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Bruno Carvalho

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Contra-ataque

Eu não sou bonito, não sou rico e não escrevo assim tão bem

Bruno Carvalho - Publicado: Segunda, 19 Setembro 2011 18:21

Bruno Carvalho

Portugal está à venda. Passos Coelho foi a Paris e, sorridente, explicou que gostaria que a França investisse no mercado nacional.


Isto é, que comprasse parte das empresas públicas que vão ser privatizadas. Também o Brasil mostrou o seu interesse. Sorridente, Lula da Silva, o homem que se orgulha de ter conseguido que o capitalismo funcionasse na pátria de Luís Carlos Prestes, destacou a possibilidade da compra da TAP. Os trabalhadores rejeitaram essa hipótese e foi o suficiente para que António Ribeiro Ferreira quisesse partir a espinha aos sindicatos.

Nesta fossa a céu aberto à beira-mar plantada, Paulo Macedo, o mercenário da saúde, antes administrador de um grupo privado ligado ao sector e agora ministro com essa pasta, nomeou um ex-gestor do BPN para estudar cortes no Serviço Nacional de Saúde. Exemplos de como este país perdeu a vergonha de apostar em corruptos e de apresenta-los como impolutos. Como nas autarquias. Com os anos, os sintomas foram-se agravando mas o bicho já lá estava. Avelino Ferreira Torres e Valentim Loureiro são da primeira geração. Suspeitos de colaboração com grupos bombistas de extrema-direita, fizeram escola ao longo de décadas em Marco de Canaveses e em Gondomar. Mas também há Isaltino Morais e Fátima Felgueiras para demonstrar que não é um problema de um partido mas de todos os partidos que representam os ricos de Portugal.

E a verdade é que ninguém se chateia muito. Ninguém se chateia com Dias Loureiro, Duarte Lima e José Oliveira e Costa, os protegidos de Cavaco Silva. Ninguém se chateia com Alberto João Jardim. Ninguém se chateia com os cursos acabados ao domingo. Ninguém se chateia com vedetas de futebol que financiam campanhas eleitorais a troco de favores. Ninguém se chateia com o primeiro-ministro que troca Lisboa por Bruxelas. Ninguém se chateia com o incompetente do Banco de Portugal que vai para o Banco Central Europeu. Ninguém se chateia com submarinos e com escândalos de pedofilia. Ninguém se chateia com aviões secretos que levam prisioneiros para campos de concentração. Ninguém se chateia com que a Leya destrua livros. E ninguém se chateia muito porque este é o nível moral do nosso país à entrada do século XXI.

Queixou-se, há dias, Cristiano Ronaldo de que os árbitros o perseguiam. A razão é simples: "Penso que por ser rico, bonito e um grande jogador as pessoas têm inveja de mim. Não encontro outra explicação", explicou o jogador do Real Madrid. Este é o herói dos nossos dias. E que nos levaram a querer ser podemos vê-lo todos os dias nos telejornais de duas horas, porque meia hora não chega para contar todo o ridículo em que nos transformaram. Desde a couve de dois metros ao voluntariado como forma de enfrentar a crise. Também podemo vê-lo nas telenovelas para adultos e para adolescentes. Nenhuma delas retrata o mundo dos adultos e o mundo dos adolescentes. Mas a grande novidade é a nova edição da Casa dos Segredos, um reality show, onde vi Cátia, uma concorrente, afirmar ser auxiliar de acção médica e rir-se enquanto descrevia o que se faz quando alguém morre. Ou a Nádia anunciar, sorridente, que traiu todos os seus namorados. Ou a Susana explicar a quantidade de silicone com que encheu os peitos. Curiosamente, há sempre alguém com pronúncia do interior para ser alvo de chacota. Um programa onde o papel da apresentadora é o de acirrar a intriga, a traição e a futilidade dos concorrentes.

Não me surpreende que os mestrados de gestão da Nova e da Católica estejam entre os melhores do mundo, para o Financial Times. Basta olhar à volta. O charlatanismo é um modo de vida para a maior parte dos gestores portugueses. A eficácia com que levam as empresas públicas à ruína para depois as levarem ao sucesso, quando privadas, assume contornos de casos de estudo. Nada mais se pode esperar desta sociedade em que vivemos. Os que nos dizem que é possível um capitalismo de rosto humano enganam-nos. Mais tarde ou mais cedo, o colapso do sistema económico terá de traduzir-se na construção de uma nova sociedade sobre as ruínas da anterior. Uma sociedade onde o culambismo, como lhe chamou o Miguel Esteves Cardoso, esteja ostracizado.


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