Garzón responsável, para além das torturas, ilegalizações e prisões, por absurdos cerceamentos do direito à liberdade de expressão, é responsabilidade sua o fechamento do diário basco Egin ("Fazer") em 1998, que abriu também as portas para o fechamento - com a posterior tortura de toda sua direção - do diário Euskadunon Egunkaria ("Diário Basco").
Um juiz midiático, que levou até o máximo suas prerrogativas e autoridade e pode, em algum momento, ter ultrapassado o limite. Mas nada disso justifica o julgamento político que enfrenta. Garzón buscou julgar crimes franquistas, e foi repudiado por seus herdeiros, hoje no poder, do PP. Fundador do PP, o recém-morto Manuel Fraga, era franquista de carteirinha, assassino reconhecido e um grande canalha. E assim são boa parte dos membros daquele partido. Ladrões saudosistas de uma época de terror e mortes em que sua ideologia prevalecia sob o sangue dos demais.
Garzón é culpado de desafiar estes poderosos e tentar mostrá-los como são: Criminosos e genocidas.
O julgamento do juiz por ter usado escutas para buscar ir mais a fundo num dos maiores escândalos de corrupção envolvendo o PP na Espanha, o caso Gürtel - na verdade em Valência (Països Catalans) e na Espanha -, é patético, para dizer o mínimo. Mas não surpreende que esteja sendo levado a frente pela Inquisição Espanhola, a famigerada Audiência Nacional, um verdadeiro tribunal de torturas e de destruição de vidas.
Garzón é culpado de muitos crimes, mas não está sendo julgado por nenhum deles. Está sendo julgado por ter parado de fazer o joguinho esperado pela Espanha - o de perseguir minorias - e por ter ido longe demais na outra parte de seu trabalho, na de encarcerar genocidas, como Pinochet, e corruptos.
Nem todo seu trabalho era desprezível, mas sem dúvida esta era a parte onde ganhava aplausos de PSOE e PP. O resto era tolerado, afinal até os mais fiéis empregados do Estado tem direito a se divertir, até que resolveu mexer onde não devia e colocar o PP em uma situação desconfortável. Mas o PP venceu a eleição, e tem carta branca para perseguí-lo pelo desvio de conduta.
Garzón está sendo julgado por crime que não cometeu, por ter ido demais e estendido sua perseguição para além dos limites impostos pelos poderosos. Mas não é santo. Não é inocente. E nem pode ser tratado como alguém que não sabia onde suas ações iriam levar.
A solidariedade a Garzón deve ser dada com inúmeras restrições. Deve fazer alusão específica a esta perseguição em particular, e sem apagar seus crimes contra a sociedade basca, sua mania de perseguir a esquerda nacionalista basca e de aprovar/facilitar a tortura de seus membros.