Contudo, o que nem sempre é perceptível - ao menos para os economistas arraigados à visão tradicional dos fenômenos econômicos - é que esse sistema é apenas (e tão somente) um subsistema de algo maior: o próprio meio ambiente. Desse modo, caso essa relação entre a economia e a natureza não seja dada sob as bases do equilíbrio, o caos (em outras palavras: a degradação da qualidade de vida) certamente se aproximará.
Intrinsecamente, essa celeuma passa por evidenciar algo factual: não se pode negar que o processo econômico (produção – consumo) impacta o meio físico, a natureza. Exceto a chuva e a neve, nada mais caem feitos do céu. Com isso, para a obtenção de bens e serviços não há outro caminho: é necessário extrair recursos em estado bruto da natureza.
O que as ciências econômicas, em especial, ainda não discute com a primazia que se espera dos cientistas sociais, é o custo ecológico decorrente desse ato de "retirar recursos naturais para a transformação em bens econômicos".
Infelizmente, as dimensões ecológicas do processo econômico têm passado distante das discussões dos economistas tidos como tradicionais. Inverter essa posição e fazer aflorar esse debate é o que de mais importante tem se inscrito, nos últimos tempos, em termos de se pensar uma nova forma de fazer economia e, ademais, lançar-se um novo jeito de lidar com a vida.
Nesse pormenor, nunca é demasiado comentar que o equilíbrio aqui mencionado entre a natureza e a economia é algo de extrema importância, para não dizer de necessidade vital. A necessidade, pois, desse contextualizado "equilíbrio" entre recursos econômicos e recursos naturais decorre, substancialmente, da conscientização de que essa relação de extração natural dispendida pela economia é pouco inteligente e muito agressiva, uma vez que envolve geração de resíduos, rejeitos e poluentes (tanto no ato da produção em si, como no descarte dos produtos após o uso). Logo, caso essa extração não seja realizada a contento (entenda-se em equilíbrio), isso apenas irá agravar e potencializar novos passivos ambientais. Nesse caso, pior será para todos uma vez que, na espaço nave Terra, todos somos passageiros.
Percebe-se assim que o propagado sistema econômico produtivo tem então uma capacidade ímpar em desequilibrar, na verdade, em poluir e degradar. Polui tanto na "entrada" (retirando recursos naturais) quanto na "saída" (no descarte). O outro nome disso é degradação ambiental; a morte, aos poucos, do ecossistema.
Enfatizando a Bioeconomia
Mas, como o Reino dos Céus é, felizmente, cercado de boas notícias, foi justamente a partir da evidência dessa relação nada amistosa e muito desequilibrada entre economia e natureza que em meados da década de 1960 surgiram as primeiras explicações técnicas que davam conta da imprescindível necessidade de mudar o rumo dessa história. Foi no calor dessas discussões que emergiu uma nova visão econômica envolvendo tanto a biologia quanto a física. E, ambas, por sinal, se "relacionavam", cada qual à sua maneira, com as teorias econômicas até então consolidadas. Aqui cumpre destacar a ideia em torno da BIOECONOMIA que alcançou, desde o início, forte proeminência, embora, ainda hoje, permaneça um tanto quanto "apagada" dentro da abordagem feita pela tradicional teoria econômica.
Deve-se entender a Bioeconomia como um conceito de desenvolvimento que pressupõe novas relações com o meio ambiente, com o planeta Terra em si e, em especial, com as pessoas. "A bioeconomia refere-se ao processo de captura da vida e à produção da própria vida no interior das regras do discurso econômico" diz com bastante clareza Federico Chicchi, sociólogo italiano.
Para o francês René Passet a bioeconomia é o "novo paradigma da economia". Passet argumenta que "a bioeconomia surgiu como conseqüência do alerta ecológico dos anos 1960/70, 'descobrindo' que o processo econômico é uma extensão da evolução biológica".
O objetivo precípuo da Bioeconomia, diz Passet, "é integrar as atividades econômicas nos sistemas naturais porque as leis da macroeconomia não se reduzem às da microeconomia". O interesse geral, nas palavras de Passet, "(...) é muito mais do que a soma das partes. Os mecanismos naturais (como o ar, a água) não têm que ver com as leis de mercado; por sinal, problemas com esses bens comuns e naturais transcendem a lógica das nações e dos mercados".
Dessa forma, na visão de Passet, com a qual estamos de pleno acordo, a economia (enquanto modelo de produção e consumo) situa-se além de si mesma e vislumbra, numa perspectiva mais ampliada, um novo modelo de desenvolvimento. Esse modelo de desenvolvimento pode, perfeitamente, se encaixar dentro dos pressupostos da Bioeconomia. Conquanto, para que esse modelo se efetive, sua natureza deve ser integradora, caso contrário, malogrará. Pontua-se, igualmente, para enfatizar-se em definitivo essa questão, que esse seria um modelo capaz de conciliar os interesses públicos e privados numa amplitude mais solidária, cuja abordagem faça ressoar o interesse amplo e geral.
Definitivamente, as pessoas, a natureza e a busca pelo desenvolvimento socioeconômico precisam caminhar conjuntamente. A ciência econômica, por ser classificada como ciências humanas, têm o dever de apontar para esse objetivo e enveredar esforços para essa realização. Só haverá verdadeiro desenvolvimento quando as pessoas, sem distinção de classe e/ou posição financeira, forem contempladas. De nada adianta ocorrer desenvolvimento das instituições, por exemplo, se essas não forem colocadas à disposição de todos. São as pessoas as únicas responsáveis por fazer funcionar a economia, as instituições e o próprio mercado, e é para elas que a economia (ciência e atividade produtiva) e a natureza (o meio ambiente) estão dispostas.