Em uma pequena sala, reproduzindo uma típica casa basca dos anos 30, ouvimos uma senhora falar sobre seu dia através do sistema de som. Na nossa frente, um espelho, atrás, a reprodução fiel da casa. Acolhedora, simples, típica.
A senhora conta sobre seu dia, sua vida, seu medo pelos dias de guerra, seu temor pela vida de seus filhos, amigos e vizinhos e à medida que conversa conosco, ouvimos sirenes alertando para a aproximação de aviões. Um ataque aéreo é iminente.
Poucos segundos depois ouvimos as bombas, os gritos, o desespero. A sala fica escura, com flashes de luz enquanto os gritos de desespero ecoam. Momentos depois - impossível precisar, aprecia quase uma hora, mas provavelmente forma apenas alguns segundos - enquanto compartilhamos da agonia e desespero sentidos pelos bascos de Gernika naquele dia, ha 75 anos, as luzes começam a voltar, e no espelho na nossa frente, dupla-face, vemos os escombros deixados pelo bombardeio.
Uma casa destruída, brinquedos espalhados, roupas e móveis. Restos daquilo que antes era uma casa onde vivia uma família, provavelmente morta naquele momento. Sonhos desfeitos, vidas destruídas, uma comunidade destruída e, como sabemos, toda uma nação foi destruída, ou quase.
Saindo da sala, um caminho onde o chão, de vidro, deixava transparecer os escombros. Livros rasgados e queimados, itens pessoais, pedaços da história pessoal e coletiva dos bascos. Uma trilha por onde podíamos ver expostos uniformes dos Gudaris bascos, recordações familiares, cartazes e um pouco da história de um dos maiores crimes de guerra já cometidos.
A resistência dos bascos se mostrou mais forte que o garrote espanhol. Os bascos se apegaram a sua cultura e tradições e resistiram. Tanto através da guerrilha que durou ainda algum tempo depois da Guerra civil, quanto depois através da ETA, e, claro, também através da tenaz resistência cultural.
Hoje o Euskera cresce, os nacionalistas se fortalecem e a comunidade basca se mostra cada vez mais unida e forte contra o inimigo externo: a Espanha.
A 75 anos a Espanha de Franco mostrou, em sua aliança com Hitler, todo seu poder destrutivo, todo seu ódio às diferenças. Hoje, a mesma Espanha é governada por franquistas, do PP, e continua a atacar a cidadania basca. No próprio País Basco, o PSOE governa, de forma ilegítima, também com o uso de imensa repressão e criminalização dos movimentos bascos, mostrando que não tem grandes diferenças para os fascistas mais comuns.
Amanhã, porém, talvez seja o dia da independência. De lembrar do passado e usá-lo como combustível para a revolta e para a liberdade.
75 urte egun Gernika bonbardatu dutela...Gernika ez da inoiz ahaztu... Gernika gara. Gora Euskal Herria Askatuta!