Violência machista tem sido tema recorrente de piadas e vem gerado a revolta não apenas do movimento feminista, mas de mulheres que não se reconhecem feministas, homens, LGBTs e tantos outros setores oprimidos nesta sociedade machista, racista e homofóbica. Parte considerável dos problemas incitados nos programas de televisão, principalmente referentes a violência machista poderiam ser resolvidos pelos nossos governos, há anos é denunciado a falta de capacitação de profissionais para acolher mulheres em situação de violência, da falta de investimento do poder público na articulação de uma rede efetiva de combate à violência contra mulher. Isso combate diretamente e concretamente a violência machista, para além do necessário enfrentamento simbólico aos que acham engraçadinho perpetuar a violência contra mulher em piadinhas.
Faz mais ou menos um mês que o sindicato dos metroviários de São Paulo tem pautado os problemas de violência contra mulheres no metrô da capital paulistana, são casos e mais casos de tentativa de estupros, abusos sexuais e violência em geral contra as mulheres acontecendo diariamente no subsolo de São Paulo, problemas basilares da sociedade capitalista e patriarcal que vivemos, mas também agudizados pelo processo de privatização do metrô, além obviamente da falta de trens nas linhas mais utilizadas pela população, ou será que esquecemos das cenas vistas quase todos os dias na estação Sé na hora do rush?
A falta de investimento no transporte público de São Paulo, a naturalização do machismo em nossa sociedade e a veiculação sábado após sábado de um quadro do programa Zorra Total da Rede Globo no qual uma das personagens, a Janete, é apalpada e abusada toda vez transforma as linhas de metrô em um barril de pólvora para as mulheres em geral.
Esta semana a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) enviou carta se solidarizando ao sindicato dos metroviários de São Paulo e apoiando a reivindicação feita à Rede Globo de suspensão do quadro, a medida do ponto de vista do simbólico é importante e acertada, mas há também de se aproveitar este momento de visibilidade das questões relacionadas ao metrô de São Paulo e pautar o que concretamente ajudaria a combater a violência sofrida por nós nos vagões não apenas de São Paulo, mas das demais linhas de metrô existentes no Brasil?
Acredito que é preciso reivindicar do governo estadual real investimento no transporte público de qualidade em nosso estado, pois nesta semana mesmo a linha 4 do metrô amanheceu parada, já não era liberada para a população no horário igual ao das outras linhas, já vinha envolta em diversos escândalos de licitação, incluindo o da sua privatização e o trágico buraco do metrô de Pinheiros. A escassez de trens nas linhas com maior circulação de pessoas também ajuda a agravar os casos de abusos sexuais, pois se não resolve a superlotação não resolve a questões dos abusos, pois grande parte destes ocorre quando o metrô está lotado. Assegurar vagões nos trens exclusivos para as mulheres. A capacitação dos profissionais do metrô para tratarem e acolherem as vítimas sem as culpabilizar, pois sabemos bem que em casos de abuso sexual o recorrente é a vítima ouvir que estava provocando o agressor por causa da roupa utilizada ou coisas do gênero.
O debate que se abre hoje pelo sindicato dos metroviários de São Paulo sobre a violência machista nos metrôs não deve ser debatido e combatido apenas no simbólico, mas também na realidade concreta e esta realidade nos mostra uma postura misógina por parte do governo tucano, assim como o total descaso com o transporte público, pois as duas coisas se entrelaçam. É responsabilidade do governo encontrar formas para nos proteger e investir nesta proteção e para isso a SPM deve se posicionar e cobrar o governo de São Paulo uma solução para este grave problema que não atinge apenas as mulheres, mas a todos.