1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (6 Votos)
João Sousa

Clica na imagem para ver o perfil e outros textos do autor ou autora

Na Galiza para o Sul

Na Galiza, para o Sul

João Sousa - Publicado: Segunda, 15 Agosto 2011 02:00

João Sousa

Depois de desperta a curiosidade, dá lugar a aquisição de conhecimento.


Sendo o tema da Galiza um tema recorrentemente ignorado ou esquecida em Portugal, ou um tema facilmente deturpado, mal identificado ou catalogado, urge gerar uma consciência identitária e cultural, que desperte a curiosidade e gere conhecimento (tanto a nível das letras, da língua, da cultura e da política). Esta tarefa pode resultar num sério trabalho de consciencialização, que dê a conhecer as origens e direitos históricos galegos, a hegemonia que a sua língua implicou nas próprias fundações da diferentes coroas peninsulares, a situação política actual, os factos cumpridos pelo independentismo e os que se pretendem cumprir, as posições normativas e as reintegracionistas, etc. Logicamente, sabendo um pouco de tudo isto e vivendo por uns tempos em território "oficial" galego, passamos a saber quão urgente é este trabalho, já levado a cabo, nesse mesmo território galego. Antes de tudo, e na base desta realidade, está o lógico passado comum entre Galiza e Portugal – tema que faz parte inclusive dos programas de língua e literatura portuguesas no ensino básico e secundário, no que toca à origem da língua e à lírica galego-portuguesa.

Encaremos, porque assim o vejo, que a consciencialização em território português e o estabelecimento de contactos entre entidades portuguesas e galegas pode ser um importante passo para a divulgação e difusão das informações e actividades existentes; tanto para um despertar na vida portuguesa da existência das nossas origens e seu actual destino reprimido como para fazer entender aos galegos (nas escolas e nas ruas – gerações que perdem hoje e mais que nunca a sua língua e cultura) que o interesse que vem de fora perante o seu povo é mais uma razão parar perder a vergonha e o medo de ser galego. Esse receio vem da natureza centralista do Estado Espanhol – cuja informação que sobre a virtual nação espanhola e o seu futuro urgente se resume em: modernização, desenvolvimento e europeização (preconceitos, também, fantasmas para o povo português, complicam-se claramente numa entidade nacional que "oprime" outras tantas nações que acabam apagadas e desprezadas, caso não tenham um importância económica e indispensável ao estado capitalista que união europeia nos oferece).

Se vemos hoje, como gente interessada que podemos ser, a perca e degradação da cultura portuguesa frente ao europeísmo e globalização de natureza claramente capitalista, podemos imaginar o mesmo à escala galega, um povo reprimido, oprimido e falsamente governado por um Estado (feito de uma aglutinação de culturas formatadas por um estandarte que vem de uma evolução dum conceito claramente direitista), e um por um estado "autónomo" (supostamente galego) de direita, com interesses muito próprios que superam de longe a necessidade e urgência da reapropriação de um Estado Galego independente, com liberdade de escolha e um direito pleno a viver a sua cultura sem ignorância da mesma, sem medo, sem correntes.

Como português reconheço a ignorância ou as visões erróneas que temos desta situação – falando de forma muito geral. Está na altura de parar com as frases típicas e depreciativas como: "os galegos preferem ser portugueses que espanhóis" "o galego é uma língua derivada do português" "os galegos são espanhóis que por convivência estão mais perto de Portugal do que de Espanha". Em primeiro lugar, da perspectiva antropológica e histórica, é o português que teve o seu berço no norte da península ibérica – se houve um momento de separação das línguas não se deve à formação do condado portucalense e sua expansão para o sul, senão pelo momento em que a coroa castelhana se esquece de a língua "galego-portuguesa" foi também a sua língua de culto e artística e passa a reprimi-la e proibi-la em prol de um reino católico peninsular imperialista e centralista. Depois, há que ver que os galegos não pretendem ser espanhóis (embora muitos assim se sintam devido aos séculos de opressão e rejeição da informação que se vem difundido de várias maneiras por diversas vozes) ou portugueses – os galegos são galegos, têm uma cultura que apesar de oprimida sobreviveu nas aldeias, nas paróquias, nos concelhos e em algumas cidades; têm uma idiossincrasia; traços distintivos entre norte e sul; traços dialectais; gastronomia; música e teatro; filosofia; vida plena. O que reclama o independentismo é, em primeiro lugar, um estado soberano galego, em que se possa, livremente, viver e falar em galego sem medo ou vergonha do que é deles e tão importante como outra cultura do mundo; em segundo lugar, reintegrar territórios alienados, jogados às mãos de outras "autonomias" do estado espanhol, sofrendo também da desinformação habitual e de um sentimento nacional que não lhes pertence directamente.

Como português também reconheço que a falta de informação é tão evidente que apenas os ideólogos de direita (mais conservadoras principalmente) se identificam, ou apoiam, o nacionalismo galego – volto a sublinhar que falo de maneira superficial, existem excepções. É urgente fazer entender que o nacionalismo galego é, o que está livre e desprendido do Estado, de esquerdas por excelência. A conotação que damos, em quase toda a europa, às palavras "nacionalista" e "nacionalismo" não se aplica (ou não se deveria aplicar) ao caso galego – falamos de um movimento complexo que visa em primeiro lugar uma libertação e um direito soberano, uma oportunidade de criar uma sociedade livre de um opressor externo; ao contrário de um estado totalitário, ou liberal capitalista, etc.

A nível da língua, segundo minha observação e opinião, julgando partilhá-lo com tantos outros, sublinho a seguinte ideia: se há um momento de separação em que, nos planos sociais, o galego foi oprimido, roubado ao seu povo e às suas letras, e se o queremos recuperar e dar-lhe a soberania a que todas as línguas deveriam gozar como direito, não devemos voltar-nos ao castelhano para lhe dar vida. A língua portuguesa, como expressão lusófona que tem uma origem comum e que nasce do norte (território então do Reino da Galiza – partindo de um mesmo romance peninsular derivado do latim), evoluiu de uma maneira independente; desce ao sul; faz escolhas e adaptações lexicais de outras línguas e desenvolve-se, ao contrário da língua galega – submetida à proibição e, mesmo que tenha sobrevivido a nível familiar e campesino, sofreu "invasões" naturais do castelhano. Se se pretende recuperá-la podemos traçar linhas paralelas, colocar hipóteses de como poderia o galego ter evoluído se não tivesse sofrido esta repressão clara. Parece-me contrário e contraditório tomar a posição que hoje reina, como isolacionista, tomando escolhas normativas próximas castelhano, o que o torna (ao galego) paradoxalmente mais codificado.

Faço apenas um breve resumo de algumas ideias patentes na minha experiência com a realidade Galega. A mim custa-me imenso ver quanta desinformação existe, custa-me ver como a cultura que nos deu berço para a nossa hegemonia não tem direito à sua e morre de geração em geração (uma vez que pouco galego ouvi numa cidade como a Corunha, por exemplo), custa-me ver os argumentos que justificam, muito mal segundo a minha opinião, a proximidade que a norma galega tem ao castelhano, custa-me ver como a juventude maioritária perdeu o interesse pela sua língua e prefere grandemente o uso do castelhano por ser a língua que predomina na rua, nos jornais, na televisão, em tudo.

Acredito, claramente, que destes pequenos passos ajudamos a construir uma estrada em caminho à liberdade e sucesso. Acredito, também, que nos descobrimos a nós, portugueses, que agora estamos cada vez mais "comidos" pelos nossos passos europeístas e de certa forma também de auto-ódio e vergonha da nossa cultura; aprenderemos com esta luta e ganharemos, espero, força para construir um mundo de sociedades livres e justas.

Das relações que vão existindo entre portugueses e galegos, há que as alargar, expandir e criar novas, para que o independentismo galego seja conhecido pelos portugueses e unir esforços para recuperar a soberania cultural que a todos temos direito.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.