No âmbito de uma campanha internacional de desinformação, a Grécia continua a ser caluniada. A imagem que os media europeus apresentam dos gregos é a de um povo endividado, de gente preguiçosa que vive à custa da ajuda dos países ricos da União Europeia.
O «mau exemplo grego» foi mais uma vez tema de manchetes nestes dias ao ser anunciada a aprovação de um novo empréstimo de 43,7 mil milhões de euros à pátria de Platão e Aristóteles. As forças políticas de direita, de Berlim a Paris, coincidem em previsões pessimistas sobre o futuro do país, afirmando que o governo de coligação de Atenas não cumpriu grande parte dos compromissos assumidos.
Alem do novo empréstimo, o Eurogrupo decidiu alargar o prazo de pagamento e baixou os juros da dívida.
A “ajuda” à Grécia é um acto de solidariedade? Não. O grande capital desconhece o sentimento da generosidade. Uma eventual bancarrota na Grécia poderia conduzir ao fim do euro, comprometendo a própria continuidade da União Europeia.
Os media ditos de referencia da UE omitem, obviamente, que uma parcela ponderável da divida grega resultou de empréstimos da banca alemã a Atenas vinculados à compra de armas germânicas (sobretudo submarinos e aviões de combate) de que o país não precisava. O dinheiro emprestado volta assim em grande parte à origem pelo funcionamento da engrenagem do capital.
O POVO RESISTE
Os mecanismos perversos da falsa ajuda não beneficiam o povo grego. A situação degrada-se a cada semana. A taxa de desemprego excede já os 24% e a divida global ultrapassa 145% do PIB.
Registe-se que uma das exigências do recente empréstimo é a redução da dívida em 40 mil milhões até 2020.
Como responde o povo grego à política de submissão ao capital financeiro europeu praticado pelo governo reaccionário de Antonis Samara, política que arruína o país e mergulha na miséria milhões de famílias?
Lutando com coragem exemplar. Mas não é apenas através de gigantescas manifestações de protesto e de greves gerais (mais de uma dezena) que paralisam o país. Atualmente uma percentagem considerável da população recusa-se a pagar os brutais impostos que a atingem. Em alguns bairros, os moradores, quando lhes cortam a eletricidade, resolvem o problema procedendo a ligações diretas. Em Atenas e outras cidades surgiram hortas improvisadas onde são cultivados legumes numa agricultura familiar de subsistência. Em bares e restaurantes cujos trabalhadores têm salários em atraso, o pessoal não cobra em certos casos as contas aos fregueses. A imaginação é também uma arma na resistência popular.
Neste panorama de lutas o Partido Comunista da Grécia-KKE desempenha um papel fundamental. Fiel à sua ideologia – o marxismo-leninismo- foi duramente penalizado nas últimas eleições. Não fez concessões, recusou qualquer tipo de compromissos com as forças do capital e apontou a saída do euro e da União Europeia como exigência da História que responde ao interesse do povo grego. Pagou a factura da linguagem da verdade como partido comunista.
Muito diferente, antagónica, foi a atitude do Syriza, que se apresentou mascarado de partido revolucionário armado com soluções para a crise. O seu líder, Aléxis Tsripas, andou pelas capitais europeias para garantir a permanência no euro, recebeu o apoio da social-democracia continental. Até Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda português, se deslocou a Atenas para discursar num comício.
Não surpreendeu a grande votação que o Syriza obteve. Mas a máscara caiu rapidamente. Hoje Tsripas multiplica os contactos com os embaixadores dos grandes países capitalistas.
Na sua intervenção em Beirute no XIV Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, Aleka Papariga, secretária-geral do KKE, desmascarou com clareza o oportunismo e as tentações eleitorais:
«O KKE resistiu à grande pressão que exerceram sobre ele para participar num governo cujas posições programáticas teriam uma clara orientação de apoio ao desenvolvimento capitalista, com contradições que determinam de antemão a sua plena assimilação quando se converte em maioria governamental. Essa posição teve um preço, mas após as eleições não privou o partido da sua capacidade de mobilizar e organizar as massas populares. É um legado para o futuro de um movimento que evitará as armadilhas perigosas e os erros que podem eventualmente lesar os interesses populares e que por fim os esmagariam por um período tempo prolongado e crucial».
O KKE não faz promessas que não poderia cumprir. Num contexto de refluxo histórico em que a maioria dos partidos comunistas se social-democratizou, quase constitui uma excepção pela coerência, fidelidade aos princípios, e firmeza no combate como vanguarda proletária.
Vila Nova de Gaia,29 de Novembro de 2012