A derrota paraguaia deveu-se à aniquilação de seu campesinato, a grande singularidade daquela nação. Já forte na Colônia, ele expandira-se e consolidara-se durante o regime jacobinofrancista [18134-1840]. Os soldados que resistiram como leões à invasão o Paraguai, em 1865-70, eram camponeses defendendo suas chácaras da voracidade da ordem oligárquico-latifundiária.
Após a derrota, a reconstrução liberal-mercantil do Paraguai deu-se sob a hegemonia-competição dos partidos liberal e colorado. O primeiro foi formado sobretudo pelos proprietários refugiados desde os tempos do doutor Francia em Buenos Aires. Durante a guerra, eles integraram a Legión Paraguaya, tropa colaboracionista subordinada aos invasores. No geral, defendeu o liberalismo extremado e os interesses argentinos.
O Partido Colorado, autoritário e populista, foi fundado pelo general Bernardino Caballero [1839-1912], alto oficial paraguaio escapado à morte. Formado pelo que sobrara das classes dominantes lopiztas e apresentando-se como continuação nacional-popular da resistência, contou com apoio entre a população jamais alcançado pelos liberais, vistos como colaboracionistas serviçais.
Os colorados expressaram os interesses do Estado imperial e republicano brasileiro. Prisioneiro brevemente no Rio de Janeiro, Caballero estreitara os laços com o Império. Foi o ex-general lopizta que privatizaria, em 1885, as enormes terras públicas, após a guerra de 1865-70, quando presidente da República [1880-86], em golpe derradeiro nos camponeses, de fortes raízes guaranis, dizimados na resistência.
A longa ditadura colorada do general Alfredo Stroessner (1954-89) resgataria Solano López como herói nacional, enquanto reprimia a população rural e seguia entregando as terras do país ao latifúndio, sobretudo estrangeiro. Deposto em fevereiro de 18, morreu em exílio dourado no Brasil, apesar da carnificina com que mantivera a ordem ditatorial.
Após a queda controlada da ditadura, no contexto de população reprimida e desorganizada, o populismo conservador colorado continuou dominando a política, apoiado em métodos gangsteris, seguindo os liberais no seu jejum de poder.
Em de abril de 2008, após meio século de hegemonia colorada, vencia as eleição Fernando Lugo. Desde 2006, o “bispo dos pobres”, ligado à Teologia da Libertação e aposentado pela Igreja, militara na política, liderando partidos de oposição, centrais sindicais, movimentos sociais, etc. contra o continuísmo colorado.
Candidato pela Aliança Patriótica pela Mudança, Lugo superou de longe o segundo colocado. Durante a campanha, restringira seu programa à luta contra a “desigualdade social”, pela “reforma agrária”, contra a corrupção, por melhor preço para a eletricidade vendida ao Brasil. Impugnara luta por modificação estrutural e afastara-se das políticas de governos como o venezuelano, boliviano, etc. O vice-presidente – Federico Franco – pertencia ao Partido Liberal [Radical Autêntico], que via em Lugo meio de pôr fim, mesmo subalternizado, ao longo afastamento do poder.
No governo, Lugo deu as costas ao movimento social que lhe levara à presidência, empreendendo administração socialmente pífia, refém da maioria conservadora quase absoluta na Câmara e Senado. Foi assediado por denuncias de corrupção, de apoio a grupos armados, de vida sexual dissoluta, que procuravam transformar o movimento que o levara à presidência em um hiato histórico, e não em instrumento de construção de organização e autonomia do movimento social.
Ordem judicial de reintegração de latifúndio de dignitário colorado resultou em nebuloso confronto armado entre camponeses e policiais, com dezena de mortos e o presidente solidarizando-se com as forças repressivas, enquanto sem-terras eram perseguidos, presos e torturados. É difícil dizer se o confronto fez parte do plano do golpe ou foi apenas aproveitado para tal.
Com o julgamento galopante do impeachment procurou-se impedir a temida mobilização da população rural, caixinha de Pandora que a direita não quer abrir. A derrota do golpe através da galvanização de camponeses e sem-terras era também tudo que o governo brasileiro não queria.
Com pusilanimidade singular, Lugo submeteu-se disciplinadamente ao golpe, esforçando-se para desmobilizar qualquer resistência, sob a desculpa de impedir derramamento de sangue, que vertera sem dó em Ybyrá Pytá.
O novo presidente já sinalizou a forte repressão à luta pela terra, nesse país essencialmente agrícola.
Sem jamais sair das sombras, o governo Obama liquidou com o bispo vermelho efragilizou a Venezuela, Bolívia, Equador, etc., sem as dificuldades do golpe hondurenho de 2009. Conta agora com governo súcubo, bem juntinho da Argentina e do Brasil. Uma cenário escrita com a ajuda da política de flexibilização ao imperialismo do governo da senhora Dilma Rousseff.