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Adriano Benayon

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Brasil de Pé

Tirania mundial

Adriano Benayon - Publicado: Quarta, 10 Agosto 2011 02:00

Adriano Benayon


Tirania é o nome adequado para designar o “governo mundial”, na direção do qual avança o império. No campo da informação e da comunicação, para alcançar seus objetivos, a oligarquia tirânica:

1) põe a mídia e formadores de opinião a distorcer os fatos ou a simplesmente mentir;

2) arrasa as culturas nacionais, bases da cultura universal, e destrói os valores que sustentam as civilizações; cria idéias falsas e injeta-as em massa nas mentes das pessoas.

2. Dessas idéias fazem parte ideologias, como:

1) a de que os mercados livres resultam em uso  eficiente dos recursos disponíveis e favorecem as economias locais e a economia internacional (liberalismo, monetarismo e outras);

2) a idéia de que os bancos podem ser controlados por donos e acionistas privados sem que os governos dos países não fiquem subordinados a eles;

3) a idéia de que a concentração financeira e econômica, uma vez constituída, pode ser controlada pelo Estado e não implica necessariamente:

a)  a destruição da concorrência nos mercados;

b) o não-desenvolvimento de formas de energia, modos de transporte,  tecnologias e produtos necessários ao bem-estar da sociedade, inclusive nos alimentos e no setor da saúde;

c) a supressão total de qualquer forma de democracia e de governo favorável à sociedade.

4) a idéia de que existe uma comunidade internacional.

3. Esta só teria como existir se as nações se autoderminassem e se interagissem em cooperação profícua para todas as partes envolvidas. Na realidade, não há nação alguma autodeterminada: as próprias sedes do império - Estados Unidos e Reino Unido (Inglaterra) - são dominadas pela oligarquia mundial, e as organizações “internacionais”, a começar pelas “Nações Unidas”, não passam de instrumentos a serviço da tirania globalista.

4. Desde o fim da 2ª Guerra Mundial, alem da contínua e sempre intensificada intervenção da mídia e dos formadores de opinião,  pré-pagos e pós-pagos, os países da periferia do império - notadamente o Brasil, em função de seus recursos naturais sem par - sofreram pressões político-militares, inclusive golpes de Estado, para enfraquecer e desarticular  o nacionalismo e o papel diretor do Estado na economia.

5. As campanhas ideológicas regidas pelo império associaram  o nacionalismo ao fascismo, ideologia que se apresentou como nacionalista, mas nunca foi senão instrumento dos concentradores financeiros mundiais.

6. Nas periferias também predominaram as ditaduras subordinadas ao império anglo-americano, mais submissas a este do que as fascistas européias, que fizeram o jogo do império, embora, na aparência, a ele hostis.

7. Atualmente, o Brasil precisa preservar-se como nação, pois esta está a ponto de se desintegrar, e isso seria desastroso para os que vivem no território nacional.  Não importa se o nome disso (preservar a Nação) é nacionalismo ou não: é o que tem que ser feito.

8. Deixo para artigos subseqüentes a exposição do que entendo deva ser feito. De pronto, interessa encarar o cenário mundial que se apresenta com brutalidade nunca antes verificada, tanto no campo econômico-financeiro como no das armas, cada vez mais letais e criminosamente empregadas pelas forças a serviço da tirania.

9. Povos vitimados: praticamente todos. Mais especialmente, por meio da destruição massiva das finanças: o grego e quase todos os outros. Através do genocídio por meios ditos militares: Líbia, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália, sem falar em muitos outros hostilizados por terroristas agentes do império, afora a subversão por ele financiada e armada.

10. A finança (bancos, fundos etc.) e a indústria de armamentos, ambas controladas pela tirania global, estão intimamente entrelaçadas. A primeira investe na segunda, que garante em favor daquela, o controle de vários países e a sobrevivência do dólar: é a pressão militar que faz que o grosso do comércio mundial seja realizado através dessa moeda hiperinflacionada.

11. Parte substancial dos déficits acumulados pelo Tesouro dos EUA decorre das crescentes despesas com a máquina de guerra. São cerca de US$ 800 bilhões anuais, ou seja, quase metade do déficit, previsto este ano em 1,7 trilhão. Só o massacre do Iraque já fez os EUA gastarem U$ 4 trilhões no interesse dos bancos, das transnacionais anglo-americanas do petróleo e de empreiteiras do império e de seus satélites europeus.

12. Do lado das receitas, se as pequenas e médias empresas não estivessem sufocadas pela falta de crédito e por juros altos, a produção teria crescido e a arrecadação tributária, muito maior, faria reduzir em muito esse déficit.

13. Por que falta de crédito e juros altos para atividades produtivas e geradoras de emprego, se os grandes bancos dos EUA podem captar dinheiro emitido pelo FED a juros de 0,25% e se, nem precisam disso, pois o FED e o Tesouro os encheram de dinheiro criado em computadores?

14. Por que isso, se esses bancos dispõem de reservas em excesso, de US$ 1,6 trilhão? Por que isso, se o Tesouro lhes deu trilhões de dólares, ao comprar, pelo valor de face, derivativos podres, i.e; títulos superpostos sobre outros que, na base da pilha, não podiam ser pagos pelos devedores e deveriam levar os bancos à falência.

15. O “governo” salvou-os desse modo, embora a crise, que ele dizia querer evitar com isso, proveio da criação irresponsável dos derivativos, com os quais os bancos obtiveram polpudos ganhos.

16. Entre as  incríveis benesses em favor dos bancos e à custa da economia, há mais uma, especialmente relevante: o FED está pagando juros aos bancos pelas reservas em excesso que eles ali depositam, as quais provêm de dinheiro emitido pelo próprio FED e do socorro provido pelo Tesouro.

17. Essas reservas passam de US$ 1,6 trilhão, das quais US$ 600 bilhões de agências de  bancos não-americanos nos EUA: entre os maiores, dois britânicos, dois suíços, um francês e um alemão.    O que não fica nessas reservas é aplicado em especulações, por exemplo, com commodities.

18. Prosseguem, assim, os efeitos do colapso financeiro, que despontou em 2007, já que o modo como os oligarcas determinaram os “governos” (inclusive europeus) a agir não eliminou as causas da crise de 2007/2008 e ainda produziu novos fatores de crise. É por isso que os analistas não-teleguiados pela tirania prevêem, para breve, uma crise ainda mais aguda do que aquela.

19. De um lado, ainda ficaram com os bancos enormes somas de derivativos, cada vez mais insolváveis, porquanto a economia real não foi recuperada (ao contrário, predomina a depressão em muitos países).

20. De outro lado, o colossal socorro aos bancos, com dinheiro público e com emissões desbragadas de mais dinheiro, produziu mais uma crise: a dos déficits e a da dívida pública, como a dos EUA.

21. Além disso, foram geradas crises na periferia européia com a depressão econômica nos EUA, no Japão e na maior parte dos países europeus, e também em função de jogadas de bancos, como o Goldman Sachs, que causaram aumentos nos juros das dívidas desses países, com a ajuda das agências de risco e fazendo hedge com essas dívidas.

22. Nos EUA o “governo” está tentando fazer duas coisas contraditórias: 1) evitar que o dólar deixe de ser a moeda das transações mundiais; 2) continuar inflacionando essa moeda. Ambas refletem o mesmo desejo: prosseguir valendo-se da mordomia que lhes proporciona cobrir os astronômicos gastos militares do império, além das loucuras em favor dos bancos e demais concentradores econômicos, simplesmente emitindo aquela moeda.

23. Nesse contexto está inserida a batalha político-demagógica entre “democratas” e “republicanos” sobre a elevação do teto de endividamento dos EUA. Se o Congresso não a autorizar, os EUA teriam de cessar os pagamentos da dívida federal (US$ 17 trilhões, sendo US$ 3 trilhões de títulos com o FED).

24. Isso detonaria o colapso do dólar. Para conseguir aquela autorização, o presidente “democrata” dos EUA propôs diminuir as despesas federais mediante brutais cortes nos gastos sociais, o que fará agravar ainda mais a depressão, a crise imobiliária, o desemprego e tudo mais. Ele parece pretender superar, em zelo castrador da economia, o “republicano” Hoover, que fez aprofundar a depressão após a crise financeira de 1929.

25. Os Estados, as cidades e os condados naquele país já se encontram em situação insustentável, proibidos que são de ter déficits orçamentários. Cerca de 100 cidades importantes estão prestes a entrar em posição falimentar, o que acontece também em estados importantes.

26. A nova fase do colapso financeiro mundial repercutirá no Brasil, cuja situação já é desfavorável, como demonstrei em artigo recente.

·         - Adriano Benayon, doutor em economia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha, é autor de Globalização versus Desenvolvimento.

Publicado em A Nova Democracia, nº 80, agosto de 2011


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