Pensa em flexibilizar os direitos trabalhistas através de um projeto do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, inspirado no modelo alemão e que, entre outras coisas, amplia o chamado banco de folgas (substituição do pagamento das horas extras por folgas, deixando o trabalhador sempre no crédito), fala em acordos para redução de salários, cita a redução da jornada como medida compensatória sem falar em ampliação do número de vagas e cria um vago Comitê Sindical de Empresa, onde trabalhadores e patrões discutirão a "necessidade" de ajustes que permitam a sobrevivência – maior lucro – das empresas.
Registre-se que o sindicato que elaborou o projeto é a base e a origem do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
E que conste que o modelo de "capitalismo a brasileira" se sustenta de dinheiro público, naquilo que o empresário Eike Batista já chamou de "kit de felicidade".
Esse tipo de discussão proposto pelo projeto é mais ou menos como alguém desarmado tentar convencer o assaltante armado ao invés de assaltá-lo lhe dar algum dinheiro.
Nos dias que antecedem as eleições municipais no Brasil o PT – Partido dos Trabalhadores – perde na maioria das capitais e cidades de grande e médio porte do Brasil, é o que indicam as pesquisas, se apresenta dividido em várias dessas capitais e cidades e se mostra incapaz de apresentar um projeto popular de governo, como se esperava desde o primeiro mandato de Lula.
Rendeu-se ao jogo do capital. Caiu na armadilha das elites econômicas que controlam o Estado brasileiro.
O tamanho do retrocesso político não pode ser medido em curto prazo. Mas é imenso. Ao assumir ares de partido popular, com compromisso socialista, várias vezes reiterado, o PT se transformou numa estranha mistura de neoliberalismo com populismo, optou por manter o País manco ao sucatear serviços públicos essenciais, ao abrir mão de políticas de desenvolvimento de tecnologias indispensáveis à garantia de um futuro que signifique soberania e independência.
Um dos efeitos dessa mistura, neoliberalismo com populismo foi a cooptação de setores do movimento popular, dos sindicatos, hoje aliados a Dilma e muitos encastelados em mesas e gabinetes do governo, fraturas quase irreversíveis no campo da esquerda e dentro do próprio PT, boa parte da militância órfã, no desespero de reencontrar a história e a trajetória de um partido que, durante algum tempo, foi considerado o "novo" na política. Envelheceu de forma precoce.
Lula e agora Dilma são responsáveis diretos pelo retrocesso nas lutas populares. A dimensão e as expectativas criadas pelo PT ao longo das primeiras candidaturas de Lula, se transformam, aceleradamente, em um monte de escombros tal e qual acontece com o institucional em todo o País e em todas as dimensões e poderes.
Há um silêncio incompreensível, por exemplo, no que diz respeito a mensalões. Expressão criada pela mídia para caracterizar a compra de parlamentares em função de interesses diretos em projetos do Executivo.
Não se fala nos maiores escândalos da história recente do País, todos no governo de Fernando Henrique. Desde as privatizações, até a compra de sua reeleição, um claro golpe branco.
Esta se aceitando, passivamente, o festival de falsa moralidade da chamada Suprema Corte e que deve levar lideranças do partido a situações, no mínimo, incômodas. Um dos seus principais líderes, o ex-ministro José Dirceu, manifesta temores de vir a ser preso. O lulismo não se defende. É estranho.
Um ministro do STF – Supremo Tribunal Federal – Gilmar Mendes, acusado de envolvimento em várias irregularidades, tem um seminário patrocinado por uma empresa privada do setor de saúde. Em nenhum momento o PT ou os governos de Lula e Dilma reagiram a essas constantes tentativas de demolir tanto o partido como o governo. No caso de Lula, clara tentativa de golpe branco.
Da repetição do que aconteceu com Collor de Mello, hoje senador e aliado do ex-presidente.
A voracidade com que a mídia de mercado se atira nos nacos de corrupção deixados pelo governo não é o mesmo com se atira aos corruptores (bancos, grandes conglomerados empresariais e latifúndio) e tampouco a reação do governo é a que se deve esperar ou de um governo limpo, ou de um governo de um partido de trabalhadores.
Onde ficam os trabalhadores?
A velha corda bamba já está esticada e nela caminham os trabalhadores no exercício diário de equilibrismo para a sobrevivência.
Os altos índices de endividamento. A perspectiva de explosão de bolhas imobiliárias no programa Minha Casa Minha Vida que levou prefeituras a construírem milhões de habitações populares através de empreiteiras, sem a menor preocupação com o "da porta para fora". Saúde, educação, transportes, integração às novas comunidades, enfim, todo um processo de conduzir os trabalhadores como gado tangido e moído na presunção que medidas eleitoreiras serão suficientes para garantir direitos, na prática iludir.
É a velha história. Não vão poder iludir por todo o tempo e colocarão o País de volta nas mãos da direita, hoje simbolizada, entre outros, pelo projeto neopentecostal de poder, uma espécie de Idade Média.
Seus líderes preconizam que a bíblia seja a nova constituição do País e estão prestes a eleger o prefeito da maior cidade brasileira. Celso Russomano. Insípido, inodoro e incolor em sua campanha, mas portando a "visão celestial", a "mensagem divina".
A perfeita sociedade do espetáculo.
Slavoj Zizek, em VIVENDO O FIM DOS TEMPOS, afirma – "os cinco capítulos deste livro se referem a essas cinco posturas. O capítulo 1, Negação, analisa os modos predominantes do obscurecimento ideológico, desde os últimos campeões de bilheteria de Hollywood até o falso (deslocado) apocaliptismo (obscurantismo da Nova Era e coisas do tipo). O capítulo 2, Raiva, examina os violentos protestos contra o sistema global, em especial a ascensão do fundamentalismo religioso. O capítulo 3, Barganha, trata da crítica da economia política, com um apelo à renovação desse ingrediente fundamental da teoria marxista. O capítulo 4, Depressão, descreve o impacto do colapso vindouro, principalmente seus aspectos menos conhecidos, como o surgimento de novas formas de patologia subjetiva (o sujeito pós-traumático). E, por fim, o capítulo 5, Aceitação, distingue os sinais de surgimento da subjetividade emancipatória e procura os germes de uma cultura comunista em suas diversas formas, inclusive nas utopias literárias e outras (desde a comunidade de camundongos de Kafka, até o coletivo de bizarros párias da série televisiva Heroes".
São os amontoados de trabalhadores em todo o mundo e que o governo Dilma Roussef reforça na construção lulista sobre pilares capitalistas, como se isso fosse possível.
Ou os incêndios em favelas paulistas para garantir aos especuladores imobiliários terrenos como Pinheirinhos, na explosão do capitalismo como hidra que devora com suas sete cabeças a perspectiva de uma nova realidade.
É a percepção que a luta é dolorosa e vai ter que ser lutada nas ruas.