Não nos importa um pentelho que vivas mal no teu subúrbio de merda. Agora, amigo, não há almoços grátis. Mentimos-te para que votasses em nós e agora estamos a cagar-nos para ti. Qual é o problema, pá? A democracia é assim: ou ganhamos ou ganhamos. E aqui para nós, dá graças pelo que tens. Não vales mais do que o que produzes. E se puderes produzir mais por menos dinheiro, melhor. Senão vais para o olho da rua e mandamos vir outro que o faça. Amigos, amigos, classes à parte.
O Ary dos Santos não está vivo para ver a cara dos filhos da puta que fecharam as portas que Abril abriu. São os vampiros que se passeiam entre os corredores dos ministérios e dos conselhos de administração de empresas e bancos. Mas esta espécie não tem medo da luz. Sugam-nos às claras e pedem mais sangue. Mais e mais sangue. Pisam-nos e não têm vergonha de ser capatazes. Comportam-se como os animais que vivem dos restos das presas de outros. Esmagam-nos sob as ordens dos predadores estrangeiros. São chacais de fato e gravata mas que não deixam de ser chacais.
E são educados? Ó se são educados! São tão educados que Portugal poderia ter o maior índice da Europa de presos licenciados se a justiça não fosse estrábica. Nunca vi um Oliveira e Costa ou um Dias Loureiro passar pelo fundo de uma agulha mas sei que é mais difícil um rico entrar numa prisão portuguesa do que no céu. São tão competentes no que fazem que é quase impossível provar que são culpados do que quer que seja. Amigo, a legalidade burguesa é isso mesmo, legalidade burguesa. Serve para espezinhar o pobre e para absolver o rico.
O Ary dos Santos faz muita falta. As suas palavras poderiam ser oxigénio e rastilho para a luta que se segue. Mas digo-o sem qualquer espécie de nostalgia porque esta geração, a que chamaram rasca e que não é senão a classe de todos os que são trabalhadores e vivem à rasca, tem um presente e um futuro a conquistar. Se muitos dos que abriram as portas de Abril já cá não estão, estão cá muitos outros para as voltar a abrir. E até pode ser noutro mês que o Ary não se chateia.