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Telmo Varela

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Forja de opiniom

Que tipo de crise padecemos?

Telmo Varela - Publicado: Sexta, 21 Dezembro 2012 01:16

Os recentes dados do desemprego encendêrom todos os alarmes. Percentagens de desemprego nunca atingidos na história laboral, famílias inteiras sem trabalho, dramáticos despejamentos, feche de empresas e previsons dumha crise que ainda nom tocou fundo som sintomas dumha situaçom económica de diagnóstico complexo, que aponta a um deterioramento irreversível das funçons básicas do sistema económico atual.


Porém, desde as análises capitalistas, guiados pola lógica neoliberal, estamos perante umha conjuntura crítica devida a fatores financeiros inadequadamente manejados.

Segundo os seus prognósticos, esta economia tem soluçom e pode recuperar-se a meio prazo. Tam seguros estám do seu diagnóstico que nom duvidam das soluçons que devem aplicar-se. "Sabemos o que estamos a fazer", repete Rajói.

Sem negar a realidade de umha economia doente, a sua soluçom radica na intervençom cirúrgica de cortes para resolver os fluxos financeiros e a injeçom de soro monetário (resgates) para o coraçom da sua economia, que som os bancos. Desta maneira, argumentam, todo voltará ao seu canal e cada setor receberá os créditos necessários para normalizar a produçom e o emprego. Criará-se emprego, a sociedade recuperará a sua confiança perdida no sistema económico e o bem-estar restabelecerá-se. Todo parece encaixar nessa planificaçom dirigida e controlada polo FMI, Banco Mundial e BCE.

Mas este futuro optimista está sustentado num diagnóstico erróneo e enganoso. Na realidade, o sistema económico que se trata de salvar é o gerador dumha profunda patologia, causa do seu próprio deterioramento. A economia neoliberal nom só está doente, com nela radica a razom explicativa da situaçom em que nos achamos. É, portanto, umha crise irreversível, pois a crise que padecemos, além de estar motivada pola bolha financeira, é também de superproduçom, da qual, já agora, ninguém fala, nem sequer os eruditos economistas.

Sendo esta última a caraterística principal desta crise e que a diferencia de todas as demais, o que incide com mais força na progressiva destruiçom do sistema capitalista. As forças produtivas desenvolvêrom-se atingindo tal nível que o sistema económico de livre mercado fica estreito; as forças produtivas necessitam ser libertadas do espartilho estreito do sistema capitalista. Produz-se muito mais do que se consome. Há muitos carros, televisons, máquinas de lavar, frigoríficos, roupa, sapatos... no mercado e nos stocks. Como sempre, as conseqüências da crise sofremo-las os menos desfavorecidos e beneficia os mais poderosos.

Os ricos (umha minoria) som cada vez mais ricos, como mostram os informes económicos, e os pobres (a imensa maioria) cada vez mais pobres. A sua extensom nom é unicamente local, mas globalizada e, portanto, as suas nefastas conseqüências chegam a um mundo onde mais de 85% vive na pobreza, miséria e morte, enquanto umha minoria desfruta dumha situaçom de bem-estar e riqueza. Na realidade, a crise económica imperante converteu-se numha pandemia.

A gente está a morrer de fame, quando nos armazéns e nas grandes superfícies comerciais há mais alimentos que nunca. Muitíssimas famílias estám sem lar, quando há milhares de casas vazias; os doentes nom se podem medicar, quando os laboratórios farmacêuticos nom sabem que fazer com tantos medicamentos armazenados, e assim com toda a classe de produtos.

Se queremos, portanto, encontrar soluçons eficazes, é necessário um diagnóstico diferente da economia de mercado. A causa da situaçom económica está na mesma base económica do sistema capitalista conduzida por um neoliberalismo predador. Tal diagnóstico é de amplo espectro. Nom só provoca graves carências económicas para a subsistência (alimentaçom, vivenda, sanidade...), como que afeta os órgaos vitais da sociedade e do mundo, como som a cultura, a educaçom, a convivência, o pensamento e, certamente, a política, submetida aos imperativos alienadores dos interesses económicos.

Em conseqüência, no seio do ámbito ocidental dos países desenvolvidos gerou-se umha patologia psicossocial que ataca e altera todo o sistema nervoso social, distorcendo as formas de pensar, de conviver, de se relacionar social e laboralmente. A ansiedade, o nervosismo, a angústia, o estréss, a depressom, multiplicam-se gerando graves trastornos de perssonalidade, desadaptaçom e agressividade. A mesma economia capitalista neoliberal é neurótica e mantém-se provocando impulsos compulsivos de consumo, de contínuos e superfluos trocos, onde todo (incluídas as pessoas) é objeto descartável com o objetivo de fazer negócio e aumentar lucros sem limites.

Mas ainda se deve precisar mais o diagnóstico. A atual economia, onde todo se olha sob o prisma do capital, chegou a um deterioramento esquizofrénico que distorce a perceçom da realidade e as relaçons sociais. Todo se pode comprar e vender, os que podem! Em conseqüência, perdeu-se a consciência da realidade autêntica e só há umha obsessiva preocupaçom monetária: ter, possuir, acumular. Por isso é umha economia esquizofrénica, de duplo rosto, fraturada. Por um lado, mostra a sua cara de promessas de bem-estar e, por outro, a sua outra face de angústia, de dependência, de depressom, ansiedade e até de suicídio.

Porém, esta economia baseada no consumismo -nom no bem-estar social- é capaz de oferecer a sua própria medicaçom para que as massas nom se rebelem. Em primeiro lugar, impom um adormecedor pensamento único de ideologia burguesa (a mesma ideologia que nos escraviza), comportamentos e relaçons sociais "adaptadas" ao sistema imposto, por isso o defendemos ainda que nos esteja a matar. Além disso, fabrica todo um mercado e negócio farmacológico que fornecem os medicamentos alienantes, cuja necessidade ela mesma gerou. Inclusive no caso de extrema necessidade –perante o qual estamos-, tampouco duvida em aplicar tratamentos de shock com umhas forças repressivas bem treinadas e preparadas para a ocasiom, que com os seus métodos contundentes anulam a memória e lesionam a personalidade social crítica.

E quando um povo com consciência nacional trata de afirmar a sua soberania e exercer a autodeterminaçom para superar submissons e dependências, imediatamente é ameaçado e assediado, porque fora dos estados-mercados, afirmam, nom pode haver nada.

Mas se o diagnóstico anterior é acertado, será necessário um outro tratamento muito diferente, alternativo ao que os governos burgueses ofertam. Nom pode ser pontual, setorial ou unidimensional. Tampouco pode provir desta economia ao serviço dos grandes monopólios.

Deve ser ecológico, quer dizer, integral, ajudando a pensar criticamente, a olhar com objetividade e honestidade, a saber analisar causas e conseqüências globais e locais. Deve promover também novas relaçons solidárias de igualdade, justiça e respeito às pessoas, aos povos e à mesma terra. A economia será saudável e geradora de bem-estar quando a mente e o pensamento coletivo, o coraçom da cidadania, o sistema que interliga o tecido social funcionem com liberdade de expressom, produçom e distribuiçom do lucro do produto de foma coletiva, convivência solidária e capaciade de livre decisom.

Prisom de Topas, Salamanca, dezembro de 2012


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