Fago-o para sublinhar um facto pequeno, diminuto, mas cuja existência aponta a possibilidade de as cousas serem feitas de um jeito diferente e assim contribuir para umha transformaçom consciente e positiva do nosso país.
Tenho defendido nestas mesmas páginas a necessária reorientaçom da nau galega rumo ao mar aberto da lusofonia como referente principal frente à atual hispanodependência cultural. Nengumha novidade, portanto, em que volte a fazê-lo, mas desta vez com um exemplo prático.
Porque, para além das grandes teorias, dos grandes princípios que quase todo o mundo assume, é imprescindível poder mostrar provas de que essa reorientaçom é possível e mesmo fácil de implementar, desde que exista vontade real nos setores do nosso povo que devem protagonizá-la sem mais demora.
Foi com esse intuito que nasceu, há quase três anos, o Diário Liberdade [www.diarioliberdade.org], um jornal digital de caráter colaborativo que, segundo os seus princípios, pretendeu nom só criar um espaço para o galego na internet, mas também favorecer "umha perspetiva prática da unidade lingüística galego-luso-brasileira, assim como o incremento dos relacionamentos culturais e informativos da Galiza com os povos da área internacional lusófona".
Essas grandes palavras correspondem a um projeto pequeno, sem fins lucrativos, que desde fevereiro de 2010 vem atualizando-se diariamente graças ao trabalho de um grupo de pessoas galegas, portuguesas e brasileiras que colaboramos de maneira altruísta para tornar realidade esses princípios.
Com quase três anos transcorridos, estamos em condiçons de tirar algumhas conclusons sobre as potencialidades reais que umha orientaçom como essa oferece à Galiza atual, seguramente nom só no ámbito informativo em que o Diário Liberdade se desenvolve, mas noutros campos de intervençom social até hoje nom ensaiados.
Causava e ainda causa certa desesperança comprovarmos, por exemplo, como no Brasil quase ninguém conhece nem sequer a existência deste pequeno país chamado Galiza, enquanto inclusive em Portugal o desconhecimento é mesmo maior do que existe a norte do Minho em relaçom aos nossos irmaos do sul.
Sabemos que nengum dos governos que até agora os galegos e as galegas levamos padecido se tenhem preocupado praticamente nada por darem a conhecer internacionalmente a existência da Galiza, da nossa identidade e da nossa língua milenárias. Esse desleixo tem chegado ao extremo de esquecerem que somos o berço de um dos maiores e mais pujantes espaços lingüísticos do mundo, o que também esquece -ou desconhece- umha grande maioria do nosso povo.
Porém, nom chega com dirigirmos, como sempre, as críticas ao governo de serviço. A crítica deve tornar-se também autocrítica na hora de reconhecermos que mesmo o nacionalismo e parte do independentismo galego desprezam as grandes potencialidades que nos dá sermos irmaos e irmás de língua do vasto espaço lusófono.
Enfim, que o objetivo do Diário Liberdade era, é, levar às suas páginas essa preocupaçom, incrementando o relacionamento direto, sem intermediários, na língua comum, de matérias informativas entre alguns dos setores mais dinámicos da esquerda de cada um dos respetivos países.
Dos grandes princípios, passamos à realidade na sua dimensom internacional, sem por isso nos afastarmos um milímetro do ativismo informativo imediato referente a cada vila ou cidade da Galiza, Portugal, Brasil...
Apesar da enorme precariedade de meios, da nula ajuda ou estímulo institucional, das carências técnicas, materiais... ou precisamente por todo isso, o Diário Liberdade ocupa hoje um pequeno espaço como ponte no mundo alternativo entre o gigante Brasil e o vizinho Portugal, trazendo à Galiza algumhas das principaís fontes informativas das esquerdas desses países e dando-lhes a conhecer as luitas que se travam no nosso.
É satisfatório comprovar como sites informativos brasileiros e portugueses de referência, como Vermelho [www.vermelho.org.br], ou Esquerda [www.esquerda.net], para só citar dous bem conhecidos e muito visitados, começam pouco a pouco a falar da Galiza, ou mesmo utilizam o Diário Liberdade como fonte para reproduzirem ou elaborarem conteúdos que dam a conhecer a existência do nosso povo entre o seu público leitor.
Sirva esta promoçom gratuita do Diário Liberdade, com todas as suas carências, limitaçons e falhas, como exemplo do muito que poderá ser feito se novos coletivos e setores sociais galegos, inclusive instituiçons de caráter local ou nacional, derem um passo em frente na mesma direçom, em diferentes ámbitos e com as mais diversas orientaçons nos seus conteúdos.
De facto, nom está a acontecer já algo parecido, até de maior dimensom e transcendência, com experiências de diálogo e intercámbio galego-luso-brasileiro no mundo da música? Seguramente outros exemplos poderám ser apontados...
Nom é, afinal, tam difícil dar a conhecer que existimos e queremos viver como povo soberano, independente, em diálogo com todos os povos do mundo, a começar polos que partilham connosco um componente essencial do nosso ser coletivo, como é a língua.
Nom é, afinal, tam difícil situar a Galiza no mapa.
Maurício Castro
@fromgaliza