Adaptando o nome para agradar aos turistas de expressão inglesa, os empresários portugueses assumiram a total renuncia à defesa da sua própria língua e cultura já, por si, tão maltratadas, em nome dos lucros económicos, naquela zona do país.
Agora, surge uma nova campanha. Desta vez no Alentejo, uma das regiões que tem resistido ao turismo de massas, lançou-se a abjecta ideia de se apelar aos espanhóis que conquistem o território. A imagem de marca do cartaz é a de uma bandeira espanhola em solo português sob o lema "Conquista el Alentejo". Este outdoor já chegou a várias pontos do Estado espanhol, entre os quais o País Basco.
Soube da notícia em Euskal Herria através de um amigo basco. Fiquei estupefacto quando vi a fotografia através do seu telemóvel e só pude sorrir quando observei que o outdoor fotografado tinha sido alterado com spray para Alentejo ez da Espania (o Alentejo não é Espanha). Afinal, quem melhor que os bascos sabe o que é a submissão das elites dominadas às elites dominantes?
Ligações perigosas
Em Portugal, boa parte do sistema económico e financeiro está sujeita aos interesses do Estado espanhol. Como tal, não admira que os representantes políticos das elites portuguesas assumam os interesses das elites espanholas como seus. As relações do ex-ministro e empresário Dias Loureiro – do governante Partido Social-Democrata - com José Maria Aznar e o seu genro Alejandro Agag são conhecidas. À mistura, existem suspeitas de fraudes e venda de armas.
Bem mais grave é a acusação lançada por Rogério Carvalho da Silva. O antigo membro da organização armada portuguesa Forças Populares 25 de Abril (FP-25), depois de preso, foi contratado para segurança da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa. Anos depois, um colaborador dos serviços secretos portugueses recruta-o para matar independentistas bascos.
Actualmente, preso por tráfico de droga, o português relatou em Maio ao jornal i que "foi acusado da morte de etarras em França num processo que também envolveu o comandante e o vice-comandante dos serviços secretos militares, o então chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general Lemos Ferreira, e o primeiro-ministro nessa altura, Aníbal Cavaco Silva".
Mas a teia da economia espanhola chega longe. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2008, 31 por cento das importações portuguesas de bens provinham do Estado espanhol. Portugal era, nesse ano, responsável por 8,7 por cento do total de exportações daquele Estado, antecedido somente pela França e pela Alemanha e, como se vê, à frente dos países sul-americanos, com uma presença histórica da economia espanhola.
Reconquistar Portugal
É esta a realidade de um país que tantas vezes viu a sua soberania nacional traída pelas suas próprias elites económicas e políticas. Seja, agora, ao serviço dos interesses das potências europeias e dos Estados Unidos, através da União Europeia, da NATO e do FMI, seja, como antes, ao serviço do Reinos de Castela e Espanha. Os tempos são outros mas cabe, como em 1383 e 1640, ao povo português derrotar a perda de independência económica, política e cultural. Mais do que o Alentejo, cabe-nos reconquistar todo o país e pô-lo ao serviço dos interesses dos trabalhadores, da justiça e do progresso social.