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Bruno Carvalho

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Contra-ataque

A guerra dos pobres e o terrorismo dos ricos

Bruno Carvalho - Publicado: Quarta, 12 Outubro 2011 16:20

Bruno Carvalho

Há uns anos atrás, os mesmos partidos que aprovaram os massacres contra as populações da ex-Jugoslávia, do Afeganistão, do Iraque e da Líbia revoltaram-se contra a presença da revista colombiana «Resistência» na Festa do «Avante!».


Durante uma semana, a imprensa prestou-se ao jogo sujo da direita portuguesa e o caso chegou às bancadas do parlamento com todas as baterias apontadas contra os comunistas. O objectivo era o de isolar e atacar o PCP como apoiante de organizações e acções terroristas.

O tema das FARC-EP regressou dois anos depois, em 2008, aquando da libertação de Ingrid Betancourt. PS, PSD e CDS propuseram um voto de congratulação pela ex-candidata presidencial colombiana que obteve o apoio de quase todos os partidos com assento parlamentar. A única excepção foi a do PCP que não quis colaborar num texto que não retratava a realidade da Colômbia. Os comunistas apresentaram, aliás, um texto alternativo que não só se congratulava com a libertação de Ingrid Betancourt mas que também condenava o terrorismo do Estado colombiano, em que se destacava o assassinato de sindicalistas. Obteve a aprovação dos Verdes e do BE e a rejeição dos «democratas» do PS, PSD e CDS.

«Falsos positivos»

Destes simpáticos partidos que nunca apoiaram o terrorismo, porque para eles a violência dos ricos é guerra e só a dos pobres é que é terrorismo, nunca ouviremos uma palavra que condene as razões que levam centenas de colombianos a abraçar a luta armada. Há mais de um ano, quando surgiram as primeiras informações sobre os «falsos positivos», não se ouviu a histeria escandalizada da direita portuguesa. A história que revoltou o martirizado povo colombiano e que indignou algumas organizações internacionais de direitos humanos não teve qualquer eco nos amantes da paz social. E não terá sido por distracção.

Jovens desempregados, toxicodependentes e delinquentes comuns começaram a desaparecer dos bairros de lata de Bogotá. Alguns familiares, denunciaram que alguém lhes tinha ligado a propor trabalho e que desapareceram no dia combinado para a entrevista. Meses depois, alguns desses jovens foram dados como mortos em combate ao serviço das FARC ou do ELN. Na verdade, a trama foi descoberta e o escândalo rebentou. O exército colombiano assassinou centenas de jovens, vestiu-os com o fardamento da guerrilha e apresentou-os como a prova de que o Estado estava a vencer a guerra.

Diomedes Meneses Carvajalino

Mas se aos que acusaram o PCP de apoiar o terrorismo não lhes importa o assassinato premeditado de centenas de jovens por parte do Estado colombiano como vão importar-se com Diomedes Meneses Carvajalino? Este é o nome do jovem guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional que descreve, no vídeo, a sua vida desde que foi alvejado por uma bala de fragmentação e detido pelo exército colombiano. Talvez ao PS, PSD e CDS pareça normal mas, nesse dia, para lhe arrancar informações, esfaquearam-lhe os dedos das mãos, um por um. Arrancaram-lhe as unhas dos dedos dos pés, uma por uma. Mas, porque não sabia mesmo ou porque teve a coragem e a dignidade de defender os seus camaradas, negou saber do seu paradeiro. Foi então que o soldado lhe arrancou um olho com a faca. De seguida, degolou-o.

Diomedes Meneses Carvajalino teria sido apenas mais um «terrorista» morto em combate e os soldados que o abateram heróis não fosse os médicos legistas terem descoberto que o guerrilheiro estava cataléptico mas vivo. Recusaram prosseguir a autópsia como queriam os membros do exército e ligaram para organizações de direitos humanos. Já no hospital, em estado grave, a polícia, através dos serviços secretos, e o exército tentaram assassina-lo. Foi a oposição de um guarda honesto, que mais tarde morreu em estranhas circunstâncias, que o impediu. Hoje, Diomedes, deliberadamente preso na ala de paramilitares de extrema-direita, debate-se para continuar vivo.

O jovem militante do ELN não se chama Ingrid Betancourt. Não recebe a atenção da imprensa mundial e, muito menos, vai ser alguma vez referido na Assembleia da República Portuguesa. Se fosse um membro do exército, da polícia ou da oligarquia colombiana e estivesse nas mãos da guerrilha, FARC ou ELN, teria toda a probabilidade de sair da selva com vida e saudável como Ingrid Betancourt ou como os agentes secretos norte-americanos. É que ao contrário dos verdadeiros terroristas, as FARC e o ELN não matam civis para os vestir de soldados. Não arrancam unhas e olhos. Já os amigos do PS, PSD e CDS...


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