Na centro da cidade de São Paulo, a maior do continente americano, na formosa Estaçom da Luz, há até um museu dedicado à nossa língua.
Com certeza, a capital paulista é um lugar muito acertado para que o português, nascido há mais de dez séculos no Reino da Galiza, tenha um espaço dedicado ao seu estudo e difussom. Hoje a cidade da garoa -do orvalho, diríamos nós- é a maior concentraçom de falantes de galego do mundo. De galego, sim, e nom falo errado, porque, que é o português brasileiro mais do que um belo galego tropical?
O Museu da Língua Portuguesa surpreende pola sua modernidade: ecráns, telas, computadores enchem um espaço junto com painéis e engenhosos jogos para brincar com a língua galego-portuguesa. É, sem dúvida, umha visita obrigada para qualquer turista da megalópole brasileira.
Porém, como as moedas, o museu tem duas faces. Apesar da grande satisfaçom que produz visitar um museu dedicado à língua que falas, que te identifica como indivíduo no mundo --especialmente quando vives num contexto de conflito lingüístico--, o visitante galego sentirá certo desassossego ao perceber a falta de rigorosidade no ponto dedicado a explicar a origem do idioma e ao comprovar a exclusom da Galiza como país lusófono.
No único painel de todo o museu em que aparece a Galiza, intitulado “O surgimento do galego-português”, um breve texto di “O norte da Península Ibérica estava dividido em vários reinos cristãos. No território hoje português, o reino portucalense comandou um forte movimento de expulsão dos árabes. Ali, falava-se o galego-português que deu origem à língua portuguesa. No século XIII, depois de muita luta, os árabes fôrom definitivamente expulsos e foram fixadas para sempre as fronteiras atuais de Portugal. “ A explicaçom é bem pobre. O Reino da Galiza, onde também era falado o galego-português, nom aparece por nengures, como se a língua fosse privativa do reino de “Portucale”. Aliás, desta perspetiva, o português seria a única língua romance que nom procederia diretamente da evoluçom do latim senom de um suposto patamar intermédio denominado “galego-português”. Facto inédito na románia.
Mais grave é depois afirmar que o galego-português dá lugar ao português medieval. Se o galego-português é o nome medieval da língua como pode dar lugar ao português medieval? Na explicaçom omite-se quando o galego-português deixa de sê-lo para se tornar português medieval. E, por certo, nom é explicado porque semelhante despautério nom tem explicaçom.
Eu gostaria que dixesse: “A língua portuguesa nasce no Reino da Galiza, no território da antiga província romana da Gallaecia, primeiro reino independente da Europa após a queda do Império Romano. Esta estrutura política, que será o berço da língua portuguesa, estava comandada por um pacto entre as elites galaico-romanas e o povo suevo. Posteriormente brigas entre os nobres galegos do norte e do sul dividirám o Reino da Galiza dando lugar ao Reino de Portugal. A Galiza acabará por ser castrada e dominada polos castelhanos e Portugal fará do galego a língua nacional do estado luso trocando-lhe o nome de galego polo de português.
Galego é o nome histórico da língua portuguesa como castelhano é o nome histórico da língua espanhola. Por ser a língua oficial do estado português hoje é conhecida no mundo só com esse nome. No entanto, geneticamente é mais preciso denominá-lo galego, como ainda é nomeada na Galiza. Combinando ambos os critérios podemos chamá-la de galego-português ou de portugalego, tal e como propom o lingüista brasileiro Marcos Bagno na sua recém editada Gramática do Português brasileiro, resgatando do esquecimento este termo cunhado polo filólogo português Manuel Rodrigues Lapa”.
Infelizmente, os principais responsáveis desta omissom somos nós, galegos e galegas, que como mais um sintoma de auto-ódio quigemos negar a história da Galiza e fazer da nossa língua o que nunca foi, umha ilha lingüística isolada do mundo.
Nós temos o leme, a rota também depende só de nós.