Na Galiza fôrom assassinados escritores como Jaime Quintanilha, exilados pintores como Luís Seoane ou simplesmente deitados no caixote do lixo engenhosos projetos para as cidades galegas do arquiteto Palácios. A perda foi irreparável.
As culturas que vírom ameaçada mesmo a sua sobrevivência fôrom as que nunca ficaram desanuviadas polo centralismo uniformizador castelhano, quer dizer, as culturas galega, basca e catalá.
Porém, a cultura espanhola, ou de expressom castelhana se se preferir, também se viu duramente magoada como testemunha o assassínio de Lorca (sempre na lembrança do povo galego), o exílio de Alberti ou o cinema de Buñuel, que trocou de nacionalidade à força. Lembremos que um dos poucos filmes "espanhóis" de Buñuel, As Hurdes, terra sem pam, conseguiu o seu financiamento graças à generosidade anarquista. Ramón Acín, mestre de escola, prometera a seu amigo de Calanda o dinheiro preciso para a realizaçom de um novo projeto cinematográfico caso lhe tocasse a lotaria. Numha maré de sorte, Ramón comprou o número certo e, como bom revolucionário, cumpriu com a sua palavra. Todavia, a fúria falangista e o azar levárom este ímpar mecenas, como tantos sonhadores daquele tempo, a umha vala comum. O documentário, censurado na República espanhola por "antipatriota" e recuperado com a Frente Popular, deu poucos ganhos. No entanto, Buñuel nom esqueceu a bondade do mestre anarquista e deu os escassos lucros à viúva e aos filhos de Ramón.
Por seu turno, Buñuel, no ponto de mira da Guarda Civil, safou por pouco. Simpatizante do comunismo, foi enviado polo governo republicano a França para levar ao cabo labores de informaçom e propaganda. Seria ele o responsável de entregar os salvocondutos aos escritores antifascistas Hemingway e dos Passos. Durante a guerra, ao tomarem as tropas republicanas, apoiadas por Durruti, a cidade de Quinto, Mantecón, governador do Aragom e amigo do realizador, encontrou umha ficha nos papéis da benemérita na qual Luís Buñuel era descrito como um depravado perigoso autor daquele filme hediondo, crime de lesa-pátria, Terra sem pão. Foi assim como o cinema espanhol ficou órfao de pai e perdeu a oportunidade de estar no topo do cinema europeu de qualidade como o italiano, o francês, o russo ou o alemám.
Ao contrário que Lorca, íntimo amigo de Buñuel, o famoso cineasta nom tivo muita relaçom com o nosso país.
Num dos múltiplos e atraentes sebos com que conta a cidade do Rio de Janeiro dei com umha magnífica ediçom brasileira, em capas duras e com imagens inéditas, da autobiografia de Luís Buñuel, Meu último suspiro. Lá a Galiza nom surde mais que de esguelha representada pola admiraçom que o aragonês sentia polo dramaturgo galego Valle-Inclán, de quem se considera discípulo, e por umha famosa fotografia que segundo di o impressinou "a vida inteira" em que aparecem em frente à catedral de Compostela um grupo de eclesiásticos a fazerem a saudaçom fascista.
Contodo, há dous factos que gostaria de salientar por ligarem Buñuel à Galiza. Poucas pessoas assistírom a um dos seus últimos trabalhos franceses, A via láctea, um filme sobre as heresias da religiom cristá, protagonizada por dous peregrinos gauleses que se dirigem a Compostela. As imagens da capital galega abrem e encerram a obra que nos traz à tona o famoso ditado buñueliano "sou ateu graças a Deus".
Por último, nom podemos esquecer o pontual contato de Buñuel com o pai do cinema galego, o galeguista Carlos Velo. Velo, exilado no México como Buñuel, foi conselheiro de produçom de Nazarín, adaptaçom de um romance de Benito Pérez Galdós com o que o aragonês ganhou o festival de Cannes de 1959. Aliás, duas décadas antes, fora Velo, professor de entomologia, quem tinha fornecido a Buñuel as grandes formigas vermelhas que se mexem, como turbilhom, numha mao no primeiro filme surrealista da história da sétima arte, Um cam andaluz. Surpreendentemente, foi a biologia a escada que levou o celanovês a se envolver no cinema e a deixar umha marca indelével na cultura galega.