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Diego Bernal

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O ene agá de Bunhuel

Diego Bernal - Publicado: Terça, 24 Janeiro 2012 01:00

Diego Bernal

O franquismo nom supujo apenas um holocausto humano, com a desapariçom física de milhares de pessoas, senom também um holocausto cultural.


Na Galiza fôrom assassinados escritores como Jaime Quintanilha, exilados pintores como Luís Seoane ou simplesmente deitados no caixote do lixo engenhosos projetos para as cidades galegas do arquiteto Palácios. A perda foi irreparável.

As culturas que vírom ameaçada mesmo a sua sobrevivência fôrom as que nunca ficaram desanuviadas polo centralismo uniformizador castelhano, quer dizer, as culturas galega, basca e catalá.

Porém, a cultura espanhola, ou de expressom castelhana se se preferir, também se viu duramente magoada como testemunha o assassínio de Lorca (sempre na lembrança do povo galego), o exílio de Alberti ou o cinema de Buñuel, que trocou de nacionalidade à força. Lembremos que um dos poucos filmes "espanhóis" de Buñuel, As Hurdes, terra sem pam, conseguiu o seu financiamento graças à generosidade anarquista. Ramón Acín, mestre de escola, prometera a seu amigo de Calanda o dinheiro preciso para a realizaçom de um novo projeto cinematográfico caso lhe tocasse a lotaria. Numha maré de sorte, Ramón comprou o número certo e, como bom revolucionário, cumpriu com a sua palavra. Todavia, a fúria falangista e o azar levárom este ímpar mecenas, como tantos sonhadores daquele tempo, a umha vala comum. O documentário, censurado na República espanhola por "antipatriota" e recuperado com a Frente Popular, deu poucos ganhos. No entanto, Buñuel nom esqueceu a bondade do mestre anarquista e deu os escassos lucros à viúva e aos filhos de Ramón.

Por seu turno, Buñuel, no ponto de mira da Guarda Civil, safou por pouco. Simpatizante do comunismo, foi enviado polo governo republicano a França para levar ao cabo labores de informaçom e propaganda. Seria ele o responsável de entregar os salvocondutos aos escritores antifascistas Hemingway e dos Passos. Durante a guerra, ao tomarem as tropas republicanas, apoiadas por Durruti, a cidade de Quinto, Mantecón, governador do Aragom e amigo do realizador, encontrou umha ficha nos papéis da benemérita na qual Luís Buñuel era descrito como um depravado perigoso autor daquele filme hediondo, crime de lesa-pátria, Terra sem pão. Foi assim como o cinema espanhol ficou órfao de pai e perdeu a oportunidade de estar no topo do cinema europeu de qualidade como o italiano, o francês, o russo ou o alemám.

Ao contrário que Lorca, íntimo amigo de Buñuel, o famoso cineasta nom tivo muita relaçom com o nosso país.

Num dos múltiplos e atraentes sebos com que conta a cidade do Rio de Janeiro dei com umha magnífica ediçom brasileira, em capas duras e com imagens inéditas, da autobiografia de Luís Buñuel, Meu último suspiro. Lá a Galiza nom surde mais que de esguelha representada pola admiraçom que o aragonês sentia polo dramaturgo galego Valle-Inclán, de quem se considera discípulo, e por umha famosa fotografia que segundo di o impressinou "a vida inteira" em que aparecem em frente à catedral de Compostela um grupo de eclesiásticos a fazerem a saudaçom fascista.

Contodo, há dous factos que gostaria de salientar por ligarem Buñuel à Galiza. Poucas pessoas assistírom a um dos seus últimos trabalhos franceses, A via láctea, um filme sobre as heresias da religiom cristá, protagonizada por dous peregrinos gauleses que se dirigem a Compostela. As imagens da capital galega abrem e encerram a obra que nos traz à tona o famoso ditado buñueliano "sou ateu graças a Deus".

Por último, nom podemos esquecer o pontual contato de Buñuel com o pai do cinema galego, o galeguista Carlos Velo. Velo, exilado no México como Buñuel, foi conselheiro de produçom de Nazarín, adaptaçom de um romance de Benito Pérez Galdós com o que o aragonês ganhou o festival de Cannes de 1959. Aliás, duas décadas antes, fora Velo, professor de entomologia, quem tinha fornecido a Buñuel as grandes formigas vermelhas que se mexem, como turbilhom, numha mao no primeiro filme surrealista da história da sétima arte, Um cam andaluz. Surpreendentemente, foi a biologia a escada que levou o celanovês a se envolver no cinema e a deixar umha marca indelével na cultura galega.


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