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Carlos Morais

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Milho maduro

Reflexons comunistas a respeito do unitarismo e fetichismo eleitoral

Carlos Morais - Publicado: Sexta, 12 Outubro 2012 13:34

A campanha das autonómicas está passando sem pena nem glória. O ambiente que se vive na rua face o processo eleitoral de 21 de outubro é de umha enorme frialdade. A imensa maioria do nosso povo aborda entre a indiferença e a desconfiança as novas eleiçons a um parlamentinho carente de competências, portanto de soberania, transformado em mero apêndice das Cortes espanholas.


A perceçom geral -contrariamente à atmosfera de 2005 e, em menor medida, à de 2009-, é que o resultado aritmético, seja qual for, nom vai alterar o obscuro horizonte que Espanha e a troika pretende impor à classe trabalhadora galega. Umha parte mui destacada da nosso povo é consciente do esgotamento institucional à hora de resolver os graves problemas a que se vê submetido.

Sabe que as duas alternativas em jogo -continuidade do PP ou governo bipartido/tripartido nas suas diversas modalidades-, nem querem, nem podem frear a incessante ofensiva contra os direitos e conquistas sociais, cortes em liberdades, políticas involucionistas e permanente espanholizaçom. Porque, sendo promovidas por um insaciável Capital, som implementadas pola casta política cleptocrática que procura ser ratificada legitimando o nosso voto.

As maquinarias eleitorais dos partidos nom som capazes de alterar esta correta perceçom popular. Som muitos anos de promessas incumpridas, de deceçons e, basicamente, mui acelerado o processo de perda de credibilidade de um modelo que, aparentemente sólido embora insatisfatório, era aceite como mal menor.

Enquanto o Estado da providência mantivo coesa boa parte da populaçom com base num insustentável modelo de “crescimento económico” fictício, o sistema assegurava estabilidade social, obtendo em troca umha maioritária adesom eleitoral às forças políticas que aparentando pluralismo só defendiam os interesses da oligarquia, perpetuando assim a exploraçom.

Salvo esporádicos protestos e reduzidos e pontuais ciclos de luita, a pax social caraterizou as três últimas décadas da democracia burguesa espanhola imposta à Galiza.

Levamos mais de um lustro padecendo os efeitos da “crise” e, sobretodo, carecemos de data crível para a resolver, pois já ninguém lembra os disparates dos rebentos verdes de Zapatero. Ambos fatores tenhem desgastado a credibilidade do sistema no ámbito da representaçom.

Existe umha progressiva desafetaçom face à casta política corrupta. Porém, a crise de legitimidade ainda nom adota a forma de questionamento radical do modelo de democracia burguesa e em muita menor medida da economia de mercado na qual se apoia.

Estéreis alternativas

As falsas alternativas que o próprio regime alentou o ano passado a partir da madrilena Porta do Sol fôrom úteis para atrasar a maduraçom de um questionamento integral da ditadura burguesa. Contribuírom para gerar adulteradas e inofensivas esperanças de poder melhorar os mecanismos de controlo e participaçom popular da democracia burguesa como fórmula adequada para mudar as políticas económicas. A ingenuidade e inexperiência de boa parte dos ativistas, unido à desconfiança e carência de umha alternativa revolucionária ao capitalismo, provocou o reforçamento das arreigadas superstiçons reformistas, baseadas em medidas corretoras, em maquilhagens parciais das causas da crise, como a supressom das práticas usurárias dos banqueiros ou a reduçom dos obscenos salários da casta política.

A revolta espontánea, dirigida por setores da pequena burguesia empobrecidos e desconcertados por um situaçom imprevista, agírom como a perfeita válvula de escape que possibilitou ao sistema ganhar tempo e gerar confusom. A importante capacidade de arraste de amplos e bem intencionados setores populares complementou o êxito da operaçom.

Mas o 15-M passou e, perante a agudizaçom dos efeitos das políticas de “ajustamento” impostas, a calma e a serenidade, o “civismo” que os meios elogiavam, pode começar a dissipar-se. Daí a mudança de atitude por parte da indústria mediática ao serviço do aparelho de reproduçom ideológica capitalista a respeito do movimento de massas que semelha configurar-se em escala estatal. Estamos, pois, perante a contraditória configuraçom de um novo cenário.

Porém, este novo sujeito multiforme que desestabiliza os planos do governo de Mariano Rajói -onde confluem as reivindicaçons independentistas da Catalunha, o ascenso da luita de classes, os protestos pós-15-M, as mobilizaçons do sindicalismo hipotecado com o regime-, possuem um similar fio condutor: o legalismo instititucional e o unitarismo dimitroviano.

Se nom se alterar a correlaçom de forças no campo popular -o que nom semelha previsível de imediato-, novamente nom haverá a curto prazo possibilidades de levantar umha trincheira na qual vertebrar a resistência e desenhar a contraofensiva operária.

Sem lugar as dúvidas, é a fraqueza e dispersom da esquerda revolucionária um factor determinante à hora de compreendermos as enormes limitaçons da luita de massas numha conjuntura objetivamente favorável. Novamente, a debilidade do elemento subjetivo, da consciência organizada da classe obreira no partido comunista e no movimento popular que este promove e articula, impossibilita avançar na direçom da rebeliom.

Etapa de ouro do oportunismo na Galiza ou simples miragem?

A crise económica golpeia com mais profundidade e contundência no nosso país e nas suas maiorias sociais, polo histórico atraso económico e consolidada dependência nacional a que a Galiza se vê submetida por Espanha. As estatísticas socioeconómicas comparativas com a média estatal som demolidoras em todos os ámbitos.

No entanto, para entendermos as causas do baixo nível de conflituosidade e mobilizaçom da nossa formaçom social, devemos dirigir a nossa olhada às caraterísticas da esquerda nacional e à ideologia que em boa medida impregna o seu conjunto. O unitarismo inoculado no movimento obreiro no 7º Congresso da Internacional Comunista (1935), e as suas posteriores interpretaçons e deformaçons ainda mais oportunistas, adaptadas à luita de libertaçom nacional, formam parte do ADN da esquerda espanholista, mas também da de ámbito nacional.

Para os defensores desta estratégia condenada de antemao ao fracasso, semelha absurdo e mesmo delirante ter que mergulhar tam atrás para achar umha explicaçom teórica do que está a acontecer. Porém, a luita de classes é um processo histórico global, nom é fruto de conjunturas imediatistas e parciais.

Na genética da prática totalidade do movimento popular galego, a procura da unidade em sentido restritivo, entendida como a renúncia ao programa obreiro, além de alinhar as reivindicaçons populares polo nível mais assumível para os setores intermédios, permite explicar os modelos da UPG-BNG, de PCE-IU e, mais recentemente, da Anova.

Este unitarismo de amplo espectro, de caráter popular e democrático, dota-se de modelos organizativos aparentemente pluralistas, de “sensatos” programas políticos interclassistas, de táticas e estratégias subordinadas ao parlamentarismo burguês, onde a existência de um inimigo principal subordina-o todo. O endurecimento ou abrandamento do discurso estará modulado pola conjuntura política.

A ausência da alternativa revolucionária da esquerda independentista e socialista nesta campanha eleitoral -expressom evidente da sua fraqueza nesta frente de luita-, contribui para ressaltar as limitaçons estruturais de todas as alternativas que, sob a etiqueta de esquerda, pretendem a toda custa agregar apoios eleitorais agitando o fantasma do PP e lavando a cara ao PSOE.

Mas este modelo impossibilita a acumulaçom de forças face a revoluçom socialista, atando e hipotecando o movimento popular ao eleitoralismo no seu conjunto, esvaziando-o do seu antagonismo.

Vejamos pois como se concretiza na atualidade.

Depois de ter marcado nos últimos seis meses duas datas de greve geral, a CIG deu marcha atrás. Na primeira ocasiom, sem explicar motivos e, mais recentemente, pola necessidade de contar com o aval do sindicalismo institucional espanhol, depois de imprimir um novo giro copernicano na política de alianças com CCOO e UGT.

As recentes mobilizaçons de 4 de outubro, convocadas para quatro horas antes do início da campanha eleitoral, som o paradigma do indecente submetimento da luita de classes à dinámica do parlamentarismo burguês e da existência de um suposto inimigo principal, absolvendo assim a outra expressom política do regime.

A culpa de quem é, a culpa é do PP é a errónea palavra de ordem que impossibilita quebrar o imaginário burguês da alternáncia política entre setores avançados das massas.

Sem lugar a dúvidas, a prática do unitarismo e do fetichismo eleitoral hipotecam a estratégia da central, gerando perplexidade e desconfiança entre a classe trabalhadora.

A recém criada coligaçom eleitoral entre um setor de cindidos do BNG -previamente confluídos com a FPG e outros grupos em Anova-, com IU e outros grupos políticos pequeno-burgueses, mais virtuais que reais, semelha ser a novidade deste processo eleitoral, gerando expetativas em setores populares desencantados com os partidos tradicionais. Mas, além da retórica empregada, do carisma de Beiras, e da fascinaçom que gera o unitarismo, nem o programa político, nem a tática e a estratégia desta opçom achegam nada novo ao panorama da esquerda institucional da Galiza. Nom passa de umha nova e maquilhada formulaçom recauchutada e empiricamente constatada como experiências erróneas e nefastas para a luita.

No entanto, introduz de facto umha involuçom a respeito do que defende o BNG, porquanto renuncia ao princípio de auto-organizaçom, facilitando a reincorporaçom da social-democracia espanhola aoparlamentinho do Hórreo.

A veloz operaçom que fraguou a aliança electoral constitui um exemplo quase perfeito do oportunismo -entendido como esse cancro que justifica ceder nos princípios para avançar mais rápido, de eleger entre o mal menor, ao qual Lenine tantos recursos investiu em denunciar. Além disso, é umha das opçons de recâmbio que o sistema necessita para injetar credibilidade nos processos eleitorais e na ilusom parlamentar perante a cada vez maior desafetaçom de umha parte do povo com a política.

Realmente acertou em parte quem definiu de Syriza galega a coaligaçom Anova-IU, pois som mui elevadas as similitudes com a força política grega configurada por pós-marxistas, náufragos do PASOK e umha caldeirada de grupos com trajetórias e matrizes diversas, todos inofensivos para a hegemonia do Capital.

Ambas som atrativos projetos unitários social-democratas, disfarçados de radicalismo pequeno-burguês, carentes de um programa coerentemente patriótico e anti-imperialista.

A convivência no seu interior de um independentismo sem princípios, com umha falsa esquerda soberanista e anticapitalista e a descomplexada cultura espanhola de IU, pode agir de afrodisíaco eleitoral, mas carece de capacidade real para vertebrar um movimento popular dotado de um programa patriótico e de esquerda.

Porque vai ser mais crível, além da pura ilusom, fé e supestiçom, a aliança entre o Beiras que se reúne há uns dias com o Clube Financeiro de Vigo, e a sucursal autonómica de Cayo Lara, que a timorata alternativa reformista e pactista de Jorquera e Aymerich?

O capitalismo espanhol está satisfeito, assim o manifestou ontem um dos seus porta-vozes, porque a Galiza nom tenha também caído no desvario independentista.

Nada que escolher 21 de outubro

Porque a alternativa nom está em escolher entre o autoritarismo do PP e a restauraçom das formas e estilos aggiornados da democracia liberal que recupere a confiança das massas na política parlamentar. A disjuntiva hoje situa-se entre reforçar o caos capitalista ou vertebrar o bloco histórico para a revoluçom socialista galega.

Bloque, Anova-IU, por nom citar PSOE, PP, CxG e resto de projetos burgueses, com os matizes que quigermos agregar, fam parte da primeira opçom. Eis por que nom apoiamos nengumha das forças que se apresentam.

Um substancial incremento da abstençom e do voto nulo pode contribuir para construir umha nova atmosfera política e social que facilite o desenvolvimento da alternativa revolucionária que o nosso povo necessita, pode ajudar a libertar a enorme capacidade de luita que possui a classe obreira.

Constringi-la ou libertá-la dependerá de cotinuar a atá-la ao fetichismo do falso unitarismo de siglas e interesses de classe divergentes, ou favorecer a ruptura com a lógica da ditadura parlamentar e o ilusionismo de poder regenerar um sistema senil em irreversível declínio.

Há que construir umha alternativa obreira, feminista e patriótica com o centro de gravidade na rua, nas luitas de massas, que se forje no combate. Umha força política e movimento social que demarque os campos do proletariado e setores populares com os da pequena-burguesia, umha força e movimento popular construído sobre o princípios da independência política e da auto-organizaçom nacional, que procure a hegemonia para a tomada do poder.

Umha força política e movimento social que apele e promova a rebeliom popular, que sem renunciar à complementaçom de todas as formas de luita que historicamente tenhem empregado as oprimidas e explorados, saiba dialeticamente incidir na utilizaçom da mais adequada a cada fase do processo face a insurreiçom nacional, obreira e popular.

Nom podemos olhar para outro lado frente aos ventos de repressom e guerra que prepara o Estado. Nom há pior cego que aquele que nom quer ver. O capitalismo vai empregar toda a força bruta de que dispom para perpetuar a ditadura burguesa. Nom vai ceder pacificamente nada. Nom vai permitir o exercício da autodeterminaçom nacional, nem umha alteraçom da sua desordem social, em funçom de maiorias eleitorais nem negociaçons. Todo o que temos ganho foi luitando. Que motivos nos podem levar a pensar que no futuro vai ser diferente?

Galiza, 11 de outubro, Dia da Galiza Combatente


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