É que as hordas de comentadores e jornalistas que durante três dias assediaram a reunião magna dos comunistas, não falam o mesmo idioma, correm em direcções opostas, apontam ao lado e disparam no pé.
Se aqui, o Expresso nos prevenia do possível retorno de Estaline ao Feijó, pouco depois, aqui, já o Público nos informava que afinal, os “Neo-estalinistas” haviam sido afastados do Comité Central. No insulto ao PCP, vale tudo, até derramar a mentira mais escarpada e fomentar a confusão. Com honrosas excepções, quase toda a comunicação social dominante e todos os comentadores de turno, se entretiveram a arremeter contra os comunistas as mesmas calúnias de sempre: que o PCP tem reuniões à porta fechada porque “não quer testemunhas”, que o PCP está a braços com uma despesa colossal incomportável, que as unanimidades se alcançam com lavagens cerebrais ou férreos açaimos partidários, que o PCP é um “partido de funcionários” cada vez mais velho e que a sua ideologia é curiosidade de alfarrabista.
Acontece que já a cassete é velha e a canção saiu de moda. Os patrões e anti-comunistas precisam com urgência de novas difamações. É que há já mais de dez anos que oiço dizer, ora com fel ora com patética ternura, que o PCP é um clube de velhinhos em vias de extinção, fervorosos crentes de liturgias poeirentas e incapazes de olhar o presente. Mas quantas vezes poderá ser notícia que o PCP ainda é marxista-leninista? E quantas vezes mais ainda o poderão acusar de ortodoxo, estalinista, norte-coreano, pró-cubano e fariano? Ao menos, que se inventem qualquer coisa nova. Sei lá, um escândalo sexual com o Jerónimo; uma ligação secreta ao programa nuclear iraniano; uma zanga com Os Verdes, qualquer coisa pá! É que estou certo que se o PCP envelhecesse ao ritmo que lhe diagnosticam os doutores do comentário, há muito tempo que já não sobraria um comunista em Portugal.
Alguns vão mais longe, ultrapassando os limites da ofensa corriqueira e, como aqui Henrique Raposo, analfabeto empossado pelo Expresso, aproveitaram o congresso para jogar à fogueira o nome de democratas que já não o podem desmentir, para falsificar a história do país, cuspir na memória de todos quantos lutaram pela democracia, apelidando Cunhal de violento fascista e acusando o PCP de pretender ser partido único em Portugal.
Mas que todo o ódio salivado contra o PCP seja bem-vindo. Desde que continue a vir, como sempre veio, dos inimigos confessos deste povo, aqueles que têm verdadeiramente razões para recear os comunistas. A burguesia dedica ao PCP um ódio de morte que não dedica a nenhuma outra organização da esquerda portuguesa. Odeiam o PCP por aquilo que ele é: um partido de trabalhadores, em que a direcção é composta maioritariamente por operários (Sim operários, gente que faz com as mãos as coisas que nós usamos). Odeiam o PCP, por ao contrário do PS ou do Bloco de Esquerda, nunca ter traído nem dado o dito por não dito. Assusta-os a clareza com que propõe a destruição do capitalismo, intimida-os a firmeza da sua convicção na vitória dos explorados sobre os exploradores. E o seu medo é razoável e proporcional, porque não só os comunistas portugueses querem mesmo pôr fim à etapa histórica do jugo da burguesia, como também têm um plano para o fazer.
É a natureza do PCP e não qualquer pretensa aspiração a monopólio partidário que faz dele único: um partido que depende da acção militante de milhares de trabalhadores revolucionários e que por isso tem o verdadeiro poder que tem. Não é casual que os trabalhadores portugueses elejam sistematicamente comunistas para o cargo de Secretário-Geral da maior central sindical portuguesa. Da mesma forma que não é casual que o PCP tenha nas ruas o poder incontestado que nas urnas não tem. Afinal, as ruas são do povo e as eleições de quem as paga.
Para incómodo dos milionários deste país, o PCP prossegue a sua luta. E acautelem-se, porque numa coisa têm razão, o PCP é realmente muito diferente de todos os outros partidos. Os comunistas acreditam mesmo naquilo que fazem. Dão o corpo, a liberdade e a vida, não se derrotam com derrotas eleitorais, não de derrubam com leis, não podem ser parados com a mais violenta repressão. Os comunistas não se podem comprar nem subornar: os deputados abdicam do seu salário e os vogais eleitos entregam por inteiro o que ganham ao Partido. Sem dúvida, o PCP não é feito da mesma coisa.
Mas podem acalmar-se os frenéticos comentadores: o PCP quer para Portugal a democracia mais ampla que o país já conheceu, alargada a todas as áreas da vida humana. O PCP quer um mundo mais justo, um mundo possível, liberto da fome e da guerra e da exploração.
Mas tranquilize-se o histérico Henrique Raposo: O PCP não ambiciona ser partido único em Portugal. Porque único já ele é.