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Ramiro Vidal

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A república do verbo

A apocalipse da cultura galega?

Ramiro Vidal - Publicado: Quarta, 06 Julho 2011 16:31

Ramiro Vidal Alvarinho

Aproximam-se tempos duros, ou isso dim; para a língua e a cultura galegas... tempos que farám, segundo alguns afirmam, sentir saudades do fraguismo. Evidentemente, o fraguismo nom era eterno, como nada é eterno na história. A obsessom pola permanência é um comum denominador, já nom de ideologias, regimes políticos e demais artilúgios de fabrico humano, mas inclusive dos próprios indivíduos humanos, acho eu.


Com efeito, nom era o fraguismo eterno, nem o é Fraga. Até nem o capitalismo é eterno, e mesmo pudemos aprender recentemente como o socialismo nom era irreversível. A história escreve-se com linhas tortas.

O nacionalismo galego maioritário, devindo em autonomismo radical, ensonhou-se tomando o poder (para nom o deixar) numha autonomia irreversível, estaçom termo na qual se veriam satisfeitas todas as aspiraçons desta sociedade que (mais por passiva que por ativa) conforma ainda umha naçom, ainda que essa naçom se veja reduzida a seqüências de lucidez coletiva no meio de um marasmo auto-destrutivo.

A intelectualidade que se move na órbita desse autonomismo pensou que a salvaçom da cultura galega estava na tomada dos espaços aos que a oligarquia galega (espanholista de necessidade e convicçom) renunciava por nom encontrá-los interessantes. Pensou que essa era a grande soluçom para a cultura galega, e também para ela própria. Com efeito, as instituiçons da autonomia galega tenhem o dever de defender a cultura, a língua e a identidade da Galiza... claro que esse dever é politicamente interpretável, e umha cousa é que na literalidade das leis apareça expressada essa obrigaçom e outra bem diferente é que a rançosa e reacionária burguesia galega entenda que isso se tenha que traduzir na sobrevivência de umha rede cultural que nom controlam e que nom é funcional para o seu projeto social.

O "tsunami" eleitoral provocado pola ascensom do PP no último processo autárquico, tomando o partido de Fraga o poder em concelhos com certa tradiçom "progressista", fai temer polo futuro de muitos projetos que som referenciais para o mundo cultural galego. O que mais em boca de tod@s está, é o caso da sala NASA. Todo o mundo di que detrás da sala NASA irám outros... e as olhadas apontam para a Gentalha do Pichel, centro social que já foi vítima do dedo acusatório-inquisitorial do entrante Presidente da Cámara Municipal compostelana e do papanatismo servil do derrotado bipartido.

Com efeito, ainda que estes dous espaços nom sejam o mesmo nem de longe, nem certamente para mim representem o mesmo, cumpre estar prevenid@s perante o ódio ideológico sem ambages cada vez expressado mais em voz alta polo ultra-espanholismo "pepeiro".

Quando a NASA já nom for viável, quando lhe cortarem as asas de maneira definitiva, quando as suas portas fecharem para sempre, a pergunta mais recorrente será "...e depois da NASA, quê?" Pois depois da NASA, se calhar o que toca e baixar da nuvem e pensar que a reconstruçom do nosso espaço de resistência terá que ser a partir da base. Que nom podemos esperar generosidades institucionais que nos permitam profissionalidades e negócios sustentados em equilíbrios artificiais. Que o começo do futuro está no presente, e que o presente está nos que construímos de baixo.

Levo três anos a construír a partir da base um espaço chamado Centro Social Gomes Gaioso. Com dificuldades e com um ou outro sonoro fracasso. Também com sucessos notáveis. Ainda que por cima de tudo deva colocar a verdade inquestionável de que cada dia que, passa sobrevivendo um espaço como o Centro Social Gomes Gaioso, é umha vitória contra o opressor. É mais um dia em que um grupo de pessoas viveu em galego; falou, leu e escreveu em galego; debateu, imaginou, jogou ou festejou em galego. Umha imensa vitória.

Organizar a resistência como ponto de partida para a vitória, ou para em caso de derrota, morrermos luitando. Umha bonita tarefa onde também há que ter claro que o cenário é rapidamente mutável. Porque, com efeito, conheceremos o final do Gaioso, do Pichel, da Artábria e do Lume, e do Aturuxo, e da Revolta, e da Esmorga... naturalmente que quanta maior referencialidade atingirem, mais intolerável será para o poder a sua existência. E depois da desapariçom desses espaços? Pois a adaptaçom às novas circunstáncias, com o referente como ferramenta, claro.

A energia nom se cria nem se destrói. Nós somos a energia da cultura galega, a sua militáncia real com o nosso trabalho voluntário e, da mesma maneira que nom inventamos nada abrindo centros sociais polo país adiante, o final desses centros sociais terá que abrir umha nova etapa. Quando um centro social se abre na Galiza, a memória da resistência do nosso povo em todas as suas expressons torna-se de algumha maneira presente: Os ateneus libertários, as irmandades da fala, a Cova Céltica, os sonhadores do Batalhom Literário, a Geraçom Nós... todas respostas coletivas a um contexto de agressom, ainda que evidentemente cada umha no seu momento histórico, com a sua orientaçom ideológica, e restants peculiaridades; que nom se colija daqui umha tentativa de casar o incasável, o que sim é certo é que foi a sociedade galega que produziu essas respostas.

Sejamos portanto o estrato essencial de resistência para esse ente vivo chamado cultura galega, para que continue a latejar, para que quando o povo nom puder resistir mais as suas cadeias, se esse dia chegar, tenha em que espelho se olhar, em quo código se descifrar, em que mapa achar o seu caminho.


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