O único monarca castelám que levou o apelativo de Sábio, morto de inveja, quijo ter umha para ele. Eis as Cantigas de Santa Maria.
No entanto, em brigas com reis castelhanos perdemos as nossas roupagens e andamos despidos e despidas ao longo de centos de anos.
Felizmente, as nossas vestes fôrom usadas e espalhadas polo mundo inteiro.
Passárom anos, séculos. Coitados e coitadas, ao nos decidirmos a tapar as vergonhas de novo, nom recordávamos ter tido vestuário algum. Aquele surgido do nosso engenho e criatividade já nom nos parecia próprio.
Costumados a trabalhar de teceláns para Castela, tecemos traje esquisito: curto de mangas, longo de perna, cheio de remendos. Um mau farrapo à madrilena.
Com ele afogávamos de calor no Verao, morríamos de frio no Inverno. Esgaçava com facilidade e carecia de originalidade. Cospidinhos à língua espanhola, mas em feios.
Nom obstante, mais cedo do que tarde, descobrimos que, outrora, gastáramos fato de seda que nos assentava que nem umha luva. Logicamente, muitos e muitas de nós quigemos recuperá-lo, como quer qualquer pessoa recuperar seu casaco favorito extraviado, ou roubado, numha noite de esmorga.
Outros, preferírom dizer que já nom estava em voga, que esquecêssemos isso. Argumentavam que o novo trajo fora feito polo povo galego e nom fazia sentido recuperarmos o velho.
Porém, nós, com teimosia, sentíamos o recendo do nosso orgulho naquelas calças, a beleza da nossa identidade naquela chambra, a liberdade da nossa inteligência naqueles socos. Aquilo nem era velharia nem estrangeirice, éramos nós, o povo galego, utópicos alfaiates!