Hoje, segunda-feira dia 12 de Novembro de 2012, acontece a visita de Angela Merkel a este paísinho à beira-mar plantado. Algo que as televisões publicitaram com tanto afinco “a visita que poderá mudar este país”, “a visita mais esperada dada à situação actual da nação”, e etc. E eu, sabendo das várias manifestações e encontros de recepção, optei por ir trabalhar em vez de me deslocar para Lisboa e contribuir para tal recepção a tal evento tão esperado.
Pois passei hora e meia no centro de Tires à espera da carreira 62, que me deveria deixar em Manique para a única hora de aula de apoio ao estudo que tenho agendada à segunda-feira, sem saber porque não passavam autocarros sem ser no sentido contrário (Carcavelos). Ao meu lado, há tanto tempo como eu, um senhor, empregado dos escritórios da companhia de autocarros, atrasado para o trabalho decide ligar para o trabalho para saber o que se passava. Ora a estrada estava então cortada para receber a doutora, desde Belém até à outra ponta da Marginal, impedindo a circulação da dita carreira. As estradas, repletas de carrinhas e carros da polícia de segurança pública, cheias de gente à espera de tudo e de nada assim devem estar até que a visita e o passeio termine. A tua esperada visita em analogia com a espera eterna do autocarro para ir para o trabalho.
Soubesse eu que iria perder os 10€ do meu dia de trabalho e tinha ido para Lisboa, mas calculo que não chegaria a tempo uma vez que o autocarro que me poderia deixar na estação de Carcavelos ou Oeiras iria talvez ter alguma dificuldade em parar junto às respectivas estações.
Um país sem governo. Sem autocarros. Sem esquerda (ou com a esquerda tão reaccionária ou fria como a direita e os centros). Sem trabalho. Sem condições de vida para adultos, jovens e crianças. Sem futuro. Sem produção. Um país sem serviço público de televisão que contribua para a educação das massas. Um país sem “testículos” para fazer frente à máfia de engravatados e estados-sombra. Um país sem Estado ou com um Estado que não existe para quem o integra. Um país sem…
Querida Merkel, obrigado por ter vindo, eu perdi o dia de trabalho mais sei que em breve tudo vai mudar graças a esta visita. Obrigado por me ter feito perder duas horas, um café, dois cigarros, e 10€ de explicação. Obrigado por ter mobilizado centenas de unidades policiais, por ter permitido que se imobiliza-se as estradas de mais movimento em pleno horário laboral e ao longo da tarde. Obrigado por ser tão querida ao nosso Governo a ponto de cairmos no ridículo e no absurdo de receber a Papisa na terra onde o Papa é também tão querido. Mas que digo… Senhora Merkel, a culpa, na verdade, não é sua. Para si é uma excelente oportunidade para saber apontar no mapa onde fica Lisboa e Portugal. Para nós… povinho… uma excelente altura para tomar o poder nas nossas mãos o poder e fazer-nos ver quão pequeninos conseguimos ser.
Esmagados pela nossa impotência e apatia. Pela nossa dependência europeia, ocidental e transnacional. Esmagados pelo medo de sermos alguém. Esmagados pela incompetência que a corrupção gerou. Formados (às nossas custas) para sermos inúteis pilhas que alimentam o seu poder querida Merkel. Mas rica… assim não há quem trabalhe.
Pior que tudo, terei que dar duas horas na segunda que vem para compensar tudo isto. Gostaria de saber se posso pedir ao Coelho que convença os meus alunos a aceitar tal chatice. Pior que eu, só todas as pessoas que se prejudicaram mais que eu. Para já, falo por mim…
…e rematando: 1€ em cigarros, 0.55€ em café, 0.40€ em chamadas telefónicas para a PT, 10€ de aula que não dei… Mando a factura para o Coelho ou a Salsicha tipo Frankfurt? Sim, factura, pois não quero contribuir para a fuga ao fisco…