Uma das funções das Ciências Sociais é desmascarar a naturalidade e a fixidez da vida social. Nada nas relações humanas é necessário e imutável. Tudo é produto das ações humanas.
Portanto, está ao nosso alcance mudar aquilo que envergonha nossa espécie. É um dos motivos que torna as Ciências Sociais tão antipáticas para os poderosos.
Um exemplo de conceito naturalizado e eternizado é o de pobreza. Não é verdade que sempre houve ricos e pobres. Sobre isso, o antropólogo Viveiros de Castro traduziu um trecho de ensaio de Marshall Sahlins. Em “The Original Affluent Society. A short essay”, Sahlins diz:
Os povos mais “primitivos” do mundo têm poucas posses, mas eles não são pobres. Pobreza não é uma questão de se ter uma pequena quantidade de bens, nem é simplesmente uma relação entre meios e fins. A pobreza é, acima de tudo, uma relação entre pessoas. Ela é um estatuto social. Enquanto tal, a pobreza é uma invenção da civilização...
Por civilização podemos entender a sociedade de classes. Só há pobres ou ricos onde a minoria explora a maioria. E esta tem sido regra desde o surgimento de “civilizações” como a grega e a egípcia. Na verdade, uma etapa minoritária das sociedades humanas. Corresponde a somente uns 10% da história humana.
De qualquer modo, essa etapa parece destinada a se encerrar em algum momento não muito distante. Ou confirmaremos de vez nossa condição de espécie suicida ou iniciaremos a construção consciente de uma verdadeira civilização: barbárie ou socialismo. Que as Ciências Sociais nos ajudem em nossa luta para afastar a primeira opção.
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