O Valor Econômico trata dos "ajustes" na diplomacia brasileira, se delineando como mais pragmática, a partir de roteiros e declarações feitas pela presidente no exterior. Isso, na prática, tem significado claro: aproximação com as opções e determinações do Departamento de Estado americano, na lógica da defesa das "direitas humanas". Ou seja; rigor no tratamento com governos que ousem pensar de forma soberana, e absoluta leniência com os que cumprem o papel de sabujo, mesmo que estes possam ser muito mais cruéis, repressivos e atrasados do que aqueles.
Vem depois a informação sobre a irritação de lideranças sindicais com o endurecimento do Planalto em relação às greves de servidores de empresas ou bancos públicos. E quem estrila é a CUT, que se caracterizou pela absoluta subserviência às prioridades "pragmáticas" do governo Lula, porta de entrada para as concessões ao grande capital que vêm sendo implementadas pelo governo Dilma. E que agora entra enfraquecida no embate.
Foram oito anos de absoluta impotência governamental, que prometem sequência nos que se agora desenham com a sucessora, para a correção e inversão de rumos em uma política tributária e fiscal absolutamente conservadoras, e inteiramente submetidas aos interesses do grande capital - tanto o financeiro quanto o do agronegócio predador.
Seriam a CUT e o MST os agentes naturais do contraponto à Febraban e aos ruralistas. Mas qual o quê.
O silêncio e a conivência se impuseram, e continuamos apresentando uma das mais cruéis tabelas regressivas de tributação - onde o capital especulativo é isentado por conta da taxação da produção e do consumo, para além do arrocho sobre os salários - e uma das mais antissociais políticas agrárias que o mundo possa conhecer. Estão aí os índices isentos das instituições internacionais para justificar.
Tal contexto se construiu e se mantém consolidado porque, junto a ele, vieram as concessões assistencialistas do Bolsa-Família, Prouni (que salvou a inadimplência tributária criminosa das instituições de ensino superior privado), sobre as quais as lideranças sindicais oficialistas encontraram o veio para o apoio incondicional às demais políticas anti-povo do governo populista.
O que faz o governo atual para alterar essa cruel distribuição orçamentária, que se condiciona aos mais de 40% destinados aos serviços de uma dívida pública nunca auditada - a despeito de determinação estabelecida na Constituição de 88- ? Distribuição inaceitável quando se constata que desse Orçamento não mais que 4% são destinados à Saúde, e que apenas 2% vão para a Educação. Se depender do anunciado, nada. Pelo contrário; o que se garante é a manutenção de um criminoso superávit primário, destinado a transferir recursos do Tesouro para as burras dos banqueiros privados, em sua incessante especulação com títulos da dívida.
É bom que a CUT desperte, mesmo que timidamente. Mas melhor seria que, juntamente com o Partidos dos Trabalhadores - outrora combativo, hoje se tornando para-raio na defesa de uma inaceitável coligação partidária -, e o MST, atentasse para o que ocorre no mundo, e se tornasse vanguarda dos instrumentos sociais de pressão, num contraponto ao crescente poder do grande capital sobre as políticas públicas. E bom que o faça rapidamente, pois já está aí a Rede Globo se organizando, em debates privados - monocórdios na defesa do "livre mercado" -,através de campanhas anticorrupção calcadas na despolitização e na alienação em relação a ações políticas e partidárias progressistas.
Que o faça, organicamente, antes que o povo as imponha, com as limitações da inorganicidade, e sua consequente falta de resultados concretos, que terminem resultando em desmoralização e desencanto - campo ideal para o estabelecimento de retrocessos autoritários.