Um tapa à mesa. Foi isso que Lula fez ao conversar com Dilma Rousseff sobre a entrevista de Nelson Jobim. O que pouca gente sabe é que Jobim não é necessariamente indicação de Lula e nem foi para o governo Lula por vontade do presidente. Mas de José Dirceu, ex-deputado e ex-ministro chefe do Gabinete Civil.
À época do mensalão o ex-ministro foi favorecido em todas as decisões de Jobim no STF. E bem mais que isso, Jobim articulou junto a outros ministros a favor de Dirceu, como o fez junto a deputados federais quando se votou a cassação do mandato de José Dirceu.
O mensalão foi um blefe dos partidos de direita via Roberto Jeférson, a tentativa de transferir uma prática tucana, serviu para comprar a reeleição de FHC, ao governo Lula e abrir as portas para um pedido de impedimento. Vários líderes do DEM e do PSDB já admitiram publicamente que o objetivo era esse.
Se Dirceu tem alguma culpa ou não, isso é outra história, a Justiça vai decidir. Mas foi ele o padrinho de Jobim no governo Lula e continuou a ser no governo.
Jobim em si é uma figura arrogante, presunçoso, se acha o centro do universo depois de FHC, sem princípios, serve ao jogo político ao sabor de seus interesses pessoais e dos grupos que representa.
Só isso.
Moreira Franco era a aposta do PMDB para não forçar a ida de Michel Temer e evitar eventuais desgastes ao vice-presidente.
O que aconteceu foi simples. Lula deu um tranco no poste, a luz acendeu na marra e Celso Amorim acabou ministro da Defesa. O partido de Temer vai querer compensações por ter perdido uma pasta considerada importante.
Se os chefes militares estão contra a indicação de Amorim, sorte do Brasil e dos brasileiros. Sinal que a continência ao Pentágono vai ter que ser batida de forma disfarçada.
Na quarta-feira, véspera de sua escolha, Celso Amorim disse em Juiz de Fora, MG, no auditório da OAB local, que era hora do Brasil retirar suas tropas do Haiti, a missão já estava cumprida, não existiam mais razões para lá permanecer. Argumentou que o papel das tropas de paz das Nações Unidas era restabelecer a democracia e duas eleições já aconteceram desde a entrada de soldados estrangeiros no País.
Essa declaração, por si só, mostra que apesar de alguns ministros que ainda teimam em continuar no governo, um sacolejão costuma fazer o rádio tocar, o poste acender e assim por diante.
A reação dos chefes militares ainda que dissimulada, mas nem tanto, é descabida. Não têm que dar palpites em escolhas de ministros. Têm sim que abrir os baús da ditadura, mostrar as atrocidades cometidas àquela época e pedir desculpas aos brasileiros pelos incomensuráveis prejuízos causados à democracia, ao Brasil. Não se esconder atrás da lei da anistia, uma espécie de garantia de impunidade para torturadores.
Existem alguns que sequer podem sair do Brasil. São considerados autores de crimes contra a humanidade e seriam presos no exterior.
Quem aos porcos se mistura farelo come. O PMDB é um partido de feudos. Guarda quadros de valor e caráter, minoria, mas está dominado por grupos medonhos, basta citar a ressurreição de Moreira Franco e a tentativa de Michel Temer de impor o secretário nacional de Assuntos Estratégicos (cúmulo da esculhambação) para o lugar de Jobim. Quase consegue, o azar de Moreira foi estar na fronteira junto com Jobim, Temer e o tranco que Lula resolveu dar no poste.
Não sei se Amorim vai conseguir anular o acordo com a Colômbia, mas é necessário que o faça. Não se pode abrir mão de parte do território nacional para permitir a narco/traficantes disfarçados de policiais e militares (colombianos) agirem dentro do Brasil, abrindo portas em áreas estratégicas para os norte-americanos.
Pelo jeito novos trancos terão que ser dados para que o poste continue aceso, ou até que acenda de vez é perceba que caiu numa armadilha sem tamanho, conseqüência da dimensão política menor que se imaginava.
Um dos trancos é na própria Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos. É incompatível com um Ministério da Defesa chefiado por alguém do porte de Celso Amorim e diz respeito a questões de importância decisiva para o futuro de um País que é alvo da cobiça do mundo capitalista em processo de falência.
Projeto político era uma expressão que Lula, o gerador, usava em sua campanha presidencial de 2002. É hora de retomar alguma coisa nesse sentido. E assim o sendo, não há lugar para gente como Moreira Franco no governo, em governo algum.
Se for para malabarismos vai gerar conflitos perigosos para o processo democrático. É só olhar a reação dos quartéis. Nem Celso Amorim é homem – com seu porte de figura respeitada em todo o mundo – para ser usado em equilibrismos.
O curioso é que a reação ao tranco do gerador no poste partiu de militares brasileiros e do governo dos EUA.
Nos próprios quintais petistas houve alívio com a saída de Jobim.
Há um fato que nem Lula e nem Dilma (essa então!) perceberam. Os brasileiros desejam apenas que o País cumpra o seu destino e participação popular é o caminho. As instituições estão corroídas por gente como Gilmar Mendes, Moreira Franco, José Sarney e outros menores (o tal PR).
Acordos políticos são comuns e existem em todo o mundo. De quadrilhas também, mas entre quadrilhas. O esquema do PMDB que ocupa espaço no governo é quadrilha. E pior, quadrilha tucana.
Uma profunda mudança nas estruturas das forças armadas, por exemplo, é decisiva para que tomem consciência que são apenas forças armadas encarregadas da defesa do território e da soberania nacionais e não mães da “pátria amada”. O que fizeram no período da ditadura – e buscam desesperadamente manter escondido – deveria envergonhá-los.
O PMDB tomou um susto com o tranco que o gerador deu no poste e jogou Moreira Franco para um canto. Mandou que fosse chorar na cama que é lugar quente.
O papel de Jobim era avançar na escritura de transferência do Brasil para os EUA. O acordo com a Colômbia é isso. Um político esperto, traiçoeiro e arrogante como ele sabia desde o início que não ficaria no Ministério e provocou sua saída no momento que consumou seu crime, o acordo.
Só não contava que o nome que estava no bolso do colete dele e de Temer, Moreira Franco, fosse ser atropelado por uma luz que acendeu de repente por conta de uns sacolejões que o gerador entendeu que deveria dar, pois estava percebendo que a nau já sem rumo, começava a soçobrar. E dizem que farol é FHC.
Quem sabe o tranco mantém a luz acesa?
A escolha de Celso Amorim foi um pedido de socorro diante do quadro que se desenhava. Simples de entender. Não fosse isso não teria sido substituído no Ministério das Relações Exteriores. E se aceitou é porque dentro de Amorim, independente de críticas ou discordâncias, existe uma tal grandeza e um tamanho espírito de brasilidade, além de competência e seriedade que, neste momento podem fazer dele o avalista de um governo que ainda não achou a bússola.