A questão é que o machismo e o patriarcado estão radicalmente entranhados em nossa sociedade e na nossa rotina, pois é quando compreendemos qual lugar a mulher ocupa na sociedade e que secularmente foi construído que nós somos um gênero menor do que o masculino começamos a perceber a necessidade de políticas públicas reais para transformar essa desigualdade criada socialmente.
É inegável que hoje as mulheres tem destaque junto a sociedade, seja por protagonizar mobilizações importantes como as da Primavera Árabe, contra a austeridade na Europa, as mobilizações estudantis chilenas e os movimentos Occupy nos EUA. No Brasil mesmo ao tu veres os setores que estão em luta e mobilizados percebes que em sua maioria são compostos por mulheres, pretas, pobres e aguerridas, foi assim no Pinheirinho e é assim em diversas lutas pela terra e anticapitalistas que ocorrem em nosso país. Porém ao mesmo tempo que temos o protagonismo ativo das mulheres nos movimentos sociais brasileiros e mundiais. Temos o protagonismo nas lutas populares, mas também temos o processo de empoderamento de mulheres de forma individual, o FMI hoje é presidido por Christine Lagarde e é quem opera toda política de austeridade apresentada na Europa e que onera as mulheres trabalhadoras, assim como a própria Angela Merkel, chanceler da Alemanha.
No Brasil podemos até considerar mediações, mas as escolhas feitas pela presidente Dilma em seu primeiro ano de governo também a coloca distante gradativamente de honrar as mulheres como havia se comprometido, ano passado e já neste começo de 2012 vimos cortes de orçamento em setores essenciais para nós mulheres: Educação, Justiça, Saúde, Infra-estrutura das cidades. Todos setores que nos atingem diretamente, pois por mais que digam que nossas demandas sejam a cereja do bolo sabemos quando olhamos para o lado e vemos nossas vizinhas, irmãs, primas, mães e colegas de trabalho que o corte de orçamento da educação nos atinge diretamente, pois vai mexer na qualidade de ensino dos nossos filhos e também na disponibilidade de vagas nas escolas, a saúde vai continuar precária e não compreendendo a nossa diversidade e nos fazendo esperar meses por exames e atendimento clínico.
Continuaremos sofrendo com a falta de estrutura das defensorias públicas para atender os casos de violência machista sofridos por nós cotidianamente e com falta de investimento para relamente urbanizarem e colocarem em prática um reforma urbana séria, que não nos deixe a mercê dos alagamentos e deslizes de terra.
Infelizmente o que podemos constatar neste primeiro ano de governo de uma mulher em nosso país é de que empoderamento das mulheres sem estar casado com mobilização e luta social se volta contra as mulheres e contra a classe trabalhadora, pois além do reajuste irrisório de salário mínimo que temos acompanhado, os cortes no orçamento em áreas sociais importantes também vemos o governo federal cada vez mais escolhendo o lado de quem samba, vetaram o kit anti-homofobia nas escolas, tem recuado na Lei de Combate a Homofobia, não vão tomar posição quanto a legalização do aborto, pior! Nas Conferência de Política para as Mulheres o governo em conjunto com parte do movimento sindical ainda queria recuar no debate e não aprovar como plano de política para as mulheres a legalização do aborto, e logo no cair das cortinas de 2011 sanciona a MP 557 de cadastro de gravidez, baseada em um dos projetos de lei da bancada pró-vida mais combatidos depois do Estatuto do Nascituro. O governo federal com estas ações só mostra cada vez mais que não quer ser protagonista do combate efetivo ao machismo, homofobia e até mesmo do racismo, mas sim quer assegurar sua base aliada conservadora e de direita e se tiver que rifar as bandeiras do movimento feminista assim o fará!
Porém não é apenas o governo federal que opera política para perpetuar uma sociedade baseada na expropriação e na opressão social, os governos estaduais também o fazem quando retiram de suas terrar de forma truculenta as mulheres do Pinheirinho ou não tomam providência quando a marinha do Brasil ameaça as mulheres quilombolas do Rio dos Macacos, além da política de higienização tocada por Paes e Cabral no Rio de Janeiro. Todos governos que mantém a ordem e a opressão machista e racista em nossa sociedade.
É preciso realmente que se socialize o trabalho doméstico no nosso país, forçando que os locias de trabalho tenham creches de qualidade para mães e pais deixarem seus filhos, restaurantes públicos para que as mulheres não tenham de chegar em casa depois de uma longa jornada de trabalho e ainda cozinhar para o dia seguinte e lavanderias públicas para que todos sejam responsáveis pelos trabalhos de cuidado e reprodução e não apenas a mulher. Assim como é fundamental se lutar contra a reforma da previdência que hoje visa privatizar o que temos e vai onerar diretamente a nós mulheres, aumento real do salário mínimo, investimento real no combate a homofobia e violência machista no âmbito federal, estadual e municipal, pois estes governos são cúmplices dos altos índices de violência doméstica e feminicídio existentes hoje me nosso país.
Sobretudo precisamos olhar para o exemplo internacional, nós precisamos nos organizar, disputar ideologicamente a sociedade cotidianamente e não apenas nas datas do calendário feminista, precisamos estar nas ruas, nos locais de trabalho, universidades e ocupações disputando o por que um mundo diferente, socialista não tem como ter espaço para o machismo, racismo e homofobia. A luta das mulheres tende a ser mais complexa, pois é a disputa ideológica da sociedade como um todo, mas também de nossos companheiros homens que foram criados nesta cultural patriarcal. Porém se hoje vamos as ruas novamente é por que não desistimos e não desistiremos nunca de lutar, reivindicar, denunciar e disputar um programa político socialista, feminista, antirracista e antihomofóbico para a esquerda e para a classe trabalhadora.