Com o governo da troika banalizou-se algo que já tinha começado a ser ensaiado pelos governos socialistas: a infiltração de agentes provocadores nas manifestações, nas reuniões dos "indignados" e de outros movimentos não enquadrados pelos sindicatos e partidos do regime; a inquirição pidesca dos promotores por manifestações e protestos, sejam eles sindicatos, partidos ou simples colectivos, sobre as suas motivações e o que pretendem fazer; a indiferença com que a comunicação social se refere ao uso da violência contra manifestantes e a naturalidade com que, à semelhança dos ministros e dos partidos que apoiam o governo, se faz porta-voz das polícias e continua a difundir as suas mentiras, mesmo quando estas são desmentidas pela generalidade dos que sofreram ou testemunharam as agressões e os tribunais dão como não provadas as versões da polícia. A este respeito foi esclarecedora a reacção da comunicação social à carga policial no Chiado: foram vários os manifestantes espancados e maltratados, mas a sua indignação circunscreveu-se aos dois jornalistas agredidos e centrou-se no mau profissionalismo da PSP e polícia de choque.
Em segundo, pela argumentação com que a porta-voz da PSP justificou a actuação prepotente da polícia. Agora já não estamos perante as habituais mentiras e "ajeitamento" de factos com que por norma se procura justificar os "deslizes", o "excessos de zelo" ou a forte "motivação dos senhores guardas". Agora o que vale é a arbitrariedade policiaca – segunda a porta-voz da PSP, as "forças da ordem" não tem que se justificar nem dar explicações, e duas pessoas já são uma manifestação (no tempo do Salazar eram preciso três).
Por último, a "distracção" dos funcionários da CGTP que nunca se esquecem de agradecer aos "camaradas polícias" o seu trabalho na manutenção da ordem durante as manifestações, como voltou a acontecer no último 1º de Maio, ou a ingenuidade de muitos dos "indignados" que em patéticos discursos frente à Assembleia da República fazem questão de lembrar aos polícias de choque presentes que também eles são explorados e mal pagos e que deviam estar "do nossos lado".
Este novo tipo de actuação policial é visível tanto nas greves gerais, nas manifestações dos indignados ou na repressão de pequenas acções e protestos realizados pelos que não são controlados pelos sindicatos ou os partidos do sistema, como nos discursos sobre os movimentos inorgânicos e o agudizar da crise social, a paranoia com a videovigilância, a necessidade de pagar melhor aos polícias (para os manter "motivados") e aumentar os seus efectivos. A estimulação da prepotência policial tem um alvo muito preciso – os trabalhadores, os dois terços de portugueses pobres, forçados a viver com menos de 600 euros, os desempregados e os precários, os que não se conformam e se revoltam.