Das 75 cadeiras em jogo no parlamento regional, os nacionalistas abocanharam 48 delas, sendo 27 para o Partido Nacionalista Basco (PNV, de centro-direita) e 21 para o Euskal Herria Bildu (EH Bildu, de esquerda).
As demais cadeiras foram repartidas entre o PSE (brao basco do PSOE, com 16), PP (10) e UPyD (partido neofascista com uma cadeira), com uma abstenção relevante que demonstra que a crise na Espanha e a desconfiança aos partidos também chegou ao País Basco.
Porém, apesar da abstenção alta, a vitória nacionalista é incontestável. A partir de agora, acabada a festa tanto do PNV, por sua vitória, quanto do EH Bildu, pelo melhor resultado já alcançado por uma formação Abertzale (de esquerda nacionalista), alianças serão feitas ou, como muitos analistas apostam, um governo do PNV correndo sozinho e se aliando pontualmente com as demais forças, pode despontar. Outros apostam em um governo PNV-PSE, mas poucos acreditam em uma coalizão nacionalista pura.
Fala-se muito pelas ruas de Bilbao do "voto útil" dado por eleitores tradicionais do PP e PSOE (PSE) ao PNV para frear o que poderia ter sido uma vitória do EH Bildu, ou ao menos um número maior de cadeiras (21) e de votos (276,989) deste partido que é visto com desconfiança na Espanha, por se tratar de uma coalizão de partidos de cunho comunista, social-democratas e mesmo de remanescentes do Batasuna, braço político da ETA, que também concorreu, com outros nomes (Bildu e Amaiur), às eleições para vereadores e prefeitos, tendo conseguido excelente votação.
O grande derrotado da noite foi o PSOE que há 3 anos governa o País Basco, depois de ter sido eleito com recorde de abstenção devido à ilegalização da coalizão de partidos de esquerda que hoje se organiza no entorno do EH Bildu. O PP, por outro lado, viu seu número de cadeiras diminuir e também perdeu força em seu tradicional feudo, a região de Araba (Álava) e sua capital, Vitoria-Gazteiz, ficando em quarto lugar em número de votos.
Estas foram as primeiras eleições sem o ETA, como cansou de repetir a mídia espanhola e européia, pese a pouca atenção que os bascos em si deram ao tema. Há um ano o ETA declarou o fim definitivo de sua luta e renunciou ao uso de armas, pese menterem sua atividade, organização e a posse de suas armas e bombas.
Apesar da data simbólica e desta ser a primeira eleição desde a redemocratização em que a ETA não foi um ator a mais a pressionar eleitores e partidos, o foco principal foi a crise, que assola a Espanha e chega cada vez mais perto do País Basco.
O novo parlamento e o Lehendakari (presidente) que por ele será eleito terão a responsabilidade não apenas de lidar com a crise e com os conflitos sociais basco, mas também terão de rever a relação com o governo espanhol, hoje comandado pelo direitista Mariano Rajoy, do PP, que não apenas impulsiona planos de austeridade e corte de gastos que não são bem vistos pela maioria da população da Espanha e do País Basco, como também não poupa declarações raivosas contra o movimento nacionalista basco e acusações de que o EH Bildu seria braço político da ETA.
Laura Mintegi, candidata a Lehendakari pelo EH Bildu, deixou claro que, após esta votação, o País Basco deveria renegociar urgentemente seu papel frente ao Estado Espanhol e caminhar para um processo irreversível de independência, como vem fazendo os catalães, que já ensaiam a convocação de um referendo pela independência até 2016.
O PNV, vencedor das eleições, tem um histórico de indecisão frente à questão nacional basca. Utiliza o forte sentimento de identidade e anseio por independência popular como combustível eleitoral para, porém, pouco avançar uma vez no poder. Desta vez terão vizinhos barulhentos e com poderosa representação, além de um resultado eleitoral que demonstra quais as intenções da cidadania basca.
Os próximos dias, de discussões para um governo isolado ou para alianças, poderão definir o futuro da agenda nacional e anti-crise basca. É cedo, porém, para se ter certeza do caminho que o PNV escolherá.