todos estes anos, nom só nom se rendeu nem desapareceu, como alguns vaticinaram. Fijo trabalho de formiga, principalmente por fora das instituiçons, e tem avançado de maneira importante. Hoje poucos negam, nem que seja no plano teórico, que a soluçom reintegracionista é a única possível para um galego rendível e com futuro, mas as adversas condiçons políticas para a nossa língua continuam a evitar que sejam dados os passos necessários para a nova política lingüística que necessitamos.
Longe da nossa intençom transmitir qualquer sentimento pessimista. Somos optimistas e acreditamos nas nossas possibilidades como povo. Com Castelao, defendemos “o galego extenso e útil” e mantemos a nossa aposta, que deve concretizar-se tanto numha verdadeira reforma ortográfica, como numha reorientaçom da política cultural galega que nos situe no mundo dos mais de 240 milhons de falantes de galego que habitam o planeta.
Nessa linha, O modelo lexical galego, nova e rigorosa proposta realizada pola Comissom Lingüística da AGAL, disponibiliza critérios solventes para umha padronizaçom do vocabulário com a perspetiva da unidade da língua e da profunda reforma pendente.
Sob a direçom científica do professor Carlos Garrido, o maior especialista atual em matéria de codificaçom lexical na Galiza, estamos sem dúvida diante de umha nova obra ineludível, um destacado produto ao serviço da padronizaçom ou estandardizaçom do vocabulário galego.
Fazemos, pois, um convite aos galegos e galegas preocupadas com o futuro do galego para que incorporem este volume à sua biblioteca de títulos essenciais dedicados à dignificaçom do nosso idioma. Umha obra alimentada, para a sua elaboraçom, por idênticas doses de rigor científico e amor ao País.
Referência completa da obra:
Comissom Lingüística da AGAL. O modelo lexical galego. Através Editora, Galiza, 2012.
Fonte: Sermos Galiza.